Tudo que ele falava parecia açucar de confeiteiro. Tudo que ele falava parecia quebra-queixo - ia grudando, grudando, grudando e quanto mais ela tentava se desvencilhar, mais grudada acabava por ficar.
Era a voz dele, eram as palavras que ele escolhia quando falava, era o significado do que ele dizia, a intenção que ele tinha quando dizia, o jeito que ele abria a boca pra dizer as coisas, a retórica dele, a eloquência dele, o vocabulário dele...ele era uma coisa meio Sherazade, uma sedução total pela palavra, pela força da palavra...
Tudo que ele falava entrava como uma música, tudo ficava grudado como um refrão daquela canção favorita - ela dirigia pela cidade, ia pro trabalho, tomava banho e ficavam aquelas palavras ecoando na sua cabeça 'linda, você é linda, e nem sei como pode ser tão linear assim uma beleza só, como pode prôpor e aceitar e ser beleza, beleza mesmo...' - e parecia poesia, e ela poderia escrever um caderno de palavras dele, com as palavras dele sobre o engarrafamento, sobre o frio na cidade ou a epidemia de dengue, ela podia escrevê-lo, se ela tivesse as palavras dele, se ela falasse que nem ele...
Tudo que ele falava parecia mágica e a cabeça dela começava a imaginar as palavras dançando, e as cenas.. e dormia e acordava, e lia o dicionário, e escrevia aquelas palavras!
Ela queria ser seduzida por todas as palavras dele, só as dele, porque só as palavras dele eram melhores que os números dela - e ele sabia seduzir com as palavras. Só restava ela se entregar.. e ela adorava se entregar e ir se enxurrando de palavras: cabelo-sedoso; mãos-esguias; coxas-macias; olhos-expressão; lábios-delírio; pescoço-desejo...
Ela era a página e ele escrevia. Escrevia no branco. Ligava as pintinhas dela. Fazia palavras. Textos. E depois apagava, e depois se escrevia...
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