Estou me sentindo a própria Lya Luft fazendo ensaios sobre temas abstratos (ou que não são possíveis [por enquanto] de comprovação cientifíca, ou pelo menos dos quais não tenho a mínima noção das pesquisas já feitas na área - mas é tudo que eu consigo escrever, um blog-diário-ensaio.)
Vim falar sobre escolhas porque tenho feito umas poesias sobre e tenho me sentido extremamente repetitiva, mas quando o que habita dentro de nós é uma única substância, fica complicado transformá-la em outra coisa. Não que eu tenha muito a dizer sobre, mas pelo menos direi com a exatidão que as rimas não sabem me proporcionar.
Se escolho um livro de Isabel Allende nas prateleiras da saraiva, obviamente estou renunciando a um livro da Agatha Christie, do Bauman ou até de Drummond. Apesar de pautar as escolhas no meu gosto, não necessariamente desgosto de algum dos autores, ou gosto mais de outro - apenas escolho de acordo com o momento, com a possibilidade que minha consciência me dá naquela situação experimentada.
Como assim? É fato que nossa conciência é limitada - afinal não podemos estar cientes de tudo que sentimos, de tudo que o mundo nos oferece, de como os outros estão reagindo a nós e de tudo o mais - portanto, sempre, em alguma medida, com relação a algo, estamos mergulhados resignadamente na nossa ignorância escolhida. Escolho um filme e deixo de ver outro, escolho um livro e desconheço ler outro, escolho um parceiro e passo a ignorar a pluralidade de outros posíveis que me cercam. Escolher é renunciar, mas ter consciência das nossas escolhas é também ter o poder de contextualizá-las, de (re)pensá-las, (re) elabora-las etc.
É MUITO mais fácil e mais cômodo ficar resmungando num canto do sofá sobre como a vida é injusta conosco, sobre como as pessoas não nos entendem, os outros não nos respeitam, as notas não correspondem ao nosso estudo, etc. Mas, sobre isso, sobre esta percepção/comportamento/tratamento que atribuímos ao outro, há algo que possamos fazer para contornar? Penso que não. O que nos é possível de mudança é o que somos, e se escolhemos não mudar, estamos também escolhendo manter esta vitimização e suas consequências. Nem tudo que é mais fácil é melhor (quase nada, para ser bem sincera).
Mas aqui falo de escolhas possíveis, porque as impossíveis são apenas mais uma variação da prostração diante da vida - não adianta ficar resmungando que quer ser 15 cm mais alta para ser modelo, quanto a isto não há o que fazer, mas daí escolhe-se projetar na vida um sonho inconcretizável ou batalhar para alcançar algum outro possível. Com relação ao que não é mutável, ainda nos cabe decidir o sentimento que vai reinar - amargor ou resiliência?
Escolher não é fácil e as vezes passamos batido até de entender que estamos escolhendo e que não estão escolhendo para nós. Já disse Jung "sou uma pergunta colocada ao mundo e preciso fornecer minha resposta, caso contrário, estarei reduzido a resposta que o mundo me der." Se seu namorado foi grosso ontem, é evidente que ele tem culpa, mas o que m você também tem? A parte que deixa ele interferir tão intensamente no seu senso de humor, a parte que não soube desprender que não era com você? No fim, você escolheu se sentir assim, ou se sentiu impulsinado a. Ou vai ficar reduzida ao sentimento que ele te impor?!
Nada mais do que conjecturas. Quem entendia de existencialismo era Sartre. Eu só cansei de me lamentar dos enlaçes da minha vida que não fluem como eu gostaria - alguma culpa nisso eu devo ter, não é possível - e comecei a me policiar. Olhe ao redor, com certeza não te faltarão vítimas de amor não correspondido, famílias opressoras, etc...
Nem tudo nos pode ser condicionado, mas sempre podemos nos condicionar.
Já disse Huxley: "não sou aquilo que fazem comigo, sou o que faço com o que fazem comigo!"
Refletir sobre isso pode levar a loucura ou a sanidade.
Escolha.
Uma lágrima não faz o pranto
uma boca só não faz um beijo de casal
uma rima não faz o poema
um arranhão não esvai o sangue
um abraço não faz amor
uma promessa não faz verdade
o sol, por si só, não significa felicidade
flores no dia seguinte não necessariamente são verdade.
uma desilusão não precisa trazer dureza
sempre nos cabe a escolha
entre o caminho do amargor e da alegria
entre fazer em nós abrigo da noite ou dia
vestir as cores do inverno ou as flores da primavera
viver de tormento ou de quimera
consciente ou incoscientemente
sempre da gente depende
fazer com as coisas que fazem com a gente
algo que s-e-j-a algo -
algo que signifique algo, que seja óculos que miremos para a vista
que traga dentro da nossa possibilidade, que escolhamos vida.
Tenho me sentido indisposta com o mundo quase que irrestritamente o tempo todo. Talvez isso se dê porque no meu âmago tenho me sentido insatisfeita todo o tempo comigo mesma também. Não quero crer que meus maiores méritos do momento são notas dez em provas da faculdade. Não quero crer que duas sessões de terapia por semana não estão produzindo as mudanças interiores que eu exteriorizo com eloquência e lucidez dignas dos que querem ser melhores.Não consigo lidar que minha paciência vá se extinguindo como areia numa ampulheta numa velocidade inapropriada para a convivência - e por isso eu em tranco em casa, antes que eu cuspa na cara de alguém por algum motivo abjeto e nada concreto. Não quero crer que, invariavelmente, em frequência acima do tolerável eu me sinto sozinha.
Comecei isso da maneira mais fútil que há - tenho amigos do colégio, amigos da faculdade de jornalismo, amigos da faculdade de psiclogia, amigos da vida, amigos dos amigos e alguns primos da minha idade mas ainda assim, vez por outra, em algum sábado que por milagre eu queria viver ao invés de pensar (pensar tem doído tanto, que abdico do cerébro se cessar meu pranto!) não achava ninguém que pudesse sair comigo para dançar ou para tomar uma tequila. Me senti sozinha diante de amigos que não tinham dinheiro para sair naquele dia, que já tinham outros compromissos, que queriam fazer algo mais light - me senti sozinha e incompreendida quando me deparei frente a frente com o diferente, com o que não sou eu. A culpa do ciclo é minha, claro. Eu me afasto para evitar a agressão gratuita da minha falta de tolerância com a existência banalizada (inclusive a minha - porque viver dentro da minha cabeça é banal DEMAIS) e me sinto sozinha. Quando tento me aproximar, os outros já se afastaram (porque eu os afastei) e eu volto a me sentir sozinha. Isso se agrava e não se encerra. Nem escrever eu consigo...e olha que meu escrever é temperado no desespero e requentado em angústia pura e sublimada - se não doer, não tem graça.
Mas hoje me senti ainda pior, mesmo tendo saído com o pessoal ontem mesmo. Estou vendendo meus rins para assistir Blindness, Ensaio sobre a cegueira. Leio as críticas, leio o blog do Meireles, cogito reler o livro... mas não acho com quem dividir todos os sentimentos que esse livro me desperta. Essa falta de companhia na alma dói muito mais do que falta de companhia dos fins de semana. Olho apalermada para um ou outro e narro o quanto eu espero que ele faça um filme claro e sujo ao mesmo tempo, o quanto espero que ele me dê a ânsia de vômito que o livro me deu, o quanto quero que ele "saramaguize" com crueza na tela...E as pessoas me olham como se eu falasse de algo de outro mundo. E vai ver que estou falando... não porque não estou discutindo o créu velocidade cinco ou o sei lá o quê que ande em voga no momento, mas simplesmente porque toda a curiosidade da trabsposição de subjetividades de um livro para uma tela não pode me locomover a lugar nenhum. Mas me locomove. Me move inevitavelmente a solidão de todos os livros que eu li. E de todas as subjetividades que eles ne fazem sentir. E do cansaço que eles me dão do que não se desdobra.
Me sinto um pouco personagem de Gabriel Garcia Marquez em Cem anos de Solidão. Comprei o livro em outra fase dessas de solidão esmagadora achando que leria uma saga de branco-vazio e questionamento filosófico existencial - me deparei foi com um livro cheio de personagens que se encontram, convivem, sentem, exasperam em contato com o mundo e com os outros mas em si são apenas sozinhos, são de fato os únicos que se acompanharão vagueando cegos pelo que não sabem e cegos também pelo que sabem. O que fazer? Demorei tanto tempo para entender que no meio de todos esses avança-volta dos personagens entre tantos personagens e anos eles eram sim sozinhos. Demoro tanto para entender que também sou.
Não sei o que me leva a escrever essas coisas sobre a minha solidão no lugar mais exposto que há - a internet - mas que diferença faz? Me sentir sozinha é ruim. Mas me achar a minha pior companhia - sendo a única possível - consegue ser ainda pior. Tudo bem. Eu fico aqui sozinha com meus livros do Gabriel. Fico sozinha no divã. Fico sozinha ouvindo los hermanos no carro enquanto dirijo na chuva. Ficarei sozinha na fila de estréia de Ensaio sobre a Cegueira. Arranjarei coragem para ir sozinha assistir o filme novo do Woody Allen.
Sobre a solidão e outros pormenores...Eu; sempre eu.
Perdi o tom
E o ritmo da rima
Talvez ser bom
não seja minha sina.
Quando as palavras não dizem nada ;
não há dom melhor que reconhecer
e se render a hora de ficar calada.
Não faça cócegas no meu coração
se você não pode lidar com meu mar em calmaria ou agitado por um tufão.
(pois sim, sou tudo isso - e você acabará por interferir no processo de transição)
Não chegue cativando com delicadeza
se não pretende sustentar (enquanto for válida ) a relação com sutileza.
(seja na simples existência de nós, nas palavras que são todas "eu te amo" ocultas ou no jeito de se sentar a mesa)
Não me cause rupturas e revisões, não faça eu validar
o que não é válido, o que não dura, o que é condicional demais pra perseverar.
(manutenção não é fácil, doação é escolha constante do de novo se doar)
Não me tire do comodismo do que conheço, do que administro, do que acostumei a lidar,
se não for pra oferecer: sonhos que me estendam as mãos ou risadas sobre alguma besteira ou uma ligação pra discutir algo sem relevância particular.
("você não sabe o que almocei hj, etc")
Não me submeta, não me comprometa, não me machuque
não me seduza de graça, não faça eu me encontrar com minha vã vulnerabilidade
(eu não aguento a minha fragilidade, não sustento, me queira feliz de verdade.)
seja homem, abrigo, amigo, amante, distante, presente, humano, singular
não prometa o que não cumprirá, não acorrente sua liberdade, tenha asas pra voar
pelo mundo, pela descoberta, pelo dia-a-dia - são as mesmas asas que baterás pra voltar.
(hoje sei que o amor vive ao redescoberto todos os dias se desdobrar)
Me deixe saber que posso contar com você, além da amabilidade.
Jure apenas: parceria, apoio e cumplicidade.
Do resto damos conta, damos jeito, discutimos e criamos possibilidade.
(o resto é tudo possível, passível, imprevisível, discutível, aberto...)
Exijo utopicamente que para me aguentar...
....só venha se for pra me amar. (do jeito que souber, que der, que possível se fizer
- mas do jeito que faça essa vida valer a pena, o dia parecer menos cinza
a psicologia não precisar de sentido, tudo brilhar mais, meu sarcasmo não soar ranzinza.)
Os olhos vêem
O coração sente
E toda concepção se faz neste instante e disto reflexo
permanentemente.
As coisas em si são como são
mas cada olhar apontará uma direção
de alguns cairão lágrimas, outros bilharão com profusão
o "olhar dentro e através" da coisa é construído de emoção.
Aceite pontos de vista
pois cativar olhares é uma conquista
já que cada um é o que é e traz em si a perspectiva
e sobre isto julga tudo que aparece e se explica.
Dai advém a multiplicidade
sou o que sou, e o que sou me leva a ver de tal maneira
cada um sendo uma singular história, tem sua própria possibilidade.
e com os olhos diante do mundo, digo:
- vê com o melhor da tua lucidez e da criatividade
condiciona os olhos a irem além do que julgam realidade
e enxerga de tudo o âmago da existência e mortalidade, pois
só assim, dará aos teus olhos luz e sentido com verdade.
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