Sexta-feira, 29 de Agosto de 2008

Essa saudade possível

do que poderia, mas não foi acontecido

da dúvida constante do "mas como teria sido?"

da angústia da certeza de que isto nunca poderá vir a ser esclarecido...



publicado por Juliana Correia às 22:05 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Quinta-feira, 28 de Agosto de 2008

Eu estava vindo pela avenida, perto de uma hora da tarde, cansada, com fome, tudo engarrafado - daí achei uma brecha de engarrafamento e pude acelerar (e o fiz!) para virar á direita e entrar na rua da minha casa... enquanto eu andava rápido, tinha um carro querendo sair da vaga, de ré, e ir para a avenida. Ele precisava que os carros da avenida freiassem para que ele pudesse manobrar, mas eu? eu estava correndo. Até inclinei meu carro para a pista que ficava mais longínqua dele - lhe dando espaço para ir mais além, mas não lhe dando a chance de fazer o que ele queria/precisava fazer. E eu? Segui meu caminho e vim pra casa. Dei espaço mas não dei chance.

 

Uma cena supérflua, que me fez perceber que é assim mesmo que eu estou sendo com as pessoas nesses dias - estou dando espaço, mas não chance. Escuto o que elas dizem - mas desconsidero, julgo, critico, me agonio por dentro. Me abstenho dos debates em sala para que outras pessoas tenham voz, mas passo quase o tempo inteiro pensando 'quanto blá blá'. Deixo as pessoas tentarem se aproximar, sorrio, converso - mas não realmente deixo elas estarem comigo, em sintonia comigo, perto de mim, vivendo ao meu lado, trocando vivências. Estou chata. Chata e blasé. Desinteressante e desinteressada. Cansada.

 

As vezes só porque é a pessoa X que está falando, eu já desconsidero o que quer que venha - mesmo que a pessoa diga que José Saramago escreveu o melhor livro dos últimos tempos, que o TCA é o melhor lugar de shows de Salvador ou que tudo que Zeca Baleiro escreve merece crédito, acho que sou capaz de discordar.

Se eu acho isso bom? Impossível, né? Acho péssimo. Não basta eu parar para que o carro siga, ou parar para que a pessoa diga.. justo eu, que curso psicologia, que fico me pretendendo como 'trainee' da arte de permitir, compreender e auxiliar pessoas...ouvindo, sem escutar, julgando sem nem ter escutado, nem aí..

 

Pareço mais meiga para disfarçar que ando fria e oca, pareço mais simpática pra disfarçar que não estou dando nenhuma atenção ou valor, pareço mais ouvinte pra disfarçar que já não me sinto tendo mesmo é o que acrescentar, pareço acessível e segura para não deixar transparecer todas as inseguranças que andam habitando, pareço lógica pra não assumir que não faço sentido e por fim, pareço racional para que ninguém desconfie que tenho um coração enorme e transbordante.

 

Em contrapartida é tempo de muita angústia. Todos os dias penso em largar o curso, principalmente as terças e quintas. Todos os dias me pergunto o que diabos estou fazendo ali (ai como é difícil esse exercício diário e imprescindível de auto-crítica!) , quem diabos serão esses meus colegas de profissão e o quê que vai sair dali pra se concretizar aprendizado. Do mesmo jeito que duvido de todos, duvido de mim com relação a alguns - cada dia mais, de modo que não quero apresentar um seminário depois da pessoa #, porque ela é tão inteligente, maravilhosa e sagaz que vai deixar no óbvio exposto que eu nem sei o quê que estou falando ali na frente (!), ou não quero apresentar para professor tal por ter plena certeza de que nada tenho a acrescentá-lo... Haja contraponto, né? Pareço panela sem tampa, no sentido de que no meu degrau da escada estou sozinha, uns estão abaixo ou acima (o que é pífio, porque esse meu critério de 'degralização' não serve, já que os meus olhos estão condicionados a conveniência da preguiça -momentânea, se Deus quiser - de ir além.)

 

Por isso me desculpo com as pessoas queridas: pelos meus conselhos impacientes, pelos meus ouvidos desatentos, pela minha falta de acréscimo ou sensibilidade. Espero que seja uma fase que passe rápido. Por enquanto é meu tempo de passar em branco.

 

Aproveitem o espaço (certamente) - ou a chance (afinal, não percamos as esperanças!).

 


música Lenine - É o que me interessa

publicado por Juliana Correia às 17:30 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Segunda-feira, 25 de Agosto de 2008

Estou indo até o fim com você. Quero ser diferente das mulheres que passaram pela tua vida e passaram. Quero estar passando. Sei que você gosta (ou não?) desses meus bilhetes na tua carteira, no teu pára-brisas grudadinho, no espelho do teu banheiro...

Eu tenho é que estar presente, me fazer presente, sabe? Pois é assim que sei escrever e ler histórias, com personagens e suas possibilidades de presença e ausência (simbólicas e reais!) Mas eu, eu quero estar com você, estar em você, fazendo parte de você e do seu jeito de ver tudo isso, não como um parasita que te suga, mas como uma prova da evolução darwinista, um preparo para o que o mundo exige para a preservação tua...

Eu amo o seu silêncio que grita brutalmente em confronto em confronto direto com a minha proliferação de palavras (inúteis, em absoluto) e odeio o seu silêncio que me impede de te conhecer a fundo, de entrar em contato. (E nada supera o amor do que amar o que irrita no amado e se irritar com o que se ama - lembre-se disso sempre, guarde como amuleto para todas as horas).

Eu amo esse teu jeito de me observar, parecendo um lince na savana, absorto em observação, esperando o espaço/tempo de dar o bote, com ambição e força, como quem deseja e necessita saciar a fome na carne do pobre cervo (que sou eu) que pasta despretensiosamente e distraído na relva, pastando pelo campo (numa clara metáfora de "caminhando pela vida") esperando algo acontecer, não sabendo exatamente o quê - e aí acontece, você se projeta em silêncio e me ataca até a alma, carne, sangue, seu, meu, nosso, tudo e não diz nada, ao mesmo tempo que diz: acredita.

Depois a gente dorme, acorda, vai pro trabalho, almoça, volta e você segue sempre me achando, em mosaico de vitral (transparente e refletivo), aos pedaços pela casa, em bilhetes de poesia, em  lembretes de compromissos ou em cartas que começam do nada e terminam em lugar nenhum (você sabe né?) - pois tudo isso sou eu, sou todas estas mulheres, a real, a prolixa, a quente, a racional, a amorosa, a lúcida, a carente...a tua, sempre a tua. A que te ama dormindo como uma criança (no sofá, de óculos, por cima do jornal), a que te admira enquanto você tenta objetivar o abstrato, a que te diz o que ninguém te diz de um jeito que mais ninguém sabe dizer, a que não sabe te seduzir...

E nós vamos sendo sem ser, dançando sem música, falando de menos ou amenidades demais, tomando mais vinho do que deveríamos, e nos comprossimamos e comprometemos em questões úteis e intelectuais de trabalhos emergentes para que só possamos nos amar no supérfluo -  que é o melhor tipo de amor que há pra se compartilhar, o amor da preguiça matinal, do sexo corrido e carnal, do cinema no domingo, da discussão sobe o preço do arroz ou a corrupção, das idéias do que fazer com o orçamento doméstico, de regar as plantas, do beijo acostumado e do baralho na varanda -  e não fazer deste amor a razão da nossa existência.

Trabalhamos em tudo, menos em nós juntos, o nosso romance está na entrelinha de um parágrafo chato no meio do texto (aquele que ninguém lê), poderíamos ser um livro cômico, uma peça dramática ou um filme de terror.. dependendo da hora, do assunto, do contexto...

 

Enfim, boa aula de doutorado querido. O jantar te espera no forno.

 

Rafaela.


música Adriana Calcanhotto - Onde andarás

publicado por Juliana Correia às 21:50 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Domingo, 24 de Agosto de 2008

Somos sempre a mesma coisa e aí um dia a gente resolve parar de. Parar de escrever, de compor música (acordes, letras, enfim), de criar coreografias, de criar..

Porque criação começa a ser transferência..escrevemos sempre o mesmo texto, o mesmo acorde, o mesmo passo -> começamos a ser sempre os mesmos, a pensar as mesmas coisas, a precisar a qualquer custo dizer as mesmas coisas como se as pessoas não tivessem conseguido compreender ainda.

Se eu fizer um conto, uma crônica, um poema, uma história, um livro, um romance, uma novela, um texto-relato: todos serão sobre o meu desentender desse jeito de viver hoje, sobre esse ressentimento do amor que não damos ou que não valorizamos, desse jeito veloz e efêmero de levar a vida, dessa compulsão umbiguista e hedonista de que ser jovem e feliz é comer todo mundo e nem saber o nome e nem significar nada, dessa solidão de estar perto sem estar, sem compartilhar...

Todos os textos serão disso: escancaradamente, nas entrelinhas, numa nota de rodapé, encarnado em um personagem.. não há para aonde fugir.

Acho que é por isso que eu ando escrevendo tão pouco.. os textos vêm claros a minha cabeça e eu me dou conta de que se os escrever todos os entenderão, porque na verdade, todos já leram aquele texto, todos já leram os meus textos, todos já me leram...

 

 

Aonde é que as pessoas se reciclam?

Penso que ainda seja no contato com os outros, no absorver outras coisas, outros pensamentos, outros caminhos, outras vivências e outros significados...

Mas, nesse meu mundo de crítica, quem tem a acrescentar? Quem tem coragem de acrescentar?

(Alguns perseveram, é verdade.)

 

 


música Zeca Baleiro - Não adianta

publicado por Juliana Correia às 18:28 | link do post | comentar | ver comentários (3) | favorito

Segunda-feira, 18 de Agosto de 2008

Escrevendo a vida com formato de peça teatral

Qual seria o meu arsenal?

Drama ou comédia?

Romance ou tragédia?

 

Protagonizaria todos os momentos

Diante de olhares atentos

Faria escandâlo do meu riso, semearia meu típico pranto

Esbravejaria minha lucidez, renegaria meu romantismo sacrosanto!

 

Eu caberia em todos os personagens da minha história

Alter-egos desencaminhados, tortos, buscando qualquer glória

O bandido raivoso, o bobo da corte estabanado, a meiga mocinha

O clichê do príncipe encantado, a crueldade da bruxa malvada, a inércia da fadinha.

 

Tudo sou eu - tudo quase seu 

tudo tão parado, movimentado, inundando o quarto, breu...

Abram as cortinas e enxerguem todas as brincadeiras da protagonista

As inspirações cruas, o ar de nostalgia ou lucidez, o lado sado-masoquista...

 

Fechem as cortinas, eis chegado o fim da apresentação

Me curvo, timidamente, esperando a saudação

As cortinas vão se fechando, e eu me despeço do palco que me consola.

Agora é da solidão (mais uma vez) a grande hora.

 

 

 



publicado por Juliana Correia às 00:49 | link do post | comentar | ver comentários (3) | favorito

"Não sei bem o que dizer sobre mim. Não me sinto uma mulher como as outras. Por exemplo, odeio falar sobre crianças, empregadas e liquidações. Tenho vontade de cometer haraquiri quando me convidam para um chá de fraldas e me sinto esquisita à beça usando um lencinho amarrado no pescoço. Mas segui todos os mandamentos de uma boa menina: brinquei de boneca, tive medo do escuro e fiquei nervosa com o primeiro beijo.
Quem me vê caminhando na rua, de salto alto e delineador, jura que sou tão feminina quanto as
outras: ninguém desconfia do meu anti socialismo interno.
Adoro massas cinzentas, detesto cor-de-rosa. Penso como um homem, mas sinto como mulher. Não me considero vítima de nada. Sou autoritária, teimosa e impulsiva . Peça para eu arrumar uma cama e estrague meu dia. Vida doméstica é para os gatos....
Tenho um cérebro masculino, como lhe disse, mas isso não interfere na minha sexualidade, que é bem ortodoxa. Já o coração sempre foi gelatinoso, me deixa com as pernas frouxas diante de qualquer um que me convide para um chope. Faz eu dizer tudo ao contrário do que penso: nessas horas não sei onde vão parar minhas idéias viris. Afino a voz, uso cinta-liga, faço strip-tease. Basta me segurar
pela nuca e eu derreto, viro pão com manteiga, sirva-se.
Sou tantas que mal consigo me distinguir.
Sou estrategista, batalhadora, porém traída pela comoção. Num piscar de olhos fico terna, delicada. Acho que sou promíscua. São muitas mulheres numa só, e alguns homens também."

Martha Medeiros, Divã.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 





música Samba do Grande Amor - Chico Buarque

publicado por Juliana Correia às 00:44 | link do post | comentar | favorito

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