Sábado, 27 de Setembro de 2008

Os meus amigos são umas pessoas que tem olhos de alma. Eles nem tudo veem, nem tudo sabem - mas tudo sentem e só sentem, e como sentem! Os meus amigos sabem me fazer sorrir (por tudo, por nada, por besteiras ou até quando falamos de coisas sérias e estamos discordando) e me acolhem quando eu choro: e eu sou alguém que chora muito, verdade seja dita. Os meus amigos me dão broncas e me dão colos, me dão doces e me dão problemas...

São pessoas leves, que parecem poder estar em mim estando neles, que parecem poder ver o avesso, poder ver o meu coração com o coração deles. Os meus amigos não cabem nem nas queridas palavras.

É depois de uma noite deliciosa com eles; de abraçar cada um deles; de me saber querida por todos eles que eu consigo achar que a vida vale a pena, que o amor vale a pena, que as pessoas valem a pena. É lendo cada carta, achando cada presente a minha cara, sendo recebida em cada braço de abraço, sendo beijada uma, duas,cem mil vezes que eu sei que eu tenho jeito, que a vida tem jeito, que a vida tem jeito.. porque aquelas pessoas dão jeito: na minha dor, no meu medo, aplacam o meu cansaço, esquentam como raios de sol. Surpreendem e surpreendem, mesmo que eu ache que as conheço muito bem.

 

Os meus amigos são maravilhosos - e não os escolhi pelo carro da moda, pela boate que frequentam (ou que não frequentam), pelas acrobacias lindissimas que sabem fazer com a palavra e nem por terem abraços de urso quentinhos e paciência de ouvir eu falar sem parar o tempo inteiro. Foram eles que me escolheram, fui eu que escolhi, a gente se reconheceu - na semelhança e na diferença.

Os meus amigos são todos lindos, todos amados, todos queridos - e todos humanos, no sentido amplo da palavra. Alguns eu vejo todos os dias, outros vejo muito menos - mas vejo todos agindo em mim, me transformando, me fazendo melhor.

 

Vocês são os melhores. Obrigada por hoje. Por ontem. Por sempre. Pelo que ainda virá. Obrigada por essa alegria que samba no meu peito - aos amigos que me conhecem há 17 18 anos, há 9 anos, há 6 anos, há 3 anos, há 1 ano.. Quando eu crescer, quero ser um terço da maravilha que vocês são.

 

Amor, muito amor, muito amor.

 

Ju



publicado por Juliana Correia às 07:01 | link do post | comentar | ver comentários (2) | favorito

Quinta-feira, 25 de Setembro de 2008

Estudo muito e passo direto ou não estudo e curto o fim de semana sabendo dos riscos futuros? Namoro sério com esse cara que é maravilhoso e cuida de mim ou me deixo livre porque nunca se sabe quantos caras legais vão aparecer no caminho - e que eu não vou querer desperdiçar? Eu faço faculdade de direito e faço meus pais felizes (e me frustro e lido com essa frustração) ou vou fazer artes plásticas e me faço feliz (e frustro aqueles que me amam e lido com isso)? Como esse sanduíche que eu amo mas que engorda ou vou malhar que eu odeio mas faz bem pro meu corpo? Uso decote e minisaia e me permito ser uma mulher desejada ou uso óculos e coque no cabelo em prol da minha credibilidade? Eu digo o que eu penso e corro o risco da fama que for ou eu fico quieta e me sinto mal por ter me silenciado? Eu me rebelo contra as coisas que eu discordo ou me resigno diante do que é maior do que eu? Eu me visto de acordo com o meu gosto, com o que as mulheres admiram ou com o que seduz os homens? Quem responde? Quem pergunta? Quem escolhe?

 

O difícil é sempre isso: achar um meio termo entre o desejo, a possibilidade e o preço que se aguenta pagar pela realização. Todos querem a segurança e a liberdade, a carência saciada e a abertura para o novo sempre. Todos querem sempre tudo que não necessariamente dialoga - ou alguém, de primeira, consegue imaginar que num compromisso afetivo a primeira lembrança que venha a mente seja a de uma liberdade para fazer tudo que um eu individual queira? Ou que a menina linda, maravilhosamente vestida, com todos os acessórios e todos os fios de cabelo aonde deveriam estar, seja PHD em física-quântica?

Com tanta coisa sendo desejada, como é que se escolhe o que se deseja mais, pra que lado se pesa mais e que preço se quer pagar pelo que se decidiu?

 

 

 

 

 

 

"Quero tudo ter, estrela, flor, estilo..."

Zeca baleiro.



publicado por Juliana Correia às 00:53 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Terça-feira, 23 de Setembro de 2008

Dias vazios não são dias producentes. E eu já havia me desacostumado a ter tanto tempo livre assim. Daí que eu fico muito mais tempo no Orkut do que deveria e daí que as coisas mais óbvias ainda são as que mais me impressionam.

 

Como é que pode esse tal de 'site de relacionamentos' ter virado um 'açougue humano' desse jeito? Encontram-se franjas lisas em variações de tons castanhos, loiros, puxados para o mel e até uma miscelânia desses tons; encontram-se bocas que esmeram-se em beijos na frente do espelho num amor narcísico incontestável, encontram-se braços que fazem ondas e barrigas que fazem gomo, decotes proeminentes que destroem a expectativa do velado, o ato de imaginar o que há na outra pessoa (tão necessário ao desejo, tão intriseco a paixão), fotos no carro, fotos de bíquini - tudo isso eu estou falando daquela famosa foto do perfil, aquela foto que nos 'apresenta' para o mundo... Sorrisos demais. Beleza demais. Obviedade demais. Oferta demais. Todo mundo igual demais.

Eu me imagino passeando tranquila empurrando um carrinho pelo meio de várias prateleiras e fazendo 'seleção de currículos': 'esse aqui eu pego afinal as meninas não vão se dar quando souberem que eu fiquei com ele - olha só esse braço' ( e aí fico eternamente na discussão maravilhosa sobre os pesos da academia, o quanto a cerveja da Lotus é a mais gelada do mercado [não sei, é?]) ; 'esse aqui eu pego, porque, olha só, com esse carro todo mundo vai morrer de inveja' (e aí vou viver sem importância, não é? porque aonde o ego e a vaidade do outro se inflamam, é muito possível que ele não tenha tempo para as minhas abobrinhas, sensibilidades e imbecilidades, para os meus sentimentos e pensamentos); ' vou levar essa, olhe só o tamanho dessa bunda, isso lá em casa ia fazer um estrago' ( e aí, depois que eu como, viro pro lado e durmo, porque não tem afinidade para depois, porque não tem dialogo para depois, porque eu não me importo mesmo com o seu depois, minha filha).

Que escolhas são essas? Daonde vem? Se baseiam em quê?

Fácil: geração Big Brother. Todo mundo quer mais do que ter, fazer, acontecer - todo mundo quer ser visto tendo, fazendo, acontecendo. Não tem graça pegar Juliana Paes, se você não puder contar a todo mundo. Não tem graça colocar silicone se você não puder exibir por aí. De que adianta ter o carro do momento se ninguém falar sobre isso nas rodinhas de conversa que você não está, não é verdade?

E aí, bem aí, no meio de tanta coisa 'demais', de tanto suprasumo, de tanta oferta... ficamos ainda mais sozinhos. Sozinhos entre corpos perfeitos (não importa se de jovens de 15 anos ou de 'senhoras' de 50, todo mundo é igual, hoje em dia, e todo mundo pode ser, basta ter dinheiro pra comprar), sozinhos entre pessoas auto-confiantes, gostosas e bronzeadas.

Sozinhos com o(s) nosso(s) conceito(s) incutido(s):

1) - não pode haver compromisso, pois, num mercado tão extenso quanto esse, escolher uma coxa e ficar só com ela, só por causa dela, é um desperdício do meu tempo de degustador e eu tenho pouco tempo para ter todas as minhas parceiras/parceiros utópicos e intangíveis (que vale ressaltar, se vendem na prateleira como objetos feitos para serem desejados mesmo, e não seres humanos que se engustiam e sorriem, e que também podem negar fogo). É a cultura do sexo - embora o sexo seja a mesma coisa sempre - enfia,tira, coloca, balança e pronto, como já diz um professor maravilhoso.

2) - todo amor/desejo/relacionamento tem de ser um espelho da novela da globo e se assim não for, não serve e não convém, pois pessoas tão maravilhosamente talhadas na academia não merecem nada abaixo do impossível: amor todo dia, sorrisos todos os dias, felicidade instantânea, desejo contínuo ( e nunca falho), troca de presentes caríssimos, dividir uma saladinha na churrascaria mais cara da cidade (cê sabe né, engordou minha filha, troco você por outra da prateleira de cima) ou uma caipiroska no camarote super badalado do show do Asa 20 anos.

3) - todo desejo é desejo de si mesmo: eu tenho que ser o mais gostoso, o mais cheiroso, o mais sedutor, o mais sorridente, porque assim as pessoas me desejam, e ao ser desejado, não preciso desejar de volta, basta que eu tenha comprovado o meu potencial, para quê, diante de todas essas mulheres inatingíveis eu não me sinta medroso e sim digno do desejo (eterno, que tédio) destas mulheres. Eu desejo é me ver desejado no olho do outro.

4) - o compromisso não pode atrapalhar a produtividade: ninguém tem mais tempo para besteiras de amor.

 

O 4 é o que mais me dói, o que eu mais acho digno no sentimento é justamente as suas besteirinhas.. sinto falta de achar uns trechos de poema rabiscados em papéizinhos pela casa (alguém lê poesia hoje em dia ainda? alguém compartilha poesia com o ser amado?), deitar e dormir assistindo um filme juntos(eu não consigo mesmo assistir filme em casa, sem dormir), ir pra uma praça verdinha, escolher a arvóre de maior sombra e deitar, numa coisa meio-mãos-dadas, cada qual com seu livro, cada qual com sua paz, cada qual junto, receber um bombom, uma flor (vai, admito, até um buquê), andar de pijama pela casa, debater as eleições da cidade, beijar, abraçar, achar lindo (de pijama, de coque, com cara amassada de quem acordou agora, isso mesmo), fazer sexo sem ter que ser na cama e nem sem ter que ser numa lancha em alto mar a lá Laços de Família, continuar me sentindo livre para ter tesão em pijamas ao invés de em jatinhos ou porsches, ter a lírica liberdade de cada um continuar pensando por si e sabendo que as coisas podem ser conversadas sem impedimentos, música, muita música boa, e não a música que embala o amor da novela, discutir a teoria Lacaniana, a economia do país ou o direito Civil, jogar videogame, twister, dançar um forró fora do são joão, viajar pra passar um fim de semana a sós, comer sushi com vinho em casa, aquele silêncio gostoso de se saber junto, um filme cult de museu, um pôr do sol no meio da rua mesmo...

 

A coisa mais triste que pode acontecer a um casal é ficar só na carne, (embora, pelo amor de Deus, a carne seja um parte natural e deliciosa, mesmo que tentem incutir nas nossas cabeças que o sexo é sujo e pecaminoso - não é não.) e é triste porque a carne trai, porque a carne cai, porque a carne cansa, porque sexo é igual com todo mundo (mesmo que se coloque um liquidificador, uma terceira pessoa ou um cavalo no meio do esquema).

 

 

Alguém me explica: que mundo é esse, companheiro?


música Marcelo Camelo - Doce Solidão

publicado por Juliana Correia às 14:15 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Segunda-feira, 22 de Setembro de 2008

Tudo que ele falava parecia açucar de confeiteiro. Tudo que ele falava parecia quebra-queixo - ia grudando, grudando, grudando e quanto mais ela tentava se desvencilhar, mais grudada acabava por ficar.

Era a voz dele, eram as palavras que ele escolhia quando falava, era o significado do que ele dizia, a intenção que ele tinha quando dizia, o jeito que ele abria a boca pra dizer as coisas, a retórica dele, a eloquência dele, o vocabulário dele...ele era uma coisa meio Sherazade, uma sedução total pela palavra, pela força da palavra...

Tudo que ele falava entrava como uma música, tudo ficava grudado como um refrão daquela canção favorita - ela dirigia pela cidade, ia pro trabalho, tomava banho e ficavam aquelas palavras ecoando na sua cabeça 'linda, você é linda, e nem sei como pode ser tão linear assim uma beleza só, como pode prôpor e aceitar e ser beleza, beleza mesmo...'  - e parecia poesia, e ela poderia escrever um caderno de palavras dele, com as palavras dele sobre o engarrafamento, sobre o frio na cidade ou a epidemia de dengue, ela podia escrevê-lo, se ela tivesse as palavras dele, se ela falasse que nem ele...

Tudo que ele falava parecia mágica e a cabeça dela começava a imaginar as palavras dançando, e as cenas.. e dormia e acordava, e lia o dicionário, e escrevia aquelas palavras!

Ela queria ser seduzida por todas as palavras dele, só as dele, porque só as palavras dele eram melhores que os números dela - e ele sabia seduzir com as palavras. Só restava ela se entregar.. e ela adorava se entregar e ir se enxurrando de palavras: cabelo-sedoso; mãos-esguias; coxas-macias; olhos-expressão; lábios-delírio; pescoço-desejo...

 

Ela era a página e ele escrevia. Escrevia no branco. Ligava as pintinhas dela. Fazia palavras. Textos. E depois apagava, e depois se escrevia...

 



publicado por Juliana Correia às 19:03 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Terça-feira, 16 de Setembro de 2008

 Quando eu tinha quinze anos, eu não beijava meu namorado depois que ele bebia cerveja - achava o sabor da cerveja na boca dele péssimo, e achava que o não-beber-cerveja tinha que ser um reflexo do (bom) caráter dele.

Quando eu cresci mais um pouco, achava péssimo quem fumava e um pouco julgava também o caráter da pessoa pelo comportamento dela com relação aquilo que eu (olhe quanta presunção, né) achava ruim.

Hoje em dia eu ainda tenho algumas ressalvas, obviamente (fico mais feliz se o cara estudar do que se for vagabundo, se ele tiver um objetivo do que se for sem perspectiva, se ele gostar de cultura do que se preferir modinha, etcts eternos)... Mas hoje, assistindo o maravilhoso (assistam!) filme chamado "Colcha de retalhos", me dei conta do quanto crescer e amadurecer é abrir mão desses pré-conceitos que vão incutindo na gente (na escola, nos valores morais SOCIAIS, na novela das oito da globo...)

Aí vem esse filme lindo-sensível-delicado, que tem como pano de fundo uma colcha que um grupo de senhorinhas está costurando e essa colcha tem um tema: "Aonde mora o amor". No decorrer do  tempo que elas levam para costurar essa colcha, vão revisitando suas histórias de vida e (re)significando-as.

 

Falando do que interessa, o filme poderia se chamar 'Mulheres que correm com desejos...' e sabe o que é mais lírico? Não há clichê nos seus desejos, há medo, há escolha, há prisão e liberdade, dúvida e certeza, arrependimento, felicidade, dor, luto, traição (muita traição: de si mesmo e dos outros - e nem sempre por desamor...)

E é impressionante a (pouca) quantidade de palavras que precisa ser dita para que o desejo flua - com delicadeza, com singeleza, com amor [ por si, pelo outro, pelo entendimento de que aquele momento pode ser único/último ] - para que os encontros aconteçam, para que o que elas julgam precisar aconteça, para que a vida aconteça...

E mais uma vez vem a questão: viver o desejo que se tem ou postergar para o tempo de certeza? seguir o corpo, a carne, o coração, o desejo ou escutar as vozes da tranquilidade e da estabilidade? colocar em jogo algumas coisas para desfrutar o prazer de um momento ou perder o momento tentando proteger o restante? Quem sabe responder isso?

Ninguém sabe. E por não saber é que cada um se projeta nos caminhos da vida como pode, como consegue, com as armas que tem e cada um paga o preço que é cobrado: a amargura do marido que foi embora, o rancor da irmã que foi traída, o dessabor de um casamento que machuca, a ausência de quem se ama, os caminhos tortuosos da maternidade e do amadurecimento mas leva-se também a certeza de se ter vivido os desejos, de ter estado com quem se queria estar quando se quis estar, de ter experimentado o sabor que não se queria deixar passar...

 

E fica em mim a certeza de estar sempre me revisitando e revisando meus valores: Devo ouvir minha cabeça racional ou a minha pele? É impossível desejar duas pessoas ao mesmo tempo? Seremos mais felizes nos impondo a monogâmia por amor - ou seremos mais doloridos quando descobrirmos a poligamia de quem amamos?

 

Acho que crescer é perguntar, e ter certeza de que a resposta não existe.

Acho que costurar do jeito certo é saber contextualizar os retalhos - pois, afinal, todos são essenciais para a colcha.

 

E aonde mora o amor?

Eu ainda não sei!

 



publicado por Juliana Correia às 23:36 | link do post | comentar | ver comentários (4) | favorito

Segunda-feira, 15 de Setembro de 2008

 

- Oi Paula!

- Oi (...)

- O que é isso, você pintou as unhas?!

- Ah é, pintei... [olha pra cima, distraída]

- Desde quando você pinta as unhas? É por causa dele,né?

- Ih, que saco. Porque a gente tem que falar disso?

- Porque você tá mulherzinha. E não vai mais querer jogar vôlei com a gente na rua, em fim de tarde. Né? E nem tomar sorvete ou estudar pra a prova de matemática..

- Não tô mulherzinha [zangada]. Como você foi de prova hoje?

- Normal... Olha, eu vou jogar vôlei, viu? Fique aí de mulherzinha..

- Eu não sou mulherzinha. Ou sei lá, não sou só mulherzinha. Quero ser a mulherzinha dele só. Isso eu quero mesmo, ser a mulherzinha DELE. Com prova de matemática, com vôlei, com sorvete e suco de caju. Não dá pra tomar suco de caju e pintar a unha? Não dá pra jogar vôlei e arrumar o cabelo? Não dá pra estudar e ter namorado? Dá um tempo, Bel. Que saco. Tá uma droga você com isso viu...

- E porque esse mau humor Paula? Posso saber?

- Porque não adianta. Porque ele não me vê. Não me vê pensando nele, não me vê sendo inspirada e transformada por ele, não me vê tentando ajuda-lo naquelas equações loucas na monitoria, não me vê, sabe? Posso pintar a unha, colocar uma saia, assobiar no corredor...Acho até que plantar bananeira com melancia no pescoço...

- Bom, se as coisas inconquistáveis estão aí.. as conquistáveis também estão. Bora pro treino do vôlei? Você sabe né, mês que vem começa o campeonato inter-colegial...

- É né? Vamos. Vamos lá mostrar pra elas...

 

 

[E foram. Correndo pra a quadra. E não viram que sentado num muro, cercado por amigos, estava o Tiaguinho, o tal menino que 'não via' mas que via. E que como via, e que via tanto e tanto o potencial daquela menina, que sentia até medo de chegar perto dela...Ele viu ela correndo em direção da quadra, aquele cabelo ruivo e cacheado se sacolejando no vento...Linda. Sorriu. O dia dele tinha ficado mais alaranjado e mais feliz...]

 

 

 

"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida."

Vinícius de Moraes

 

 



publicado por Juliana Correia às 21:39 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Sexta-feira, 12 de Setembro de 2008

A água do chuveiro cai em profusão - como caem os desejos, como caem as máscaras e as realidades antes não pensadas, como caem as pessoas, os sonhos, as esperanças e até as notas no boletim cada dia mais vermelho.

A água do chuveiro lava o meu cabelo - e eu queria que lavasse a minha alma, o meu âmago, o meu lado cruel, o meu lado medroso, o meu lado infiel e incoerente e que lavasse mais profundamente ainda o lado coerente, o lado que faz sentido e o lado que se importa com o que aparenta.

A água vem gelada, me fazendo recuar um pouco - assim como as suas palavras ásperas naquela tarde me fizeram recuar de coisas que eu acreditava, que eu tinha certeza, que eu queria investir.. me fizeram recuar de abrir a boca: abrir a boca e engolir o mundo todo, esse meu medo de viver, essa minha cabeça sempre ditando os caminhos certos e racionais e eu sempre ouvindo, abrir a boca e deixar a libido falar, o tesão gritar, os desejos se soltarem, os sentimentos se eternizarem... fecho a boca quando essa água gelada cai, assim como fechei a boca de tudo que eu podia dizer, quando você disse 'aquilo' de um jeito mais gelado do que a água e eu tive que sair correndo com mais pavor do que eu corri agora, no banho.

Eu fecho a torneira e a água para de cair e eu penso em como é injusto não poder fechar a minha cabeça e o meu coração. Não poder para com essa confluência, com esse descarregamento de pensamentos que buscam direção, sentido, porque, motivo, ações futuras e presentes sobre os acontecidos passados... Fechar esse coração que convulsiona, que quer ignorar o óbvio, que quer viver um pouco [só pra variar], que quer ir se divertir, que quer irrigar sangue por todos os caminhos, que quer viver de sangue, em poças de sangue.. porque o sangue correndo é ou não é a maior metáfora da vida? Ele saindo e se espalhando, e voltando pra ser trocado, e correndo de novo e voltando...

 

Deixo a toalha pra lá. Esse sangue todo não há quem enxugue.

Me consolo de saber que eu, pelo menos, deixei a água cair...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"E por isso eu tomo chá, pra ver se aquieto meu
peito que já nasceu com potencial de explodir
sozinho, ainda mais quando tem gente querendo apertar o botão."  -> Tati Bernardi

 

"Se na bagunça do teu coração, meu sangue errou de veia e se perdeu..." -> Chico Buarque.



publicado por Juliana Correia às 01:16 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Terça-feira, 9 de Setembro de 2008

Não sou do tipo esotérica (embora talvez goste de - e acredite em - algumas coisas místicas) mas em Setembro, eu viro uma verdadeira Libriana : com direito a balança pendendo ora  pra oito, ora pra oitenta.

O fato é que Setembro por si só já me deixa feliz, com outra energia, com outra libido, já solta o meu lado florzinha da primavera. Isso significa que desde o dia primeiro, eu tenho sido bem feliz - embora exatamente agora não, porque vou ser mesárias nas eleições, porque estou gripada e porque estou cansada, ideologicamente cansada [sobretudo, de mim] - e é justamente disso que eu quero falar.

Cansei: do meu descaso com os estudos esse semestre, do jeito que algumas pessoas me desgastam por fugirem da direteza e apontarem para a embromação sentimental (na minha balança, ou é ou não é, sabe?) e cansei de estar cansada de tudo isso quanto é efemêro e me deixa descrente e sem vontade de continuar...

 

De novidade: Cansei de mim. De ficar dizendo que tudo é efêmero assim.. E eu? Sou tão orgulhosa, preciso tanto estar certa, estar protegida, ser forte, ser foda que não deixo que as pessoas percebam as sutilezas - quero ser abraçada e acarinhada enquanto doente, quero receber bilhetes inesperados, quero um pôr do sol. Como posso criticar que os outros vivem coisas rápidas demais e deixar que o meu jeito 'duro e dificil' de ser também não me deixe viver com intensidade as coisas?

No primeiro "esse cara quer me fazer de otária" lá vou eu indo embora sem pensar se ele realmente queria, sem ponderar que convivência e relacionamento são exercícios diários de paciência, tolerância e apoio mútuo... mas eu fico tão preocupada em não PARECER babaca sentimental-enrolada-pelos-homens-que-comem-todas-as-mulheres-masócomigonão! que eu vou logo indo embora. Digo que todo mundo tem que ficar, perdoar, permitir, dar asas, contornar a expectativa, perseverar.. e vou embora - assim como todos que eu critico. (embora por motivos divergentes, ainda assim são motivos individualistas!)

 

Cansei de esperar por esse homem que eu idealizei e que não tem medo de mim, e que não se importa se eu não consigo acreditar - vai dizer o que tem pra dizer, vai sentir o que tem pra sentir e pronto.

 

Canso tanto de me repetir...

Acho que preciso de críticas para sair do meu lugar-comum-abobado.

Eu quero me subverter.

 


música Beatles - Come together

publicado por Juliana Correia às 18:35 | link do post | comentar | ver comentários (3) | favorito

Segunda-feira, 8 de Setembro de 2008

quando você chega, quase me fazendo reverência

eu pareço qualquer coisa sem referência

bibliografia, história-geografia, retórica e eloquência

(sem rumo, parecendo natural, me mirando na irreverência)

você e a sua doçura, havaianas na areia, eu de vestido de chita, total impaciência

as bicicletas passando, na praia, do samba uma cadência

 

eu canso de esperar por você - estico o braço, pego na tua mão

você parece assustado, me olha nos olhos - com teu corpo, teus poros - com atenção

eu sorrio olhando pro céu - que céu, que mar, que lindo tudo, isso, a gente, seu olhar

que me olha, olha, olha, não para de me fitar [encarar, escancarar, desabrochar]

como se eu pudesse fazer sentido, como se eu fosse tangível, como se desse pra explicar

e quando eu olho nos teus olhos, e me olho nestes mesmos olhos, meu Deus, o que falar?

parece que canta, que dança, balança, encanta, me janta... e eu nem saí do lugar!

 

uma cena tão trivial, gente sentada na areia num fim de tarde

e dentro de mim tanta coisa, tanta inconsistência, impossibilidade - um alarde (!)

dentro de você? não sei. talvez desejo, talvez o medo, talvez carinho - como vou saber?

me conta tua vida, tua história, teu caminho, fala sem parar de você

essa tua voz vai me conduzindo, vou me virando, eu só quero te encontrar e me perder

a sua voz de música eu silencio - te beijo devagar

a areia, o céu, a praia, as pessoas, as ondas... tudo parece moldura a nos enquadrar.

 

 

 

 

 

 

 


música Chico Buarque - Ela faz cinema

publicado por Juliana Correia às 19:05 | link do post | comentar | ver comentários (3) | favorito

Sexta-feira, 5 de Setembro de 2008

É uma coisa estranha assim, escrever sem nenhum propósito desvelado. Eu escrevo pela vontade de estar contigo. De ter tuas mãos esquentando as minhas nas noites frias, de ter seus olhos regulando meus movimentos beirando o receio ou a admiração e fundamentalmente, escrevo palavras de saudade das nossas desengonçadas danças pela praças ou das nossas brigas escandalosas, berrantes e escancaradas- seja aonde fosse.

Incrível isso, sempre fomos mais dos gestos. Dedos em riste, dedos na cara, mãos se movimentando no ar, caretas de contrariedade, sobrancelhas se lavantando, braços cruzados. Somos um verdadeiro show de sinestesia e movimento. Pois isso faz engraçado que eu te escreva um bilhete, assim ao acaso, depois de tanto tempo sem te dirigir palavras. Essas tão estranhas palavras, que tantas e incontáveis vezes apenas nos separaram, muito mais do que nos uniram. Ainda assim, me rendo frágil a elas, como quem admite que não vê outra solução. Sei que o nosso problema é interpretação. (Sei também que você não acha isso, e tudo isso já iniciaria uma grande discussão! Vês?) Por isso torço para que as palavras escritas sejam mais minhas amigas, enlacem-se pelos teus dedos e subam até a sua cabeça, fazendo o mesmo sentido que tinham quando as escrevi, apressadamente, neste papel. Veja - eu te amo. Eu te amo por aquelas mesmas coisas que já te disse tantas vezes - o de sempre: o orgulho que tenho dos teus vinils do chico na estante, a satisfação de poder dizer, entre risos, as amigas, o quanto você é surpreedentemente rei dos lençóis e cavaleiro sagaz na disputa anti-monotonia, esse teu ciúme louco que me desvaria a vaidade, essa tua paciência com os filhos do vizinho e o quanto você faz sagrado o almoço de domingo na tua mãe. Sabes que te amo pelos beijos que me dá antes de dormir, pelas massagens nos meus pés depois de dias cansativos, pelo teu gosto por dançar na chuva ou pelo jeito com que dirige cuidadosamente se estou no teu carro. Mas talvez não saiba que te amo (mesmo e até mais, talvez, sendo o amor essa coisa irresponsavelmente sem sentido ou explicação!) quando chegas bêbado a equilibrar pela soleira, cantando músicas indecentes e gritando meu nome, quando aperta com força desnecesseriamente demasiada o meu braço porque alega que alguém estava me admirando, quando quebra os copos atirando na parede porque eu sou uma irracional que te irrita, quando trabalha demais e dorme demais depois para compensar, quando usa bermudas e camisas estampadas e me destrói de constrangimento, quando se revolta porque eu digo que desse jeito não saio, quando não pede desculpas e ainda amaldiçoa a minha insistência, quando come o macarrão sugando-o para dentro e, principalmente, quando me faz levar os teus gatos que eu odeio ao veterinário. Não imagino você percebendo a sutileza de amar teus defeitos, mas sim se zangando pelas críticas, com aquele seu tom de "e quem é você para achar que tem o direito de me dizer como ser uma pessoa melhor?". Eu sou ninguém, longe de ti ainda mais ninguém, perto de ti completamente ninguém - ou alguém-ninguém, que se transmuta em Amélia para te agradar, para te merecer, para te possuir corpo-alma-tudo. Alguém que ama vermelho, mas que veste branco porque você prefere. Que só andaria de saia, calça e short, mas que se obrigada a usar espartilhos e vestidos só para te ouvir sussurar doçuras ou travessuras ao pé do ouvido. Alguém que deita pra dormir e espera o teu pé roçar suavemente no meu, alguém que...já nem importa, sabe? Eu até importo, importa o que eu sinto, eu sei, eu sei que pra você importa, contanto que eu não diga. Você não pede desculpas, e grita essas impulsividades que nos seus ataques lhe sobem a cabeça e me ferem a alma, mas eu sei que você sente tanto depois, porque é nas minhas coxas que você repousa as lágrimas.

Coloque um sorriso neste rosto, homem. Eu te amo, gordo, magro, careca, cabeludo, bem barbeado ou beirando o hippie - porque amo mesmo é a essência cúmplice desta intimidade absurda que alcançamos com o casamento, talvez eu conseguisse isso com outrém, mas eu não tentei. Escolhi você e dei a busca por encerrada. Pensei em expressar minhas saudades tuas de outra maneira, mas foi natural que a dor repousasse nas palavras, talvez querendo que elas façam o que nunca fizeram - sejam a nosso favor. Eu te amo, homem. E em um mês estarei te abertando contra o meu corpo. Me espera, coração. A saudade já consumiu minha frieza, que ela saiba navegar nos teus oceanos de tristeza, pois bem.



publicado por Juliana Correia às 16:26 | link do post | comentar | ver comentários (5) | favorito

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