Não escolho o amor.
Se eu o escolhesse, talvez tivesse pré-requisitos básicos. Faria uma lista no caderno. Juraria solenemente não amar ninguém que acordasse cedo e sorrindo nos fims de semana e jamais me perderia pensando em alguém que disesse que Lula é um bom político ou que sabe governar o país ou que ele é inocente. Encabeçaria uma lista de pretensões do tipo "desejo alguém que" : já leu mais de vinte livros de autores úteis na MINHA concepção (êta ser humano egocêntrico..mas vamos lá: lispector, saramago, garcia marquez, neruda, etc ), ama o lirismo sutil de amarante e caetano, alguém que curta botecos, use all star sem lavar e deixe a barba crescer e ainda assim, apesar do aparente desleixo (charmoso..), alguém que me traga café na cama, me veja descabelada acordando e seja capaz de me achar linda e principalmente de me fazer sentir assim. Alguém que não resista a mim - sexualmente, intelectualmente, dialogicamente, dualmente. Alguém que compreendesse que essa minha carapuça de auto suficiência toda é puro medo de me entregar e me machucar e soubesse, portanto, lidar com ela - "não, claro que você não vai sozinha pra casa, nem vai pegar taxi nenhum";"oi amor, já chegou em casa?" e essas coisas casal-ecati que eu finjo que não gosto, mas acho lindo beeeem lá no fundo (porque eu também sou um pouco menina meiga, afinal..). Quem não acha que intriseco e acarretado ao gostar vem o cuidar, proteger, preocupar?!
Mas ainda bem que no amor as escolhas não se dão por esses motivos. Como disse Jabour não se ama um cabelo perfumado ou alguém que saiba cozinhar. Não sei o que se ama, mas me felciito com a incerteza de amar sem precisar saber pelo quê. Senão,para quantas pessoas maravilhosas e escancaradamente diferentes de nós, nos entregaríamos? E quantos sorrisos verdadeiros não teriam existido?
Mas o amor é uma loteria, não se explica, se sente e quando ele se coloca no coração, já era. Não importa a visão política, o time de futebol,se um gosta de sol e o outro de dormir, um ama a neve e o outro o mar, nada disso interessa, nada - porque mesmo quando ainda há racional que se importe o amor fecha os olhos e finge que não está vendo - mas calma, ele não é cego, é só como um autista vivendo uma imaginária e distante experiência (ir)real - e diversas vezes, apenas temporária.
Colocando os pés no chão, na condição de vítima-algoz do amor, eu só digo que quero alguém que me goste, me deseje muito e que me faça feliz, ou melhor, mais feliz do que triste - porque todo o resto, se eu achar que vale a pena eu tolero. (não sem uma chateação ou outra, né?)
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