53 dias.
1272 horas...
Quanto tempo jogado fora!
quero ser Vinícius de Moraes
casar nove vezes
e continuar correndo atrás!
quero ser Vinícius de Moraes
sofrer, viver e rimar
e de amar ainda ser capaz!
quero ser Vinícius de Moraes
viver de me doar
e ainda pedir mais!
quero ser Vinícius de Moraes
fazer poesia com a vida
e apesar dos apesares, saborear a paz!
Apesar de (hoje em dia) ser uma coisinha quase a toa
O amor ainda sabe ser uma coisa boa.
Em todas as horas traz conforto e alento
É o se sentir protegido em um abraço, se sentir privilegiado por um olhar atento
É o cuidado com as palavras, os sonhos divididos
As saudades apertadas pela distância, conversas ao pé do ouvido.
Tem cheio de infância, colo, descoberta
por mais que chova e se feche as janelas, o amor traz sempre porta aberta.
É a mãe trançando o cabelo da filha
O amigo que fica no seu lugar na fila
O pai que abre mão de algo em prol da família
Querer estar a dois em uma ilha.
O amor não é contudente
ele ri, chora, bagunça, imagina, espera, é até descrente
O amor não é linear
tem dias que nem acorda, em outros existe só pra se doar.
O amor não é legível
ninguém entende a intenção, não existem jeitos de amar iguais, não é previsível
O amor não é clichê
chega sem dar aviso, vai embora sem saber porquê.
O amor me inundou, sem que eu esperasse
nunca fomos grandes amigos, mas agora fizemos enlace
me sinto cheia de amor por dentro
com ele, dou carinho, faço rima, tento
levar da melhor forma possível até as coisas mais doloridas.
e é no amor ao amor que consiste o mistério da vida!!
"- O que você faria no meu lugar?"
Era enfim ali o momento que a pergunta caia. Eu já vinha esperando por ela, por conhecer sua notória previsibilidade, afinal, eu também passara vários anos sentada no divã procurando minhas próprias respostas. Respeitei a pergunta e achei até natural - não é natural a ansiedade de querer saber o que os outros fariam em nosso lugar? se vêem soluções e nuances que desconhecemos? se quem tanto nos ouve, saberia solucioná-los? não seria também quase uma provocação, como quem diz "o que mais eu poderia fazer então, dr. sabichão?" não seria essencialmente um pedido por uma chance de reavaliarmos o que estamos fazendo, se podemos fazer melhor, um abrir de olhos para ângulos novos? Por outro lado, o perigo da pergunta é a ilusão. A ilusão de passar as escolhas para outro fazer em seu lugar e a ilusão eminente de encarar qualquer resposta como uma receita mágica que deve ser seguida passo a passo ao pé da letra. Ambas são perigosas - para uma terapia bem sucedida é necessária a compreensão do indivíduo como mentor de sua vida, responsável por suas escolhas, seus caminhos e as consequências e renúncias envolvidas.
Ao considerar todas as vertentes, resolvi ser criteriosa, porém sincera:
- Ao me perguntar isso Ana, você espera que eu lhe diga o que eu faria na sua posição, o que eu faria se a situação acontecesse na minha vida ou que eu ofereça uma solução confortável e palpável para o incidente? Porque, não tenho soluções nem respostas prontas e, na minha opinião pessoal, não sei se elas são possíveis senão construídas...e tampouco me sinto apta a pensar no que faria em seu lugar, tivemos histórias, criações e transmissões de valores diferentes, portanto nossos olhos não podem nem sequer contextualizar o acontecido da mesma forma...
-Não Patrícia, eu queria mesmo era saber como você lidaria com isso na sua vida...como se isso tirasse você do pedestal de terapeuta e trouxesse para a natural possibilidade de crise...
Ana tinha problemas extremos em expressar confiança nos relacionamentos e por isso tinha começado a terapia. Agora seu noivo a tinha deixado e ela se sentia mais insegura e desconfortável do que nunca. Achei que poderia ser saudável respondê-la com sinceridade e resolvi arriscar, mesmo que a fragilidade pudesse desencadear uma infinidade de respostas, certamente poderíamos elaborar como ela se sentia perante minha confissão, o que ela andava fazendo realmente por si e nosso relacionamento a partir disto.
- Se isto acontecesse comigo Ana, penso que eu faria o que costumo fazer nas horas díficeis. Mergulharia no autoconhecimento, intensificaria a terapia, me daria mais horas para fazer coisas que eu gosto e me relaxam, buscaria arduamente a espiritualidade, respeitaria minha solidão e procuraria priorizar os poucos amigos que sei que gostam de mim como for e como sou, mesmo que eu repita a mesma história incontáveis vezes, que eu fique insegura e pessimista e queira contagia-los, que só chore e nem sequer faça algum sentido ou que insista em idéias absurdas - saber que ainda assim alguém é capaz de ter afeto sincero por mim é extremamente reconfortante e encorajador. Ainda mais quando alguém me deixa...E você Ana, como se sente perante tudo isso que eu falei? Como se sente por eu ter confiado a você algo tão particular meu? O que você tem feito para superar, para se cuidar? O que você pode fazer por você?"
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