Quando eu tinha quinze anos, eu não beijava meu namorado depois que ele bebia cerveja - achava o sabor da cerveja na boca dele péssimo, e achava que o não-beber-cerveja tinha que ser um reflexo do (bom) caráter dele.
Quando eu cresci mais um pouco, achava péssimo quem fumava e um pouco julgava também o caráter da pessoa pelo comportamento dela com relação aquilo que eu (olhe quanta presunção, né) achava ruim.
Hoje em dia eu ainda tenho algumas ressalvas, obviamente (fico mais feliz se o cara estudar do que se for vagabundo, se ele tiver um objetivo do que se for sem perspectiva, se ele gostar de cultura do que se preferir modinha, etcts eternos)... Mas hoje, assistindo o maravilhoso (assistam!) filme chamado "Colcha de retalhos", me dei conta do quanto crescer e amadurecer é abrir mão desses pré-conceitos que vão incutindo na gente (na escola, nos valores morais SOCIAIS, na novela das oito da globo...)
Aí vem esse filme lindo-sensível-delicado, que tem como pano de fundo uma colcha que um grupo de senhorinhas está costurando e essa colcha tem um tema: "Aonde mora o amor". No decorrer do tempo que elas levam para costurar essa colcha, vão revisitando suas histórias de vida e (re)significando-as.
Falando do que interessa, o filme poderia se chamar 'Mulheres que correm com desejos...' e sabe o que é mais lírico? Não há clichê nos seus desejos, há medo, há escolha, há prisão e liberdade, dúvida e certeza, arrependimento, felicidade, dor, luto, traição (muita traição: de si mesmo e dos outros - e nem sempre por desamor...)
E é impressionante a (pouca) quantidade de palavras que precisa ser dita para que o desejo flua - com delicadeza, com singeleza, com amor [ por si, pelo outro, pelo entendimento de que aquele momento pode ser único/último ] - para que os encontros aconteçam, para que o que elas julgam precisar aconteça, para que a vida aconteça...
E mais uma vez vem a questão: viver o desejo que se tem ou postergar para o tempo de certeza? seguir o corpo, a carne, o coração, o desejo ou escutar as vozes da tranquilidade e da estabilidade? colocar em jogo algumas coisas para desfrutar o prazer de um momento ou perder o momento tentando proteger o restante? Quem sabe responder isso?
Ninguém sabe. E por não saber é que cada um se projeta nos caminhos da vida como pode, como consegue, com as armas que tem e cada um paga o preço que é cobrado: a amargura do marido que foi embora, o rancor da irmã que foi traída, o dessabor de um casamento que machuca, a ausência de quem se ama, os caminhos tortuosos da maternidade e do amadurecimento mas leva-se também a certeza de se ter vivido os desejos, de ter estado com quem se queria estar quando se quis estar, de ter experimentado o sabor que não se queria deixar passar...
E fica em mim a certeza de estar sempre me revisitando e revisando meus valores: Devo ouvir minha cabeça racional ou a minha pele? É impossível desejar duas pessoas ao mesmo tempo? Seremos mais felizes nos impondo a monogâmia por amor - ou seremos mais doloridos quando descobrirmos a poligamia de quem amamos?
Acho que crescer é perguntar, e ter certeza de que a resposta não existe.
Acho que costurar do jeito certo é saber contextualizar os retalhos - pois, afinal, todos são essenciais para a colcha.
E aonde mora o amor?
Eu ainda não sei!
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