A capa da Superinteressante de Janeiro de 2008 traz dois garotinhos e a seguinte chamada: "Personalidade ; porque você é assim?". Faço psicologia e obviamente a personalidade é uma das coisas que mais me fascinam, fui logo colocando a revista embaixo do braço e comprando. A matéria em si não é o que me interessa tratar aqui, mas apenas uma vertente já tão rotulada que virou clichê - mas que ninguém repensa o funcionamento da contramão do rótulo.
O estereótipo é da "bonita e burra", e faz todo sentido bem definido cientificamente - a menina que já nasce (gritantemente) bonita não precisa desenvolver mais nada para chamar atenção dos outros e nem trabalhar outro aspecto para ser admirada. Acho que isso acontece muito sim, mas nem toda menina bonita é burra. Escuto muito das minhas amigas (gritantemente) lindas que elas estão cansadas de serem tratadas como objetos que os meninos compram no mercado para mostrar aos outros. E com os sentimentos delas, ninguém se importa? E as vontades delas, são ignoradas? Só porque são bonitas não são humanamente carentes, como todos nós? (Veja que é um texto de exceção - nem toda menina bonita é burra, nem toda burra é bonita, nem todas tem esses pensamentos, certamente algumas devem adorar ser exibidas como produtos de prateleira de mercado - não estou generalizando em nenhum sentido.)
Eu nunca fui a mais bonita do berçário, da família, da sala na escola. Como todas as meninas do mundo, sempre tive a companhia daquela amiga que faz sucesso com os meninos e mina a (nossa) auto estima. Acho que daí desenvolvi a extroversão e o senso de humor - eu também tinha que ter algo legal para oferecer as pessoas, para cativa-las, e no fim das contas, é verdade: quem não tem cão, caça com gato e cada um faz o que pode pra se entender consigo mesmo. Os livros viraram meus amigos desde a alfabetização, e eu virei a menina gente fina do colégio! Você tem um problema? Fala com Juliana. Você quer uma indicação de programação, de livro, etc? Fala com Juliana. Demorei horrores pra arranjar namorado e pra me livrar do estigma de patinho feio (tá, não me livrei, mas melhorou muito com o tempo e com a terapia.)
Até hoje, meus amigos (homens) me apresentam por aí para outras pessoas como " uma das pessoas mais inteligentes que eu conheço" - confesso que isso as vezes irrita, também quero ouvir que meu cabelo é bonito, que meus olhos chamam atenção ou que sou cheirosa, mas também me satisfaço - pelo menos o que eu tenho não vai se desmanchar em rugas. As minhas amigas lindas, dispensam aprensetações, são as pessoas que se apresentam a elas, muito embora a principio o nome delas e o que elas fazem da vida não interesse de maneira alguma mais do que as pernas bem torneadas ou o cabelo sedoso delas.
Essa dualidade de ser olhada sempre pelo mesmo ângulo nos cansa de nós mesmos - quem quer ser sempre o mesmo? Todos vivemos seguindo o equilibrio corpo-mente-coração (ou a maioria de nós, segue). Minhas amigas lindas, possivelmente gostariam de ouvir que tem um coração generoso, sacadas inteligentes ou um dom nato para a liderança. Algumas delas, nunca foram amadas e compreendidas como humanas - e são sim essas pessoas lindas, além da lindeza exterior. Por outro lado, eu e minhas amigas gente-finas, também gostaríamos de ser enxergadas como mulheres - que além de fazer sorrir, discutir política ou ouvir problemas - desejam ser tratadas e desejadas como mulheres.
No fim das contas? A gente sempre fica insatisfeito com algo...
Blogs amigos