Salvador, Setembro de 2007
Você deve estar se sentindo perdido ao abrir um envelope e deparar-se com (mais) uma carta minha. Cartas são coisas antiquadas, quase em desuso, mas são ainda a melhor maneira de eu te fazer saber o que se passa.
Cansei. Cruzei os braços em cima da mesa, sabe? Cheguei o mais próximo que pude da auto suficiência, da racionalidade, do ceticismo. Não acredito nem no que não acredito. Entende o absurdo? Cansei de renunciar e extirpar pessoas e sentimentos em busca desse tal equilíbrio que, veja só, não me alivia mais- pelo contrário, o que era preenchimento virou imenso vazio - ir, mas para aonde? Qual o objetivo da chegada? A proteção inerente e confortável da solidão-amarga ou os tropeços perigosos do amor-possivelmente-finito? Qual a minha ambição?
Estou em crise de abstinência. Abstinência de loucura. Sinto vontades loucas, ou vontade de ter vontades loucas -e, pior, de realiza-las! De me declarar, de acreditar que vai ser pra sempre, de pensar no vestido de noiva (!!!!!!!!) ou de esperar sim coisas bonitas. (Um pouco de exagero sempre cabe para se fazer compreender!)
Já apaguei e recomecei essa carta várias vezes, me sinto uma verdadeira inútil escrevendo essas coisas. Quero acordar e ter você do meu lado. Quero que isso me dê paz ao coração. Quero te ligar cem vezes e não me sentir racionalmente um porre-grudenta. Quero acreditar que posso contar com você. Quero a minha inocência perdida de volta, quando eu achava que o mundo era rosa e que as pessoas não machucavam, quando eu acreditava que se diziam "te amo" era porque amavam e não porque queriam levar para a cama ou qualquer outro tipo de relação de troca exposta em entrelinhas capciosas. Quero a felicidade de uma raposa cativada. Quero ouvir, quero ver, quero ir- com você. Quero largar tudo e ir para o mundo com você, meu bem. Quero deitar numa rede, ouvir a nossa música, e saber que aonde quer que você esteja você estará se sentindo do mesmo jeito. Quero abrir meu celular e encontrar uma mensagem tua.
Quero uma infinidade de coisas que eu desconhecia poder querer (ainda, de novo)- e mesmo nesse quero-quero, ainda quero que meu tão real cerébro retome as redéas desse meu irresponsável coração. (Eu gosto de segurança - talvez até mais do que de felicidade...ou talvez seja uma questão de costume, quem sabe?)
A indecisão mais precisa é essa - a de saber o que se quer, mas achar que deve se querer outra coisa.
Eu não sei, não sei ficar sem chão, não sei me entregar ao não saber, não sei estar estando sem saber qual é o caminho. Não sei lidar com o não saber de você, do que você pensa, do que você sente, do que você gosta, do que você espera, do que lhe desaponta. Não sei o que eu estou fazendo - mas é uma angústia compensada, é uma angústia que tem recompensa, é uma angústia finita. Eu ando com medo dos buracos, mas eu ando - e é primordial estar me contentando com isso. Mesmo sem saber não saber, eu não sei. E eu espero que você saiba, porque eu quero poder dar um descanso a minha cabeça e um trabalho ao meu coração - só para variar! (Mesmo que isso seja, dizer assumidamente que na minha loucura quero perder noites me revirando de ciúme doentio por não estar contigo só para ter certeza de que eu estou mesmo viva e sentindo algo forte e denso dentro de mim, na sua delícia e na sua dor. Leia isso de novo e sorria, foi irracional e foi pra você.)
O que você me diz?
Beijos Carinhosos,
Juliana
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