Por sermos dois
O mundo é todo nosso
Na virada da vida e depois,
Ainda depois, da vida e do ócio.
Sou a mão que te conduz
densa, disforme, pesada cruz
Sou a mulher que te afaga
na destemida dança, carrego
você e semeio tua criança.
Os cacos de vidro no chão
meus olhos de vidro vidrados/ te invadem
O jornal amassado pela casa em desordem
ordena que eu te condene:
meu homem, meu vício
desde o princípio
meu suco, meu sócio
nosso amor é isso
ossos do ofício
Tua pele é inquestionável
me basta, me move, devassa
O cheiro do tempero na mão é traiçoeiro -
a saudade é a voz sussurante do desespero...
Eu faço o jantar
Eu enfeito a mesa
Pra te deitar
pré-sobremesa...
Antes do sono, do caos, do tédio
Enquanto haja remédio
Que a leveza nos leve
que nosso amor finito se eleve.
meu homem, meu vício
desde o princípio
meu suco, meu sócio
nosso amor é isso
ossos do ofício
Somos dois na multidão
na polissêmia, no multi-verso
Na composição do meu intelecto
Você é todos os versos
Tudo tende a inconsistência
E nisso consiste a existência
E disso nos esquecemos na cama
na cozinha, na entrelinha, no torpor,
...me ama, meu amor.
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