Segunda-feira, 25 de Agosto de 2008

Estou indo até o fim com você. Quero ser diferente das mulheres que passaram pela tua vida e passaram. Quero estar passando. Sei que você gosta (ou não?) desses meus bilhetes na tua carteira, no teu pára-brisas grudadinho, no espelho do teu banheiro...

Eu tenho é que estar presente, me fazer presente, sabe? Pois é assim que sei escrever e ler histórias, com personagens e suas possibilidades de presença e ausência (simbólicas e reais!) Mas eu, eu quero estar com você, estar em você, fazendo parte de você e do seu jeito de ver tudo isso, não como um parasita que te suga, mas como uma prova da evolução darwinista, um preparo para o que o mundo exige para a preservação tua...

Eu amo o seu silêncio que grita brutalmente em confronto em confronto direto com a minha proliferação de palavras (inúteis, em absoluto) e odeio o seu silêncio que me impede de te conhecer a fundo, de entrar em contato. (E nada supera o amor do que amar o que irrita no amado e se irritar com o que se ama - lembre-se disso sempre, guarde como amuleto para todas as horas).

Eu amo esse teu jeito de me observar, parecendo um lince na savana, absorto em observação, esperando o espaço/tempo de dar o bote, com ambição e força, como quem deseja e necessita saciar a fome na carne do pobre cervo (que sou eu) que pasta despretensiosamente e distraído na relva, pastando pelo campo (numa clara metáfora de "caminhando pela vida") esperando algo acontecer, não sabendo exatamente o quê - e aí acontece, você se projeta em silêncio e me ataca até a alma, carne, sangue, seu, meu, nosso, tudo e não diz nada, ao mesmo tempo que diz: acredita.

Depois a gente dorme, acorda, vai pro trabalho, almoça, volta e você segue sempre me achando, em mosaico de vitral (transparente e refletivo), aos pedaços pela casa, em bilhetes de poesia, em  lembretes de compromissos ou em cartas que começam do nada e terminam em lugar nenhum (você sabe né?) - pois tudo isso sou eu, sou todas estas mulheres, a real, a prolixa, a quente, a racional, a amorosa, a lúcida, a carente...a tua, sempre a tua. A que te ama dormindo como uma criança (no sofá, de óculos, por cima do jornal), a que te admira enquanto você tenta objetivar o abstrato, a que te diz o que ninguém te diz de um jeito que mais ninguém sabe dizer, a que não sabe te seduzir...

E nós vamos sendo sem ser, dançando sem música, falando de menos ou amenidades demais, tomando mais vinho do que deveríamos, e nos comprossimamos e comprometemos em questões úteis e intelectuais de trabalhos emergentes para que só possamos nos amar no supérfluo -  que é o melhor tipo de amor que há pra se compartilhar, o amor da preguiça matinal, do sexo corrido e carnal, do cinema no domingo, da discussão sobe o preço do arroz ou a corrupção, das idéias do que fazer com o orçamento doméstico, de regar as plantas, do beijo acostumado e do baralho na varanda -  e não fazer deste amor a razão da nossa existência.

Trabalhamos em tudo, menos em nós juntos, o nosso romance está na entrelinha de um parágrafo chato no meio do texto (aquele que ninguém lê), poderíamos ser um livro cômico, uma peça dramática ou um filme de terror.. dependendo da hora, do assunto, do contexto...

 

Enfim, boa aula de doutorado querido. O jantar te espera no forno.

 

Rafaela.


música Adriana Calcanhotto - Onde andarás

publicado por Juliana Correia às 21:50 | link do post | comentar | favorito

1 comentário:
De piu a 26 de Agosto de 2008 às 00:02
ADOREI ju,
principalmente os detalhes dentro dos parenteses... e eu sou esperta, viu, eu entendi tudinho antes de ler o sgnificado dos simbolos hahahaha


beijo juh


Comentar post

mais sobre mim
Setembro 2010
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4

5
6
7
8
9
10
11

13
14
15
16
17
18

19
20
21
22
23
24
25

26
27
28
29
30


posts recentes

inferno astral

Descortinado

A arte do impossível.

Pouso.

Nanquim.

Brigitte Bardot

Sapatilhas.

Não é assim que a banda t...

Vulnerabilidade

História musicada auto-ex...

arquivos

Setembro 2010

Janeiro 2010

Julho 2009

Junho 2009

Maio 2009

Abril 2009

Março 2009

Fevereiro 2009

Dezembro 2008

Novembro 2008

Outubro 2008

Setembro 2008

Agosto 2008

Julho 2008

Junho 2008

Maio 2008

Abril 2008

Março 2008

Fevereiro 2008

Janeiro 2008

Dezembro 2007

Novembro 2007

Outubro 2007

Setembro 2007

Agosto 2007

Julho 2007

Junho 2007

Maio 2007

Abril 2007

Março 2007

Fevereiro 2007

links
blogs SAPO
subscrever feeds