Aponte uma direção
Desaponte a intuição
Estabeleça sua própria ponte de conexão
Atravesse-se a e se entregue
a desrazão que rege a inexatidão.
(não carregarás certeza,
senão a inexistência das mesmas
na tortuosidade que compôe a amplidão)
Escrevo
porque não sei fazer mais nada
Escrevo sobretudo,
quando o dia que habita em mim é madrugada
Escrevo, pois
sem cerimônia, sem hora marcada
Escrevo mentalmente
no meio da aula, passeando no shopping, subindo uma escada
Escrevo
para transpor o que ouvi calada
escrevo para exaurir
tudo o que torna minha voz embargada, toda a dor que me deixa engasgada
Escrevo sobre tudo
que me faz pensar, que me alegra, que me dói, que me amarga
Escrevo escrevo escrevo
como se isso me concedesse uma pessoal resposta respaldada
Escrevo na esperança
de um dia ser desvendada
Escrevo por escrever
e por isso faço da minha arte a morada mais sagrada.
Quem volta, certamente já foi
E para ir teve de reunir coragem
Até para converter em "Tchau" o outrora "Oi"
para fazer útil o carregar da bagagem.
Se a vida é o caminho da viagem (que viagem!)
Sábio será aproveitar em toda estação
Se sabe-se tudo só de passagem
não fiquemos presos-arraigados a nenhuma sensação.
Vive portanto o que o momento pede
se entrega ao pranto das lágrimas perdidas
teu maior sorriso possível, nos concede
amai o eterno, entrega-te as paixões sentidas
O trajeto é de dualidade
por mais responsável que sejas por quem é e por plantar o que mais pra frente vai colher
ainda assim estará a margem do acaso, da sincronicidade
pois este trem não conhece continuidade, expectativa, vontade, dever...
Meu coração
Inerte, inconsciente
Não esconde, não mente
Apenas dá vazão
a criança inconsequente
que ele é, permanentemente.
Nada entende, se entrega, só sente
a solidão não estende...
...e em plenitude se abre
pro que só se habita, pro que só se sabe:
para ser a pura doação do amor
que conhece da dor e da alegria todo o sabor,
que pelos meios infiltrados, adentre
que em mim se consagre: até o ventre.
revire as entranhas, me faça ninho
abro de bom grado meu corpo para ser o caminho
me persigo inteira por você
inteira na busca de refazer-me para melhor te receber
para completar a sagrada perpetuação
te levo em mim, no âmago, no colo de dentro, no coração
aquele mesmo incansável
que faz de si atabaque estável
em todos os ritmos te escreve
em toda extensão do meu corpo ; com vigor e simplicidade:
- filho, vem-te a mim, semente da eternidade.
Querer agradar especialmente alguém
é sempre o primeiro passo para não agradar ninguém.
* Seguindo o raciocínio de escrever (para variar) para pessoas que valem a pena.
Por você eu desisti de classificar entre certo e errado as coisas
porque senão, eu e você estaríamos dando errado e eu te quero certo, perto.
Não adianta – você nunca vai desistir dessa idéia de que pra ser boa
eu tenho que ser o que você quer, o que você julga bom, senão sou a toa.
Somos oito ou oitenta, ou abraços e beijos incessantes
ou distância e discussões, desentendimentos e silêncios massacrantes.
Você me levava pro hospital, me deitava na sua barriga
era legal com as minhas amigas, passava mercúrio na minha ferida.
Tenho o seu humor, sua personalidade difícil, sua extroversão
não tenho sua auto-suficiência, sua perspicácia, sua racionalização.
Você me acha inteligente e sempre me comprava os livros que eu pedia
mas você também parece me achar feia e desinteressante e reforça isso dia a dia.
Com o tempo fomos nos aprendendo, hoje nos damos melhor
mesmo que não concordemos, confio que me acolherás (até discordando) e não me deixará só.
Cada um tem um jeito de amar e de viver o amor que sente
tenha certeza que meu amor existe mas se reluta em demonstrar o que pretende
é munido de admiração, mágoa, eternidade, esforço, disformidade
é desrazão, doação, contramão, desistência e banalidade
parece uma teia sem seqüência, ás vezes gritante, ás vezes escondido
sempre guardado ao avesso dentro do peito, querendo por você ser desapercebido
eu finjo que não te amo, para me enganar
eu finjo que não te amo, como se isso viesse a me fortificar
mas no fundo eu te amo tanto que fingindo me ponho a chorar
por todo esse amor que eu sinto e que queria derramar
por todo esse amor que eu queria também que você se abrisse pra vivenciar
pelo amor do amor que se liga sem se explicar, sem motivo
eu reclamo, brigo, levanto a voz e recuo, não digo.
Mas se precisas de certeza – a carregue :
Eu te amo mais profundo do que (a princípio) qualquer atitude minha negue.
E de viver esse amor de “oba” ; “ui” ; para” “ai”
Te consagro dentro de mim, na vida do bom e ruim, eterno e amado – MEU PAI.
-> Para você que um dia me fez uma poesia e nunca me mostrou, eis agora a resposta rimada poética, a melhor que lhe dou.
Obrigada
Você passou bem rápido
Como as nuvens no céu
Com o seu morno tom pastel
De quem vive de lembrança do que já passou, mas não curte o que se passa enquanto passa
Você passou depressa, em coisa de instante
E você podia ter sido grande
Mas quis ser só mais um.
Mas você valeu a tinta e a pena
Não pelo beijo molhado, não pela conduta serena
Mas porque o seu mal achado, o seu desatento torpor
Me fez ver que o que eu quero e mereço é mesmo amor.
Você teve que viver comigo
pra eu saber que mesmo sem coragem, eu não queria aquilo, amigo.
O que eu quero é assobio, dormir junto, pro que eu quero ainda não tem nome
risada, pudim, teatro, apelido ridículo, indissóluvel, sentimento que não some
eu queria amor - que você não sentia e não podia dar
eu queria amor - que eu não sentia e não podia cobrar
eu errei com você - para me acertar
você errou comigo - e me fez acordar.
te dedico esse poema clichê
que diz o que eu antes não sabia dizer
só queria mesmo era agradecer
por ter passado interessante e depressa
pra me mostrar que não foi você, mas com tudo se aprende
e que com o grande amor eu já vou ser bem diferente.
Cansei minha gente. Porque tudo tem uma hora que cansa. Cansei do mesmo cd rodando no meu carro, com aquela voz melancólica se arrastando pra sempre naquela letra de amor que eu não vou viver (ninguém mais da minha idade quer viver amor, ainda menos se for amor de Chico, de Camelo, de Caetano). Cansei de não entenderem a minha pizza de abobrinha. Cansei de escrever sempre os mesmos textos sobre algumas dores que nem sinto mais e alguns amores que nem moram no meu peito e cansei também de nunca escrever para os que me amam melhor, ou pelo menos, de verdade e aparentemente com poucas ou nulas condições. Cansei de tentar administrar e equilibrar o mundo e as partes. Cansei de não conseguir tomar as melhores decisões e obter sucesso nem nas minhas partidas de The Sims. Cansei até de sentar no divã - não tô nem aí pro meu consciente, pro meu inconsciente, pra essa onda de saber quem eu sou - tudo que eu queria agora era não saber quem eu sou num lugar bem lindo, super bem acompanhada, abestalhada de apaixonada,tomando um vinho e comendo um macarrão com tomate seco. Ser independente é uma maravilha, mas é um saco voltar SOZINHA, com um puta medo de ser assaltada, com mais medo ainda de dormir no volante ás três da manhã, dirigindo até em casa depois da noite miada com as amigas desesperadas por encontrar um homem interessante - que nunca aparece, é claro. Estudar o que a gente gosta é sensacional, mas tirar uma nota mais ou menos depois de muito estudo é frustrante e desmotivante - cansa.
Consciência de que o cara que você amava há 5 anos atrás não conseguiria concretizar seus sonhos românticos de hoje, cansa. Ver as pessoas pescando em provas para tirar uma boa nota quando elas deveriam estar aprendendo o contéudo para usar futuramente, cansa. Ver o poder que pequenos comentários tem no meu senso de humor, cansa. Ver que eu sempre procuro as certezas e quando elas chegam me dão (ainda) mais medo, cansa. E cansa quando a inspiração vai embora. Cansa quando todo mundo se choca na TV com a morte de uma criança mas todo mundo segue jantando em meio ao conformismo perante a miséria do dia-a-dia.
Cansa chegar cansada de noite e não ter pra quem ligar. Cansa colocar a cabeça no travesseiro e nem sequer ter em quem pensar. Cansa quando eu me sinto sozinha, apesar de tudo. Cansa que cada amiga minha faça uma faculdade e que tenhamos que trocar sete emails para conseguirmos nos ver daqui a 20 dias (!). Minha má vontade de levantar da cama todo dia de manhã me cansa - já sei de cór que vou acordar pesando os prós e os contras, as matérias, os conteúdos, os professores do dia, e acabarei por dormir até meio dia e me arrepender mortalmete - porque só eu copio toda a aula em forma de compreensão e não de tópico, ou ir voando pelo caminho e sem tomar café, porque a indecisão me atrasou horrores. Até a preguiça de existir ou a preguiça da arte de existir; me cansa. Cansa ter tanta coisa pra estudar que mal dá pra ler meus livrinhos de literatura e poesia em paz.
Papinhos furados na fila da xerox, pessoas que me chamam pra sair só pra ter minha carona, gente que complica, barracos a toa - cansam. Cansei da minha cara no espelho. E das brigas repetidas e repetitivas com a minha mãe. Cansei de sentir saudades impossíveis, de chorar águas passadas, de conversar mentalmente comigo mesma sobre o quanto estou bem resolvida - renegando que se estivesse mesmo bem resolvida, não precisaria me convencer disso, não precisaria passar o dia elaborando planos mentais nos quais me vingo de algumas pessoas aparecendo por cima da carne seca na frente delas. Cansei até dos meus livros na estante, das minhas músicas de velho, dos meus filmes dramáticos. Cansei do mundo que acha que ser triste e anti-social é cult. Cansei dos meus valores morais que não revisito, cansei de não questionar se ando ganhando ou perdendo. Cansei da minha grosseria. Cansei de achar que tenho todos os problemas do mundo e motivo para todas as angústias e me deparar com a realidade e perceber que boa merda é ser o que eu sou, tem tanta gente MUITO pior - com fome, com dor, verdadeiramente sozinho, doente, vendo o filho sofrer,sem eira nem beira, nem assistencialismo de terceira classe....
Cansei de desabafar aqui. Cansei de encher o saco com o meu cansaço.
Tô esperando o bode do mundo passar e a inspiração cansar de descansar, pra me recompor e vir rimar.
Lendo Calligaris em seu maravilhoso livro “Cartas a um jovem terapeuta”, me deparei (até catatônica) com uma afirmação sugerida pela vivência do autor: “o quarto e último traço que gostaria de encontrar no futuro psicoterapeuta é uma boa dose de sofrimento psíquico”. Aos radicais peço calma – ele não quer dizer que num manicômio devemos ver os “loucos” e os “psicoterapeutas” estabelecendo o mesmo comportamento de modo que não nos seja possível estabelecer a distinção. Penso que ele quer dizer que todo profissional deve ter o conhecimento e a vivência do que estuda – e que ao se tratar do humano em sua subjetividade (ou consciência, comportamento, inconsciência, escolha, angústia podem ser tratados como objetivos?) é emergencial que o leque seja amplo. É preciso saber viver com a dor e saber explora-la, e escapa-la, e reencontra-la e vivência-la... “o futuro terapeuta, deve, ele mesmo, ser paciente durante um bom tempo”. E quem procura análise? Pessoas que tem coisas mal resolvidas. Dores que ainda soluçam. Ou engasgam.
Bom, pensando nas minhas dores, considerei especialmente que me orgulho muito de ter conseguido aprender a dirigir (eu sei que para muita gente é banal, mas pra mim foi uma batalha). E de até agora seguir dirigindo. Ainda morro de medo de estacionar e levar o carro de alguém. De cruzar a pista e não ver algum carro. De fazer qualquer barbeiragem – das banais as graves! Tive medo, fazia aula de auto escola chorando, fiz umas 30 horas extras além da auto-escola, consegui tirar a carteira de primeira, papai me deu o carro e eu sai pelas ruas – morrendo de medo, mas enfrentando. Bati num carro estacionando na Perini. Liguei pra papai aos prantos e disse que não queria mais dirigir. Tudo resolvido, tudo certo. A necessidade se fez eminente e lá estava eu dirigindo o carro de volta pra casa. Tempos depois, levando meus avós ao médico, bati o carro com toda a força no fundo de um ônibus. Sacolejei meus velhinhos, afundei o capô...o que fazer? Coloquei-os num táxi, esperei a SET chegar, fiz a ocorrência, respirei fundo e lá fui eu de volta pra casa. Só fui chorar e sofrer depois do carro já estar estacionado na garagem. Foi traumático, foi difícil, deu uma puta vontade de desistir. Mas as vantagens de continuar eram maiores – ainda que o medo de dirigir exista, é melhor ir de carro do que ter que pegar dois ônibus, é melhor poder ir e voltar na hora que eu quiser, não ter que esperar ninguém poder me dar uma carona...e assim, considerando meu ganho, vou escondendo minha perda.
Considero que assim devo fazer com os amores. Já quebrei a cara pelo menos umas três vezes. Doeu. Deu perda total em alguns momentos, em algumas partes do coração. Foi muito choro no divã da psicanalista. Muito amargor ao ver a vida. Foi desilusão pura e simples – e traumática, e que trouxe consigo coisas que se grudaram por dentro como a gente gruda um imã na geladeira; ou seja, com naturalidade. Eu já quis desistir da paixão, do amor, dos relacionamentos – achava que não compensava nem os meus esforços, nem as vitórias dos meus medos, nem nada. Fiz paradas. E nessas paradas que fiz – com o carro e com o amor – aprendi que cabe sempre a mim decidir o que vale a pena e o que é perda, o que é ganho e o que é aprendizado. Aprendo mais na dor – inclusive para o futuro profissional (!) – mas nem por isso quero viver nela. Contudo, também não desejo um desfrute pleno e constante de felicidade – sobre o que eu escreveria? Como poderia entender e ajudar as pessoas que vem desabafar comigo? Talvez eu tenha me moldado das minhas pequenas dores sim. E talvez isso não seja ruim. Talvez tenha me feito associar que nesse Holismo que tem que ser (para mim) o viver, eu precise de tudo, conhecer tudo – para gostar, absorver e até mesmo para detestar e renegar.
De um modo ou de outro, meu carro não parou mais. Tampouco o coração.
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