- Cadê o nosso cd de Metallica?
- Quando você diz nosso, se você disesse meu, implicaria na mesma coisa? Afinal, somos a mesma pessoa, no fim das contas.
- Que tipo de pergunta é essa? Não quero ser a mesma pessoa que você. Tenho vergonha de você. O que interessa é: cadê o cd?
- Não ouço mais Metallica. Me livrei do cd.
- O que você ouve agora? Não me diga que...
- Sim! Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Alceu Valença, Vínicius de Moraes, Maria Bethânia...
- Aquelas baboseiras que nossa mãe ouve?
- Não são baboseiras sabe? São coisas muito bonitas.
- Me dão vontade de dormir! Detesto andar de carro com ela ouvindo aquelas músicas de velho!
- O que você veio fazer aqui?
- Vim ver no que eu me tornei. Mas já tô quase arrependida! Um belo monte de vestidos?! Cds de Los Hermanos?! Estante com livros de psicologia?! Só falta você me dizer que agora você vai a missa todos os domingos...ou que você virou a maior vadia e está pegando geral. De ambas as suas considerações radicais eu vou sentir vergonha e humilhação.
- Se você veio aqui com essa resmunguisse para me ofender, está perdendo tempo. Eu simplesmente entendo que você tá só começando, que as coisas ainda não deram errado pra você, você nem começou a namorar, amar... Mas não, não vou a missas e não pego geral. Continuo levando muito a sério esse lance de sentimento. Ainda continuo essa menina que é você...Mas já não cabe andar com minhas roupas do rock, você concorda? Foi uma fase. Passou! Assim como cd de Metallica passou, aquela escrita cheia de X passou...
- Você virou uma velha!
- Eu fiz uma tatuagem.
- Sério? O quê? Eu quero muito escrever "nothing else matters" no meu pé. Eu vou entrar na igreja ao som dessa música!
- Eu fiz um símbolo hindu que transmite coisas boas. E você não vai entrar na igreja, porque eu não pretendo casar.
- Até a sua tatuagem é de velha! Não vou casar? Eu quero casar. Você sabe que sou uma romântica!
- Eu também.
E encostada na porta, com um sorriso terno e paciente, a Juliana de sessenta anos nos sorri, para as suas Julianas de treze e (quase) dezenove anos conversando na sala. Vejo nos seus olhos o saudosismo de suas "vidas passadas" e as certezas que ela encontrou no caminho.
- Venham, venham tomar um chá....Vocês ainda não sabem o que vão enfrentar nesta vida!
(GENTE, a idéia é um plágio deeeescarado do último texto de Antônio Prata na Capricho.)
Blogs amigos