Domingo, 28 de Dezembro de 2008

Dá pra ler fora de sequência; dá pra ler só o que interessa ; dá pra ler aos pouquinhos ou dá pra não ler necas! ;]

 

 

 

 

** Este post podia se chamar Primavera-verão em mim, também.

 

** No lugar do costumeiro sarcamo, da incessante ironia e humor ácido de sempre: eu ando vestindo ternura. Vestidos de delicadeza. Blusas com camadas de sutileza. Maxi-óculos com lentes de doçura e muitos acessórios de fofura!

 

** Eu me sinto o tempo inteiro contemplando um delicioso pôr-do-sol. Naquela areia fofa. Só com o olhar contemplativo mesmo. Achando o mundo uma coisa linda. (mas sem ingenuidade, que essa eu já perdi há tempo demais, não sei se sobra algo que algum gancho possa resgatar...).

 

** Eu me sinto com vontade de vestidinhos curtos. Vestidinhos rodados. Vestidos compridos. Estampas fofoluchas. Rasteirinhas com detalhes. Sapatilhas. Presilhas de coração. Acessórios. Nhém-nhém. Não por futilidade, acho que é o desejo primaveril de feminilidade. Como se a delicadeza que se passa aqui por dentro precisasse ser exalada para fora, precisasse virar um signo possível de ser lido.

 

** Uma vontade por dentro, uma urgência de dirigir pela orla, de óculos escuros, com aquele mar lindo ouvindo músicas alegres, músicas de férias, músicas tão primavera-verão quanto eu: beatles, mallu magalhães, jhony cash, um blues da neologia, umas músicas próprias da quarteto de cinco e da pirigulino babilake. um pouquinho de cazuza.e um pouquinho de marcelo camelo. e mais um pouco de little joy. com vidros abertos, por favor.

 

** Coração batendo urgente: eu preciso de um amor com cheiro de margarida. E gosto de brisa do mar. E silêncio. E mão na mão. E risada. E um bocado de palavras. Uma poesiazinha, mais pra os versos do Drummond do que do Augusto dos Anjos. Com mais sabor de Vinicius de Moraes do que refinamento de Paulo Leminski.

 

** O Bruno Garcia é lindo. O Wagner Moura também. E o Mark Ruffalo. O Rodrigo Amarante. O Marcelo Camelo. O Colin Firth. O Cliwe Owen. E chega.

 

** -> Tudo isso, todo esse coração colocado em pequenas pilulas de texto, é tudo culpa do livro e do blog (www.parafrancisco.blogspot.com) Para Francisco,. Eu estou apaixonada por eles, pela história deles, pela garra da Cristiana e pela amorosidade que sai das folhas do livro ou da tela do computador. É singelamente lindo. Primoroso. E eu choro litros lendo esse livro. E a minha sensibilidade fica a flor da pele. E aí eu preciso escrever estas coisas.

 

** Que bom que é conseguir respeitar essa necessidade de dizer alguma coisa. Podem me achar ridicula. Tudo bem.

 

 

 

 

 

 


música Mallu Magalhães e Marcelo Camelo - Janta

publicado por Juliana Correia às 03:50 | link do post | comentar | favorito

Sábado, 27 de Dezembro de 2008
"Amor, então também acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
Que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima."
 
 
Paulo Leminski.


publicado por Juliana Correia às 04:12 | link do post | comentar | favorito

Terça-feira, 9 de Dezembro de 2008

   "Eu não te amo mais". Som de porta batendo. Som de sapato roçando o piso de madeira. A luz do corredor apagando. Barulho de elevador. O resto só barulhos e luzes da minha imaginação. Podia ver sinais de trânsito: verdes, amarelos, vermelhos. Carros cortando a cidade, correndo em alguma direção, pra cumprir algum horário, por qualquer motivo que lhes bastasse, qualquer que fosse. Eu continuava tão imóvel naquele sofá, os olhos muito fechados, numa tentativa de colá-los para que não precisassem abrir pois eu tinha medo de abri-los e chorar a minha alma pra fora, e depois ver o dia clarear lá fora e a minha alma toda se evaporando, perdida para sempre, entre aquele céu azul que não parecia entender nada de dor, mas que ia enxugar a dor molhada da minha alma, parada, parada, parada porque eu também tinha medo de me mecher e quebrar, como aqueles vasos que quando rompem em alguma parte da cerâmica, simultaneamente se vêem por completo abertos, sendo a primeira rachadura apenas a gota inicial para que o rio coresse inteiro, abrindo todos os cantos, todos os poros, escancarando a porcelana inteira de baixa-qualidade, toda esfacelada. Eu estava fraca.

     Fazia força pra esquecer as suas palavras. Pensava nos carros atravessando o sinal verde, certos de sua liberação para seguir em frente, confiantes da ausência de entraves na sua rota, apressados ou felizes por estarem indo pra algum lugar (tão aleatório) fazer algo tão superfluo, agradecidos por terem seu tempo ocupado e não precisarem se debruçar sobre a dor do corte, sobre as ondas da represa derrubando a parede e invadindo tudo, tudo, tudo...

     Vomitei. Tussi. Levantei a cabeça para vomitar com mais dignidade. Olhei para o chão e para o sofá melados e tive vontade de xingar. Puta que pariu. Caralho. Me senti tão humana. Me senti tão diluída e porosa. Me dei conta de que não havia como contornar - de alguma forma, qualquer que fosse, aquilo tudo que me compunha por dentro iria sair. Respirei fundo. Alguma coisa prática na minha cabeça (e amarga na minha boca) me mandava levantar, me lavar, pegar um pano e organizar a bagunça. Um lado de mim gargalhava enlouquecido: e que água vai tirar este gosto amargo? e me diga, que pano úmido é capaz de consertar esta bagunça, de extirpar este odor infindável de morte? que figura de linguagem, que palavra, que solução existe para esta metáfora que é o meu vômito inexpressivo aí? Um outro lado tentava ser razóavel e não conseguia: "ódio, ok. mas preciso ser útil, ajeitar isso, vai ficar azedo.. azedo? não, amarga. ah, não eu. o sofá! ódio? eu pensei ódio? isso não é ódio, se fosse ódio os cacos não seriam de mim, seriam dos objetos...o que é isso? o que eu faço com isso? o que eu faço comigo? e com o sofá?"

       Me ergui, nem sei como. Respirei fundo. Caminhei lentamente até o banheiro, lavei minha boca e meu rosto de qualquer jeito, evitando o espelho, evitando a moldura dourada e vitoriana que jamais serviria para emoldurar o craquelê que era eu. Pensei em tomar um whisky, mas resisti. Eu simplesmente não sabia o que fazer comigo ou de mim. Não estava nem cheia e nem vazia. Entrei no box e me sentei embaixo do chuveiro - e nada. Abracei meus joelhos e pensei em quando eu era criança...Abracei os joelhos e solucei. Silêncio entrecortado pelos meus soluços que me traziam para a realidade, cada vez mais altos, cada vez mais desesperados. Quando me dei conta, o dia já amanhecia.

      Levantei de novo. Tirei a blusa de tricô vermelha, puxei a calça jeans de qualquer jeito, tentando me equilibrar. Liguei o chuveiro, organizei-o para que ficasse o mais gelado possível, o cheiro azedo do meu vômito ia invadindo a casa no lugar do cheiro doce do teu perfume e o cheiro amargo do meu coração esvaziando veneno nas minhas veias também se fez mais forte. Soltei os cabelos e me sentei embaixo daquela água. Tremi da cabeça aos pés quando a água encontrou a minha pele, as entranhas se sacudiam enjoadas e os olhos começaram a falar, pingavam gotas, gotas enormes, que o ralo engolia, que me sorviam a pele, ora gotas da água encanada, ora gotas das lágrimas desenganadas - o piso estava molhado, meu corpo estava molhado, meus olhos molhavam tudo, meu coração era água, em mim não havia sangue, só água, fluída, transparente, insossa, água. Chorei. Chorei. Chorei muito. Chorei tudo. Chorei demais. Eu me sentia mais humana do que nunca, mais digna da minha fragilidade do que nunca. Eu não precisava mais de nenhuma roupa, porque eu não precisava mais de nenhuma armadura ou de nenhum vestido de princesa, e só aí eu abri a boca e repeti as palavras que você havia me dito: "eu não te amo mais". Nos meus olhos brotavam lágrimas ainda maiores e ainda mais salgadas, que me ardiam tanto mais, mas a minha boca também agora chorava repetindo: "pois eu ainda te amo muito. muito".

     No fundo, a gente sempre sabe quando não é mais amada. Vai sentindo aquela mão vindo menos ao nosso encontro, as ligações cessando, as rimas se imcompletando, a ausência de risadas, as brigas pelo nada. Vai faltando o tato com as coisas do outro, o contato com a emoção, todos os sinais que todo mundo sabe vão se fazendo evidências inegáveis diante dos olhos... e aí nós fechamos os olhos. Para não ver o que não queremos. E continuamos usando vestido, meia-calça, batom. E continuamos escolhendo o som, colocando velas na mesa, servindo a sobremesa, sendo a cereja. E prosseguimos pagando as contas, fazendo os planos e falando ao telefone. E aí, quando a bomba nos cai no colo, não sabemos o que fazer. Pensamos que não pode ser, que até ontem estava tudo bem, como assim isso agora, neném? E os passos correm, as malas se fazem, ruma-se ao trem. E a gente fica tão humana que é quase como se estivessemos sendo vistas do avesso - olhem estas veias, este fígado, estes pulmões; são todos testemunhas de um amor que acabou, todos estandartes sem-vergonha desta eterna dor. Me sinto a pessoa mais desinteressante do mundo. Dói. É como se você tivesse contado um segredo ao mundo todo, e fosse este o som que ecoa no ar da cidade: ela não merece este amor, é uma fraude. E os rins, as artérias e a bexiga: ela não é tão interessante quanto os livros de filosofia que ela lê, não tem magia das cordas do violão que ela dedilha, não tem o lirismo da poesia que decora a parede do quarto, não tem tanta graça depois de um tempo, as piadas cansadas e as olheiras enormes não são charmosas a segunda vista e quando aquele cabelo se faz coque, tudo se faz perdido para sempre. Não há como amar esta mulher.

    E eu deixo a água do chuveiro correr pelo meu corpo junto com as minhas lágrimas, querendo apagar esta tatuagem, querendo não estar tão carimbada: "frágil!" dizem alguns carimbos, mas o pior e o mais bem espalhado e mais firmemente firmado diz: não há como amar esta mulher. E a sua assinatura. E eu pareço um quadro expressionista. Rachado. Torto. Assinado. Carimbado. Uma mistura de referências.

    O sol vai ficando bem forte lá fora. Eu me dou por vencida. Desligo o chuveiro. Me levanto. Enrolo a toalha de qualquer jeito sobre o meu corpo. Ouço o barulho da porta se abrindo, sei que é a faxineira. Escuto ela chamar meu nome, perguntar se está tudo bem, dizer que vai limpar a sala, se eu preciso de algum remédio. Eu vou até lá, faço qualquer gesto pra ela e me jogo na nossa cama de casal, de lençóis brancos e travesseiros macios. Eu não sou mais amada. Eu sei. Tudo em mim sabe. Eu não sou mais amada.

 

 

   Lá fora a chuva cai com força - aquela água que limpa a cidade. Aqui dentro, e pelos meus olhos, a chuva cai com força - todo o amor que tem que sair.


música Chico Buarque - Futuros Amantes

publicado por Juliana Correia às 21:29 | link do post | comentar | ver comentários (2) | favorito

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