Terça-feira, 28 de Outubro de 2008

Não te amo "apesar de"

Pois te amo nas entranhas de todas as coisas

- as que entendo e as que não entendo

as que me confundem e me alargam

as que me alegram e também as que me entediam

as que tem utilidade e as que são só lirismo -

 

Te amo nas notas tristes do teu violão

ecoando pela casa,

que ecoam pelo meu corpo também já tão dedilhado por ti

e com as tuas mãos de calo do trabalho

e com a tua boca calada e teus pés espaçosos no assoalho.

 

Os teus óculos largados displicentemente sob o jornal de domingo

e o bolo das tuas roupas sujas e toalhas molhadas em cima da nossa cama

mais um final de semana de praia, você varando o mar

e os peixes que eu limpo para te alimentar - é tudo amor.

 

Teus olhos me vendo existir

me permitindo ser

É o maior amor

que de todas as vidas e tentativas

eu sei nunca entender.

 

Te amo no obscurantismo, e por detrás das cortinas

nas manhãs de maçã, nas estantes e nos empoeirados livros

com a minha alma lavada, te estendo toalha

nos faço morada. morada sagrada. amor em canção.

 

 

 



publicado por Juliana Correia às 17:01 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Sexta-feira, 24 de Outubro de 2008

Por sermos dois
O mundo é todo nosso
Na virada da vida e depois,
Ainda depois, da vida e do ócio.
 
Sou a mão que te conduz
densa, disforme, pesada cruz
Sou a mulher que te afaga
na destemida dança, carrego
você e semeio tua criança.
 
Os cacos de vidro no chão
meus olhos de vidro vidrados/ te invadem
O jornal amassado pela casa em desordem
ordena que eu te condene:
 
meu homem, meu vício
desde o princípio
meu suco, meu sócio
nosso amor é isso
ossos do ofício
 
Tua pele é inquestionável
me basta, me move, devassa
O cheiro do tempero na mão é traiçoeiro -
a saudade é a voz sussurante do desespero...
 
Eu faço o jantar
Eu enfeito a mesa
Pra te deitar
pré-sobremesa...
 
Antes do sono, do caos, do tédio
Enquanto haja remédio
Que a leveza nos leve
que nosso amor finito se eleve.
 
meu homem, meu vício
desde o princípio
meu suco, meu sócio
nosso amor é isso
ossos do ofício
 
Somos dois na multidão
na polissêmia, no multi-verso
Na composição do meu intelecto
Você é todos os versos
 
Tudo tende a inconsistência
E nisso consiste a existência
E disso nos esquecemos na cama
na cozinha, na entrelinha, no torpor,
 
...me ama, meu amor.
 


música Socorro - Arnaldo Antunes

publicado por Juliana Correia às 20:04 | link do post | comentar | ver comentários (2) | favorito

Sexta-feira, 17 de Outubro de 2008

Daqui a cem anos ainda existirá o lugar geográfico que hoje é o nosso bairro, aonde fica o nosso prédio hoje, talvez a rua continue no mesmo lugar, as pedrinhas, o passeio. Talvez algum professor/pesquisador de história/antropologia venha a se debruçar sobre a história desse lugar, sobre o eixo etnográfico ou o histórico e sobre os grandes fatos que se sucederam ali - um grande presidente que tenha nascido nessa rua, uma grande revolução que tenha se dado ali, etc.

Mas - deixemos as ilusões do fato de sermos 'humanos' e nos acharmos no direito de nos sentirmos especiais demais por isso - porque, daqui a cem anos, no meio dos restos da história que sobrarão, nós não sobraremos. (Acho que essa é a parte mais triste de "morrer" - perder o fio da meada, a história, as coisas que acontecerão sem nós...)

Não sobrará nenhum rastro das lágrimas que choramos na cama do nosso quarto, das desilusões que tivemos com o amor, com a política, com o vestibular, do nosso primeiro beijo no banco do prédio ou na escada de serviço, das festas que fazíamos na piscina ou das letras que escrevíamos no asfalto da rua para nos declarar. Não se lembrarão do dia que nos casamos, não se lembrarão do dia que nossos pais faleceram, dos nossos sorrisos, lágrimas, ilusões, pretensões, alucinações... Nós já teremos esvaido como poeira por debaixo da terra; nossa trajetória já não terá platéia e também se diluirá no ar. Nosso nome não será mais dito, porque já não seremos mais lembrados, o mundo vai continuar a correr e nós não saberemos em que sentido. Seremos esquecidos e ignorados.

 

 

Mas é sempre tempo de pensar no que fazer com o tempo presente.



publicado por Juliana Correia às 21:10 | link do post | comentar | ver comentários (4) | favorito

Domingo, 12 de Outubro de 2008

amo o jeito
que eu me sinto
que eu me deito
que a vida eu pinto
que fica direito
se vocês estão
de coração
corpo mente alma
risada trejeito convicção
palhaçada afetividade calma
amor amor amor
do meu lado

com vocês é de verdade
há de ser eternidade
finda-se, enfim, como amizade

 

 

 

[Para Lah, Lica e Thai, que sabem me fazer feliz, simplesmente]



publicado por Juliana Correia às 05:00 | link do post | comentar | ver comentários (2) | favorito

Quinta-feira, 9 de Outubro de 2008

Eu acabei de sair da sua casa e ainda tenho o cheiro do seu sabonete nas minhas narinas, nas minhas mãos, um pouco dentro de mim. Toda vez que eu saio da sua casa eu me sinto tão limpa. É como se eu normalmente tivesse um constante cheiro de xixi, de território demarcado pelo xixi alheio, de impureza que tem que sair do corpo para que o corpo continue funcionando e aí, quando eu entro na sua casa, quando eu entro no seu banheiro, tudo se resolve. Porque o sabonete me perfuma e diminui o impacto do cheiro de xixi, porque você me acalma e me limpa e eu me sinto tão pura que tenho ânsia de vômito quando encosto meu rosto na janela da sua sala e vejo aquelas pessoas nas filas das discotecas da tua rua, tantas pessoas, tanto brilho, tanto barulho.. por nada. Ninguém sabe o nome de ninguém. Ninguém vai lembrar do que você disse. E ai eu olho pra você, sentado na poltrona, meio aturdida com a insignificância do que se diz, e você sorri pra mim e estende a mão e me diz: 'se acalma mulher. essa sua vontade de entender ainda vai te tirar o norte'. E eu tenho vontade de responder que se você deixar eu me afogar em você eu não vou querer entender mais nada, que se você for meu sabonete e me deixar tão limpa das minhas impurezas e incertezas eu não dou a mínima para mais nada... mas eu só sorrio de volta.

E você começa a falar dos seus problemas e eu não consigo me concentrar. Como é que alguém tão lindo pode ser tão sintomático? Você descarta a minha utopia de beleza como curativo. Ninguém é mais bonito do que você. E ninguém tem tantos sintomas. E eu sei que você só conversa isso comigo, e eu sei de tanta coisa e eu tenho raiva dessa coisa de ser amiga, de ser só amiga. De saber que é pra mim que você liga de madrugada, é a minha correção que você quer nos seus relatórios, é comigo que você vai jantar em restaurante fim-de-carreira [porque eu sou a mulher maravilhosa que você não precisa impressionar] mas não é comigo que você vai pra cama e nem é pra mim que você manda flores. E aí, quando você para de falar dos seus problemas e me pergunta se eu entendi, e eu estava tão distante, sorrio e beijo a sua mão. "- Vai ficar tudo bem?" Você me pergunta, e eu juro que eu queria dizer que sim, que se você deixasse ficava era tudo ótimo, que eu sei qual é a sua comida favorita e o carinho que você gosta enquanto tá cansado de tanto trabalho...Ou queria dizer que vai dar certo com ela, com qualquer uma, de qualquer jeito, mesmo que elas não te mereçam, não saibam rir das suas piadas sem graça, não saibam entender que você sempre abre demais a boca pra falar e pra dar risada porque no fundo, bem no fundo, você quer conquistar o mundo, engolir o mundo, viver o mundo inteiro pra já ou que elas não tenham paciência de ver um jogo de futebol com você e discutir impedimentos enquanto fazem planilhas que tem que entregar na segunda...eu digo a você que as coisas vão dar certo, e não digo mais nada. E me despeço e vou embora. Vou embora porque tô limpa, porque tenho medo, como posso ser são sua se nunca fui de fato sua? Não sei o gosto do seu beijo, mas sei que o sapato que eu uso é pra você, que a cor do meu esmalte é pra você, que a minha comida japonesa é só pra ver você sorrir do meu desajeito com os palitos... Eu sou tão sua e tenho tanto medo de te perder, e você nunca foi nada meu, nada além do meu melhor amigo, do cara que sabe quantos caras eu beijei, do cara que sabe qual é o tipo de calcinha que eu prefiro usar e faz piada sobre isso (!)...

Eu vou embora com meu cheiro do seu sabonete. Eu vou embora tão limpa que não posso ir em nenhuma boate me esbaldar pra te esquecer, pra me sujar, pra ver se assim eu posso não te pertencer...

Vou pra casa ver televisão. Fazer cálculos estatísticos. Fumar o meu cigarro. Tomar vergonha na cara. Sei lá. Eu vou fazer qualquer coisa que me mantenha longe de você.. e aí me lembro que você mora aqui dentro, das veias, das entranhas, de tudo. 

Tô na fila suja da boate. Amanhã, será que você me empresta de novo o sabonete? 



publicado por Juliana Correia às 16:50 | link do post | comentar | favorito

Quarta-feira, 8 de Outubro de 2008

A pior solidão do mundo é a de ler mil coisas, várias coisas, tantas coisas e não ter pra quem mostrar, ninguém pra ler o que já li e dizer: nossa, isso faz eu fazer tanto.. sentido! e as cabeças se balançam e nada mais precisa ser dito, porque o não-dito já inundou a sala com aquela coisa de compartilhar vivências, sentimentos, pensamentos, sensações.

A pior solidão do mundo é comer sozinha, porque quase ninguém pode ver você comer, porque comer é preencher o vazio existencial com qualquer coisa substancial que possa enrolar você mesma por umas horinhas - fala sério, você ia dividir um momento assim tão crucial com alguém que você não se sentisse a vontade?

A pior solidão do mundo é a de ficar em casa fazendo nada, com vontade de dar a louca e filar os compromissos  e não ter um louco que te dê a mão e faça isso, dando risada e mandando á merda os compromissos. Um dia na vida todo mundo pode. Um dia na vida faz bem. Um dia no ano, pelo menos, vai. Os outros 364 eu juro que tento dar conta do recado. Juro.

A pior solidão do mundo é a de virar uma pessoa que só tem um lado, porque o outro lado, o avesso, não tem quem abra os olhos pra ver... Sou só credibilidade - mas não sou mulher. Tenho um cerébro a todo vapor e um senso de humor irônico, mas o senso de humor meigo dorme na rede há milênios coitado, esperando alguém sacudir.

A pior solidão é cinema sozinha. Pé com frio sem nenhuma perna enroscada. Fazer drama pelo afeto de uns caras que nem interessam só pra sentir o sangue correndo na veia e ter certeza de que tá viva e sentindo algo (ainda que forçado ou inventado) ainda. A pior solidão é não andar de mãos dadas com ninguém. Ninguém pra ligar pedindo satisfação. Ninguém pra ter saudade. Ninguém pra fazer surpresa. Ninguém pra chorar de alegria na Saraiva. Ninguém pra copiar as falas de Saramago num documentário. Ninguém por quem valha a pena algum movimento em algum sentido. Ninguém que dê o tesão mínimo necessário.

A pior solidão são todas. Todos os dialogos de filme que a gente não tem pra quem reproduzir. Todas as canções que não fazem pensar em ninguém. Não ter pra quem entrar na cozinha e aprender a fazer uma batida de café e adorar ser mulherzinha em pleno século 21. Não ter quem te deseje de vestido.

 

Etc.

 

 



publicado por Juliana Correia às 22:22 | link do post | comentar | favorito

The Killers,

por Tati Bernardi.


Sempre que uma situação começa a ficar boa ou simplesmente começa, solto minhas frasezinhas bombas. Não sei se com isso quero realmente foder a minha vida ou me proteger de me foder. Acho que segundos antes de explodir tudo, penso assim: se eu falar a frase mais errada do mundo, só os realmente fortes sobreviverão. O que eu não percebo é que no começo de alguma coisa, ninguém ainda é realmente forte para agüentar minhas frasezinhas bombas.
E todo mundo, sem exceção, acaba correndo assustado. E no dia seguinte eu acordo com aquele misto de vitória com tristeza. Sozinha novamente. Como se isso fosse um prêmio mas também uma doença.
Dentre as minhas frasezinhas bombas tenho três prediletas “to morrendo de saudades de você”, “a vida sem amor é uma merda” e “você me dá pouca atenção”. Quase nunca to morrendo de saudades de alguém, não existe a menor chance de eu amar algum desses trastes que me aparecem e caguei se eles me dão ou não muita atenção. Mas ainda assim falo, ainda assim mando uma frase dessas. Só pra ter o triste prazer de ver o covarde ficando branco, escondendo os dentes, enfiando o pinto no cu. E sumindo finalmente da minha vida.
É o jeito que arrumei de me rebelar contra essa hipocrisia masculina. Eles podem dormir na casa da gente, enfiar o pauzinho no meio das pernas da gente, pedir uma torradinha com requeijão de manhã, mijar pra fora do nosso vaso, contar a vida deles e pedir mais carinho nas costas. Mas não suportam ouvir no dia seguinte um simples “gosto de você”. Covardes de merda. Odeio essa hipocrisia masculina. Se eles falam mil vezes que querem te ver é tesão e você não pode se assustar, mas se você falar uma única vez que quer vê-los, é porque você é uma mala que está “misturando sentimentos”. E eles podem se assustar. Que preguiça desse planetinha dos macacos e suas bananas.
E sigo com minhas frases matadoras. “Pensei em você hoje”; “Voltei antes pra te ver”; “Vamos nos ver hoje?”; “Vamos comigo na festa da minha amiga?”; “O que você vai fazer no feriado?”
E tenho cada dia mais nojo de como frases ditas pra ser agradável soam como um assassinato. E tenho nojo de pensar que quando você tira o controle deles, eles não sabem mais o que fazer com você. “O que eu vou fazer com uma mulher que eu já conquistei?” Que tal continuar conquistando todos os dias, seu idiota? Que tal viver uma história que passe da primeira página? Tenho cada dia mais nojo de como as pessoas se consomem e não se conhecem, não vivem nada. Não sabem nada da vida da outra a não ser o tamanho dos peitos e se o desenho dos pêlos é mais para Claudia Ohana ou bigodinho do Hitler.
Sempre lembro de uma vez que fui passar cinco dias com um namorado no alto de uma montanha e ele me apareceu com um verdadeiro “kit putaria”. Passou antes no sex shop e comprou de óleo de massagem a roupinha de enfermeira. Tenho certeza que fez isso porque pensou “que porra vou fazer com uma mulher cinco dias em cima de uma montanha a não se trepar”? Se fosse algum dos seus amiguinhos eles poderiam rir, se divertir, beber, conversar, apostar corrida, jogar videogame, brincar na piscina, fazer trilha. Mas com uma mulher? Um ser estranho chamado mulher? Que porra ele iria fazer não é mesmo?
Homens acham que a página 1 é trepar e a página 2 é casar. E como têm pavor da 2 (e quem disse que as mulheres também não têm?) acabam nunca saindo da 1. E nisso conversas incríveis, descobertas maravilhosas e histórias lindas morrem antes mesmo de nascer. Eles podem tcomigo vai ter de ouvir “posso dormir aqui?” ou ainda “acho que posso me apaixonar por você”.
E quem sobreviver a esse verdadeiro extermínio de pretendentes, vai descobrir que eu sou só mais um ser que morre de medo do amor e da convivência. Vai descobrir que falo as frases erradas justamente pra espantar as pessoas e não ter mais trabalho. Mas de verdade (e dessa vez sem medo de assustar ninguém) adoraria encontrar alguém que resolvesse correr e comer mas jamais passear de mãos dadas com você.
Isso tudo me dá um bode profundo. Mas no fundo tenho mais bode é de mim. Por ter dito frases desse tipo para pessoas sem nenhuma magia, sem nenhuma poesia. E que ao invés de enxergar beleza enxergaram “carne ganha”. E no fundo eu nem sentia nada por essas pessoas, estava apenas testando a hipocrisia do mundo. Estava apenas comprovando que se tratava apenas de mais uma “carne podre”.
Acho de verdade que a puta da Glenn Close estragou a vida de algumas mulheres. Basta você dizer um inocente “você é legal” pro cara achar que você vai se mudar pra casa dele, mergulhar o poodle dele numa panela fervendo e parir trigêmeos bem no dia do futebol com os amigos. Da onde eles tiram que somos tão assustadoras? A gente só quer ter com quem rir no final do dia e ganhar alguns beijos no lugar certo. Nada muito diferente do que eles querem.
Mas cansei. Definitivamente cansei. Cansei de um mero “nossa, tava pensando em você” equivaler a um “nossa, tava pensando em você de terno e gravata no altar de uma igreja”. Já que pouca coisa assusta tanto, decidi que agora vou jogar pesado. Daqui pra frente minhas frases matadoras vão ser de “quero ter um filho seu” pra pior. Quem quiser sair, corre esse risco junto comigo.



publicado por Juliana Correia às 20:38 | link do post | comentar | ver comentários (4) | favorito

Segunda-feira, 6 de Outubro de 2008

- Alô? Oi. Sou eu. Tô te ligando daquela nossa mesa da nossa cafeteria, lembra? Tô ligando porque sou uma rídicula egocêntrica, tô ligando porque aqui você adora pagar meu café e eu sempre acho absurdo e faço um discurso sobre a autonomia feminina no século vinte e um... e tô aqui, há uns dez minutos, tentando abrir uma droga de garrafa de água e não consigo. Grande mulher, né? Liguei pra você pra falar pelos cotovelos. Sabe, quando eu consegui abrir a garrafa, me deu vontade de pedir bolo e eu pedi bolo.. e eu me lembrei de você, e me dei conta de que eu sou um bolo e você não sabe. Sabe aqueles bolos de casamento? Que tem aquela glace beeem dura? Essa sou eu a primeira vista.. mas aí, depois, por algum motivo que não vem ao caso - fome, simpatia por quem te oferece um pedaço, tédio na festa de casamento - você vai e come um pedaço, se livrando - é claro - da glace durona e ai você acha o bolo doce e fica super satisfeito de ter experimentado.. e acha o bolo um farsante, porque se você soubesse que ele era bom, você já tinha começado a comer antes e já teria desfrutado mais..mas aí, no meio desse pensamento você morde alguma coisa dura e dói e você fica com vontade de chorar!  Aí quando você olha, tem uma castanha bem grande e dura no meio do bolo, parece que você comeu parafuso, e você acha aquele bolo um salafrario de novo, porque ele era duro, ficou doce e depois ficou ainda mais duro sem nem te avisar... Eu sou assim. Descasca e me vê docinha, mas eu aguento as coisas. Mesmo. Não que ser castanha-parafuso não doa, dói, mas eu aguento. Não quero ser bolo de chocolate que todo mundo sabe fazer. É, não, eu sei, isso não leva a gente a lugar nenhum...Tô ligando pra dizer isso: eu não tenho certezas. A minha única direção é ilógica e infantil, é a minha única responsabilidade e o meu maior receio: eu preciso manter a minha sanidade mental, preciso estrututar as coisas de um jeito que façam sentido, que eu possa revê-las como naquelas pastas que a gente vai abrindo e vendo os arquivos em ordem linear, sabe? Eu só sou linear com a minha saúde mental, ou melhor, com a minha obsessão em mantê-la. Com o resto? Esquece. Não juro amor eterno. Não faço nhem-nhem-nhem. Não faço albúm de coraçãozinho. Não sei se eu sei fazer projetos juntos, no estilo de 'amar é olhar para frente juntos, e não um para o outro'. Eu sei achar umas músicas, sei fazer uns textinhos, sei pensar na pessoa. Não sei se sei me comprometer. Não sei dar segurança. Não sei arriscar. Não sei o que eu quero. Não saberia fazer nada com o que eu quisesse, ainda que soubesse o que quisesse. Não sei falar coisas interessantes. Não sei lutar por espaços. Não sei ser neutra e é um suplício para mim falar em códigos as coisas que eu quero gritar. Até as palavras andam de mal comigo, nem elas conseguem dizer o que eu quero dizer e entre as não ditas fica tanta coisa que eu podia empilhar a invisibilidade que se instaura e fazer uma ponte enorme que me levasse a qualquer lugar. Eu, posso até pensar, em escrever um livro. Um livro lindo, enorme, azul.. sobre a incomunicabilidade dos seres humanos. Você fala comigo e eu não entendo. Eu não falo com você e quero que você entenda. Você vai dizer que essa é uma construção que tem sentido? Não tem. Eu queria conseguir mentir pra você, te prometer várias coisas, saber que essas coisas aconteceriam, mas vê, eu não sei. Olha, cansei de falar. Eu queria muito ligar pra você mais vezes, estender essas conversas, mas as coisas se invetreram e agora com você eu não me sinto mais livremente eu.. e portanto, eu não vou te ligar mais. Um beijo. Juízo. Tchau.


música Catedral - Tchau

publicado por Juliana Correia às 15:23 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Sábado, 4 de Outubro de 2008

o segredo da felicidade

é manter o objeto de desejo no superficial

pois, se algo/alguém se faz para ti necessidade

prepara-te: é o começo do final.

 

o segredo da manutenção

é permitir que as coisas maravilhosas não sejam essenciais

senão serás prisioneiro da impulsão...

...e vítima das tuas projeções, descabidamente irreais

[ cuidado com a ilusão, com os ideais]

 

o dom é saber de si

para não deixar que ninguém seja dono do seu estado de espírito

só você pode saber (e se responsabilizar) pelo que aguenta, até onde ir

aqui não cabe o jogo da vitimização, só o auto-equilíbrio...

 

se não aguenta qualquer resposta, nem faça a pergunta

se precisa de alguém para poder sorrir ou para poder culpar

(ou pelo menos se dá a alguém a autorização a interferir nessa possibilidade:)

pare e corra: vá aprender a se amar.

 

[ só daí, só depois

depois de tudo aprendido, apreendido

conseguirá dividir a vida

com alguém, sem responsabilizar o outro

sem fazer disto ferida ou dívida

sem canalizar sua energia unicamente para este estado absorto]

 

independentemente

do que te fazem, do que te dizem, do que te sentem

você só depende de você:

o resto é nhê-nhê-nhê por falta de auto-preservação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 



publicado por Juliana Correia às 15:40 | link do post | comentar | favorito

Quinta-feira, 2 de Outubro de 2008

Quando a situação me deixa com medo, eu sinto que é a hora de eu fazer o que eu sei fazer de melhor: me proteger. Houve um tempo em que isso era difícil, que eu me traia em sorrisos, olhares e outros pormenores. Mas hoje em dia? Hoje em dia eu sou craque. Mestre. Doutora. PHD! Me proteger é tão natural quanto dormir. Me proteger é tão natural quanto tomar nescauzinho de manhã cedo. Me proteger é tão natural quanto reclamar do excesso de textos que tem pra ler. E aí me vem você, e aí ao invés de pensar sobre os tipos de punição para infrações no ãmbito do direito penal ou o sobre as implicações do serviço de um delegado, eu começo a pensar em você. Inutilmente, vale ressaltar. Nando Reis já disse: eu estava em paz quando você chegou. E porra, eu estava mesmo! E Caetano não para de me dizer que a tua presença desintegra e atualiza a minha presença, que a tua presença é de todas as cores, que entra pelos sete buracos da minha cabeça.. e eu juro, juro mesmo, que reluto em dar razão a ele, mas no fim, ele tem razão. E Chico Buarque pede beijos que beijem até a alma, e eu tenho que pedir também! E aí, enquanto todos esses ritmos estão dançando e cantando sobrepostamente na minha cabeça [ no lugar de projetos de trabalho,idéias geniais e textos bem-feitos - eu juro, isso me desespera] você fala qualquer coisa, que eu não escuto, que você ri porque eu não escutei...E eu me sinto uma completa idiota, uma boneca fazendo um papel menor do que aonde ela cabia de verdade. Você pergunta alguma coisa e eu respondo album absurdo. Você fica sorrindo, enquanto eu penso se essa idiotice aprisionadora tem cura... Você fala comigo, você pede a minha opinião, você me chama pra dançar, me leva pra beber, me pega em casa, me telefona.. e eu só quero paz. É pedir demais?! Eu preciso que você pare, porque quando você pára dói, dói tanto, tudo volta a ser cinza-controlado-semgraça-possível, tudo volta a ser realidade, dia-a-dia, aquela vida costumeira, de sempre. E dói, dói, dói tanto que eu que tenho que parar com você. Mas eu só consigo parar de sorrir que nem uma idiota se você parar comigo primeiro. Então eu te peço: pare. Me faça sofrer, sangrar, me deixe usar a cabeça e vê o quanto isto é ridículo, o quanto isto não dá em nada, o quanto eu devo merecer e me permitir mais do que isso. Pare e me deixe parar. E aí eu venho e me protejo, ué. Mas, até isso você faz parecer tolo. Eu, cheia de armaduras fortes, brilhosas, maculadas.. e você dizendo, com cara de obviedade, que já viu muito mais que isso e que eu não engano nem criança.

Eu finjo ser austera, ser severa, ser auto-suficiente..pra que ninguém perceba o quanto eu sou frágil e interessada, ou doce e carinhosa. Porque a severidade, a austeridade, a auto-suficiência amedrontam e as pessoas vão para longe - e com isso eu já sei lidar - mas as outras coisas trazem pra perto, e a proximidade, assim como as lentes de uma lupa, possibilitam que a gente veja bem de perto todas as características da pessoa, e eu não quero que você veja as minhas. Eu finjo que minha vida é útil, producente e amplamente viável para que ninguém descubra quantos buracos, quantos textos eu escrevo sobre essa vida que fica só na fantasia, só no simbólico, só no desejo. Você não faz idéia de quantos textos eu já escrevi sobre você. E ainda assim você olha pra mim e diz que tudo que eu digo é maravilhoso, que tudo que eu leio é bom, que tudo que eu escrevo é fantástico. E você nem sabe, que ultimamente, tem sido tanto sobre você. Como pode alguém ter tantas homenagens e nunca vir a ficar sabendo? Eu sinto culpa por isso. Alguma hora paro de escrever. Mas ou escrevo ou falo. E se eu te mandar, verbalmente, para longe, você não vai entender nada e vai ter a certeza de que eu sou essa maluca que você diz que eu sou.

Eu finjo que sou racional e forte, mas eu também sou sonhadora e perdida. Finjo que tenho certeza, quando sou toda dúvida. Finjo que gosto muito de alguém, pra você nunca saber que você me balança mais do que barco em dia de tempestade - porque balança todas as certezas, porque balança o inefável, coisas que nem eu - que me dou tão bem com as palavras - consigo escrever, e isso é uma loucura. E isso é suicídio! E é burrice - porque o outro é meu, porque o outro tem mãos que eu alcanço, porque o outro é seguro, porque com ele eu ainda sinto os meus pés pisarem no chão... com você eu esqueço que deveria haver um chão aonde eu supostamente deveria pisar, que eu tenho que ir embora porque estou ridicula te dando aquele sorriso enorme.. com você eu esqueço e depois eu aconteço!! E eu não posso acontecer! Eu tenho é que dar a mão pra ele, você não entende? A gente vai longe, vai pra frente, vamos juntos. Com você eu tenho só umas palavras bonitas e implicitas, que no fundo no fundo, nem devem querer dizer nada.

Talvez eu seja mesmo uma imbecil de falar tantas coisas em cima de conjecturas, você deve estar pensando. Mas é dificil pra mim enxergar que ainda haviam pontos cegos por debaixo das barreiras, que ainda havia uma espécie de botão que as pessoas podiam apertar e acender coisas boas, ou coisas ruins, mas de uma maneira sucinta: coisas sentimentais - sejam da ordem do desejo, da paixão ou apenas do carinho. Tanto faz.

Você tem que parar de me olhar com esse olho de abismo sem fundo, eu vou cair. E eu não sei cair sem fazer barulho, sem dar escandalo, sem chorar e sem passar vergonha.

Você tem que me deixar triste e parar com isso. É melhor do que me deixar triste porque você não para. Para de falar essas coisas, para de me olhar e dizer que me conhece, para de dizer que se pra mim você é igual a todo mundo pra você eu sou especial e por isso você age diferente, para de ficar do meu lado sem falar nada... Você nem é meu. E eu fico me sentindo tão sozinha se acho que você tá indo embora. E não, você sabe, eu continuo estudando, trabalhando, saindo, vivendo, me divertindo, me queixando, levando a vida.

Mas se você jura que eu sou tão legal assim, para com isso. Por favor.

 

 

 



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