Sábado, 22 de Novembro de 2008

Vicky Cristina Barcelona não é só um filme - é todo ele uma grande metáfora disso que é a vida e mais ainda, disso que somos nós perante a vida. Uma exposição filmada das nossas (im)possibilidades diante das coisas, dos nossos desejos e dos acordos que nossos desejos e nossa (in)coerência fazem para que sigamos vivendo e procurando um sentido para viver.

É uma ilustração real do inerente desacordo, da evidente insatisfação, da explosão antagônica entre o que somos, o que acreditamos e o que desejamos. Não se sai do filme com respostas...se sai com ainda mais interrogações.

Há palavras aonde deveria haver silêncio, silêncio aonde as palavras caberiam, sorrisos aonde deveria ter dor e dor aonde caberia amor. Existe o inacabado, o inaceitável, o usual, o provável e até o 'mais saudável'... mas não existe certo e errado. Existe negociar e fechar contrato com as contigências e com os nossos compromissos - que podem se enlaçar as nossas vontades, ao nosso desespero, ao nosso medo do incerto (que de nada adianta, certamente, pois o incerto é a única certeza afinal), a nossa necessidade de estabilidade, a nossa visão linear e tradicional de todos os acontecimentos, a nossa entrega, ao nosso prazer, a nossa busca, a nossa loucura, ao nosso masoquismo, as nossas tentativas, a nossa insatisfação ou a nossa transformação.

Não dá pra sair do filme sem se identificar com algum personagem ou com alguma passagem. Não dá pra sair do filme sem a impressão leve ( e angustiante) de que fazemos tempestade em copo dágua, já que, como já disseram os Paralamas do Sucesso "tudo passa, tudo sempre passará..." e a gente nem sabe que já passou ou que vai voltar. Não dá pra sair do filme sem lembrar de alguém, sem revisitar algum valor que se fazia de estandarte nosso, sem repensar a delícia e a dor de ser o que é ou de sonhar em ser alguma coisa diferente - pois todo prazer, toda a sensatez e toda a loucura de realizar as coisas ficam evidentes e sem julgamento.

Não dá pra sair do filme sem lembrar de dois poeminhas, destes que tão bem ilustram a vida, suas incertezas e o amor enquanto representante constante da vivência

1) "A vida é a arte do encontro embora haja tanto desencontro pela vida" (Vínicius de Moraes)

2) "Sossegue Carlos, o amor é isso que você está vendo: hoje beija, amanhã não beija, depois é domingo e segunda-feira ninguém sabe o que será" (Carlos Drummond de Andrade)

 

Por fim digo: o filme dá desejo de viver e de exaurir a vida, e depois faz pesar as consequências deste desvario...

Eu sou Vicky mas juro que, de vez em quando, gostaria de ter coragem e ousadia para pagar o preço de ser Cristina. Talvez eu nem fosse tão mais feliz assim.. mas caminhar sobre as lacunas do não saber sempre me parece um desafio pelo qual valeria a pena sofrer pra cumprir.

 

Em outras palavras? Assistam. É mais um primoroso ensaio sobre a existência, do maravilhoso Woody Allen.



publicado por Juliana Correia às 03:12 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Domingo, 16 de Novembro de 2008

Aos seus olhos, os meus olhos castanhos parecem claros (e lindos...)

Aos seus olhos, o meu cabelo ondulado parece liso (e lindo...)

Aos seus olhos, um buraquinho tímido na boxexa vira alvo de elogios rasgados

Aos seus olhos, o jeito que eu pronuncio as palavras vira algo peculiarmente charmoso

Aos seus olhos, as coisas que eu escrevo desajeitadamente são obras primas

Aos seus olhos, a minha pele é deliciosa

Aos seus olhos, o meu sorriso parece algo superpoderoso e iluminado.

 

Nos seus olhos, eu afundo afundo afundo.. e caio bem dentro de mim.

Nos seus olhos, eu juro que tento achar alguma resposta que dê sentido a tudo isso

Nos seus olhos, eu pareço tão melhor do que realmente sou.

Nos seus olhos, não vejo nem uma gota de amor.

Nos seus olhos, eu não me olho e não me vejo.

Nos seus olhos... admito, eu fraquejo.

 

 



publicado por Juliana Correia às 04:45 | link do post | comentar | ver comentários (2) | favorito

Segunda-feira, 10 de Novembro de 2008

Eu nem sabia que eu podia ter a sua mão na minha mão sem ter você. Eu nem sabia que eu podia ter o seu cafuné naquele calor sem que isso precisasse significar alguma coisa. Eu nem sabia que algum verso seu podia ser pra mim - e algum verso dos bem bonitos, diga-se de passagem - sem que nenhum sentimento seu fosse meu em nenhuma medida em nenhum momento. Eu nem sabia que eu podia ser o seu foco enquanto você se ocupava da sua arte entre outras pessoas. Eu nem sabia que você podia olhar nos meus olhos e entender tanto e logo depois não entender mais nada e isso não apresentar nenhuma consequência. Eu nem sabia que você podia dar uma roubadinha no cruzamento e eu podia dar risada disso e te achar um louco mas achar muito bom sendo eu tão preocupada em ser tão razóavel. Eu nem sabia que alguém podia me abraçar e me deixar tão livre e que alguém podia me deixar tão paralisada sem saber o que fazer com os braços, as pernas, as boxexas e a cara mesmo que eu já seja uma moça de vinte anos e pense que tudo isso deveria ser no mínimo natural. Eu nem sabia que você podia me fazer sentir tantas coisas antagônicas e eu ia seguir andando em frente ainda assim.  Eu nem sabia que você podia me ensinar muitas coisas que eu não sei e não saber das muitas coisas que eu sei. Eu nem sabia que eu ia ter ojeriza de você ser tão cachorro. Eu nem sabia que tudo que eu faço com você - de beber um suco a conversar fiado - podia me fazer sentir tanta culpa. Eu nem sabia que quando você me beija a testa eu torço pra acabar e durar e acabar e durar e pra você beijar mais e não beijar nunca mais, também. Eu nem sabia que eu podia brincar tanto de seduzir com as palavras com alguém. Eu nem sabia que você podia me ver em todas as palavras que são tão minhas, ora.

 

O que eu já sabia que a gente não tem absolutamente nada. E eu nem sabia que a gente podia ter tanta coisa sem ter nada, nadica, absolutamente nada. Não sei o teu signo, o que você fez neste sábado, não sei o nome dos teus pais e nem a quilometragem do teu carro. Não sei qual é a sua comida favorita, se você prefere frio ou calor, se você acha que Lula é um bom presidente. Não sei se você acorda cedo, se você manda flores ou se você sabe dançar. Não sei o que você gosta de comer, quantos livros você leu ou qual a sua matéria favorita. Mas eu sei que quando o meu celular vibra a gente tem alguma coisa. Que quando você faz cara de irritado pra as minhas babaquices a gente tem alguma coisa. Que quando você vê o que ninguém mais vê em mim a gente tem alguma coisa. Que quando a gente sela pactos de entrelinhas que sempre são subjetivos e nunca chegam a algum lugar seguro a gente tem alguma coisa. Que quando você fica me olhando de longe a gente tem alguma coisa. Que quando você me diz aquelas coisas todas a gente tem alguma coisa. Que quando você pede a minha opinião sobre algo importante a gente tem alguma coisa. Que quando eu sinto o paradoxo em relação aos meus valores, meus desejos e minhas idéias relacionadas a você é porque a gente tem alguma coisa.

Que quando você me amarra num abraço é porque você quer que a gente tenha alguma coisa [a mais].

 

 

Acho que estamos mesmo tendo algo enquanto não temos nada.

Acho que estamos mesmo tendo algo enquanto eu não entendo nada.

 

 

 

 

 Definitivamente, estamos tendo muitas coisas enquanto não temos nada.

Como é que pode?


música Lenine - Excesso exceto

publicado por Juliana Correia às 16:45 | link do post | comentar | ver comentários (2) | favorito

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