- Oi Paula!
- Oi (...)
- O que é isso, você pintou as unhas?!
- Ah é, pintei... [olha pra cima, distraída]
- Desde quando você pinta as unhas? É por causa dele,né?
- Ih, que saco. Porque a gente tem que falar disso?
- Porque você tá mulherzinha. E não vai mais querer jogar vôlei com a gente na rua, em fim de tarde. Né? E nem tomar sorvete ou estudar pra a prova de matemática..
- Não tô mulherzinha [zangada]. Como você foi de prova hoje?
- Normal... Olha, eu vou jogar vôlei, viu? Fique aí de mulherzinha..
- Eu não sou mulherzinha. Ou sei lá, não sou só mulherzinha. Quero ser a mulherzinha dele só. Isso eu quero mesmo, ser a mulherzinha DELE. Com prova de matemática, com vôlei, com sorvete e suco de caju. Não dá pra tomar suco de caju e pintar a unha? Não dá pra jogar vôlei e arrumar o cabelo? Não dá pra estudar e ter namorado? Dá um tempo, Bel. Que saco. Tá uma droga você com isso viu...
- E porque esse mau humor Paula? Posso saber?
- Porque não adianta. Porque ele não me vê. Não me vê pensando nele, não me vê sendo inspirada e transformada por ele, não me vê tentando ajuda-lo naquelas equações loucas na monitoria, não me vê, sabe? Posso pintar a unha, colocar uma saia, assobiar no corredor...Acho até que plantar bananeira com melancia no pescoço...
- Bom, se as coisas inconquistáveis estão aí.. as conquistáveis também estão. Bora pro treino do vôlei? Você sabe né, mês que vem começa o campeonato inter-colegial...
- É né? Vamos. Vamos lá mostrar pra elas...
[E foram. Correndo pra a quadra. E não viram que sentado num muro, cercado por amigos, estava o Tiaguinho, o tal menino que 'não via' mas que via. E que como via, e que via tanto e tanto o potencial daquela menina, que sentia até medo de chegar perto dela...Ele viu ela correndo em direção da quadra, aquele cabelo ruivo e cacheado se sacolejando no vento...Linda. Sorriu. O dia dele tinha ficado mais alaranjado e mais feliz...]
"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida."
Vinícius de Moraes
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