Quinta-feira, 31 de Julho de 2008

- Eu vou embora porque não posso mais ficar. Perdi o respeito por mim e por você e por tudo que a instituição relacionamento significa.

- Claro, claro. Pra vocês homens é sempre fácil - uns vão,outros vêm e tudo roda em torno do prazer... Até quando você vai insistir nisso?

- A questão não é essa. A questão é que eu não sei qual é a questão, não tenho mais pelo que lutar aqui.

- Tudo que te agradava revira teu estômago agora? O meu batom vermelho que era sexy, hoje é coisa de vadia, porque as outras mulheres o aposentaram? O meu cinismo que você chamava de personalidade, hoje é sempre o escárnio que você ressalta...

- Não existem heróis. Não existem bandidos. Existem pessoas, sentimentos, situações, tentativas... Crescer é entender isso. Nem tudo é sustentável.

- E nem tudo é racional, sabe? Nem tudo é preto no branco, existe tanta subjetividade... Você já pensou em como eu me sinto quando você brocha? Quando você volta tarde e dorme no sofá? Quando eu leio aquelas mensagens no teu celular? Eu preciso que você vá, mas quero que você fique - tudo na mesma medida! Porque? Porque com isso eu sei viver. Sei já como é a dor das migalhas da sua presença. As superfícies do nosso encontro - hoje tão desencontrado. Sei hoje que você não me quer, mas sei que você, ou alguma parte tua, ainda não foi embora. Com isso, com essa mediocridade, eu tenho laços, afinidade, costume.. sei lidar com isso. Não sei lidar é com a sua ausência...

- Mas isso é loucura! Você mesma já falou que eu já estou ausente! O problema não são os outros, sou eu, é você, é o que estamos fazendo...

- Foda-se! O problema sempre tem que ser comigo, não é? Não são as outras mulheres que são gostosas - eu é que não sou, não são as outras coisas que te deixam livre - eu é que te deixo preso...Nunca é o fato de você não saber o que quer, praonde vai.. é sempre eu, eu, eu! Não posso ser todas as mulheres que você quer...!

- Você não sabe nem ser você mais! Olha pra tudo isso que você tá falando, está me pedindo pra ficar, mesmo que eu fique ausente, me pedindo pra estar, mesmo sabendo que eu já não posso... Veja bem, já são quatro anos de relacionamento, já existiram traições de ambos os lados - e nós relevamos, já brigamos, já nos xingamos, já nos amamos, já transamos no elevador, já quebramos copo nas paredes, já dançamos no chão de madeira de madrugada, já dormimos juntos, separados, viajamos... Parece que esgotamos. Que não temos mais o que fazer. Agora que eu arrumei as malas pra ir embora você veio falar comigo.. mas antes, só existia silêncio, só existia abismo, só existia espaço..e os outros, e o mundo, e as coisas foram preenchendo estes espaços que ficaram, de modo que agora não há mais brechas, retornos, escapatórias...Tivemos o tempo rodando e não fizemos nada, você me viu partir daqui, eu te vi partir de mim.. E agora que é concreto, você resolve arregaçar as mangas. O amor também tem tempo, e tempo sempre acaba...

 

(Continua indefinidamente...)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente”.
(Clarice Lispector)

 


música Caetano Veloso - Queixa

publicado por Juliana Correia às 21:45 | link do post | comentar | ver comentários (4) | favorito

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