Domingo, 30 de Março de 2008

É sábado

Todos saíram pra dançar, pares foram caçar

E eu aqui, ouvindo uma bossa, no computador a jogar.

É sábado

Os saltos estão altos, as saias estão pequenas

Eu comi uma pizza e preferi ficar a sós com minhas preocupações amenas.

É sábado

Todo mundo esperando alguma coisa, todo mundo na batida.

Eu aqui conversando com meu pai - cada um com seu valor conduz a vida.

É sábado

E eu não tenho nada contra sair

Todo mundo precisa se divertir

Mesmo sendo Sábado

Talvez o que não me apeteça nisso

seja que a busca aconteça de modo que prazer virou obrigação, e obrigação pra mim é suplício

É sábado

E eu estou na oposta direção

Mas nos outros dias

Também não ando seguindo  multidão (ah, há muito tempo que não...)

Todos os dias

Quero coisas de verdade

Bye Bye casualidade...

 

Não aguento mais o efêmero, não quero ser mais uma, chega dessa loucura

Quero carinho, ter fé, amigos, pra mim uma possibilidade de cura.

Não tolero mais tanta babaquice, falta do que falar, que o interessante agora seja

a roupa que estou a usar, o dinheiro que tenho pra gastar, quantas pessoas consegui beijar.

 

Prefiro continuar na contramão dos outros

do que, (aí sim desgosto) abdicar e assim

ficar na contramão de mim!

 

 

 


música Noel Rosa - Fita Amarela

publicado por Juliana Correia às 16:57 | link do post | comentar | ver comentários (6) | favorito

Sexta-feira, 28 de Março de 2008

Queria escrever um puta texto

desses que arrancam elogios e aplausos

aonde coubessem do mundo todas as texturas e sabores

aonde coubessem também minhas alegrias, dores, amigos e amores.

Queria uma métrica perfeita, as rimas infinitamente variadas

espaço para todas as enclises e mesóclises serem colocadas

uma poesia sem fim, com o poder do alento

trazendo sempre o conteúdo que o leitor precisasse ler naquele momento

quero as mais líricas metáforas possíveis

as hipérboles mais inadmissíveis

explorar as metonímias e suas categorias

honrando a gramática, esbanjando vocabulário, o contéudo exposto com sabedoria

queria esse texto histórico

alegre, triste, útil, romântico, bucólico

cheio de idéias, sutilezas, planos

agradando a gregos e troianos

se eu o escrevesse, mereceria um prêmio da estética

na rua me ovacionariam - oh, lá vai a poeta

...mas querer, infelizmente, não é mesmo poder.

hoje aqui, deixo apenas esse desejo do texto não escrito

(aonde foi a inspiração? desisto)

esse puta texto que eu queria escrever

não foi (ainda) hoje escrito para que você possa ler!

 


música Pato Fu - Por perto

publicado por Juliana Correia às 20:40 | link do post | comentar | ver comentários (5) | favorito

Quinta-feira, 27 de Março de 2008

É, de novo você. Porque você não é qualquer um - mas todos os outros são quaisquer, se estamos falando de você. De novo você porque foi com você que vivenciei amor, intimidade, partilha, loucura e calmaria, amizade. Porque com você foi tudo. Porque foi muito. Porque se arrastou com o tempo que durou. Porque você nem fechava mais a porta do banheiro quando ia utilizá-lo. Porque você dizia que eu era orgulhosa e eu dizia que não era ; e tá bom, eu sou, e sou muito. Mas você também é. Ou era. Quem vai saber?

Porque não é você por você, você por você é tão humano e passível de erro (ah, e quantos erros) quanto todos os outros manés que passaram rápido - mas você soube ficar. E pelo tempo que ficou, soube significar. E dizem as teorias que eu estudo ás sete e trinta da manhã que só existe para nós aquilo que significamos. E eu te signifiquei, e você soube se significar, e assim você vai existindo em mim desta maneira tão louca - um pouco congelado dentro de um mar fermentando mudanças que sou eu. As vezes te amo ainda, e me pego pensando "ah, o que será que ele falaria se me visse bem agora, agindo desse jeito perante esta situação?". As vezes nem ligo que você existe, e nem te amo e nem direciono um pensamento pra você. E me pergunto - renegar também não é absorver? Sou resiliente a você. E vulnerável. E depois resiliente de novo - a mim, a você, as lembranças dos sentidos e sentimentos que você me despertou.

Me sinto cansativa. Sempre escrevendo sobre você. Palavras ora de raiva, ora de aprendizado, ora de amor, ora de recalque. Mas todos os "oras" são tua hora! Não falo mais de você - só no divã, mas não é de você, é de mim em interação com o significado que eu dou a você. Escrevo sobre esta perspectiva também. Você é nada - e eu te amo. Você é nada e eu não te amo. Você não é mais uma pessoa. Não é mais uma pessoa que odeia dormir com calor. Não é mais uma pessoa que fala merda na mesa do jantar. Não é mais uma pessoa que faz surpresas românticas. Você é um nada. O que eu quiser que seja, como eu quiser que seja, como me convier lembrar, te ler, te significar. Eu dependo de você e você de mim - para ser lembrado, talvez. E pior - significo todos os outros superfluos, todas as vicências banais, toda a efemericidade que eu absorvo inerte e com desinteresse- o que mais poderia fazer? - significo através de você. Comparações, objeções, o que você faria, o que você pensaria...É, de novo você. Eu sinto como se tivéssemos pendências a resolver, mas não aguentaria te encontrar em vidas futuras. Assumo as consequências que a vida me impõe - não futuco teu orkut, não passo meu carro pela tua rua, não uso o tipo de roupa que você gosta e não te ligo - fims são fims e eu sou bem-resolvida com isso. Mas alguma hora vamos ter que acertar as contas...

E a vida anda ótima, e as coisas funcionam, e eu cuido de mim. Mas e você? De novo, você...


música Caetano Veloso - Gatas extraordinárias

publicado por Juliana Correia às 19:56 | link do post | comentar | ver comentários (3) | favorito

Terça-feira, 25 de Março de 2008

Sei que quando eu sair de manhã

com os meus cabelos negros soltos esvoaçando enrolandos em ondas

com o meu vestido e o meu salto alto, o cheiro de quem acaba de sair do banho

o meu sorriso e a minha voz, alguns homens me olharão e talvez alguns até me desejem

 

mas eu vou  passar o dia ansiando por você, por aquele que vai me abraçar de noite

mesmo quando eu já tiver derretido ao longo do dia

quando eu chegar em casa de coque, sem brincos, descalça, cansada

e sabendo que ainda assim, sem demagogia

vou deitar na cama, e conversaremos amenidades e me saberei amada.

 

antes de tudo, sobretudo, quero ser capaz desse amor

de amar que você me ligue bêbado e eu tenha que ir te buscar

de te amar desmazelado depois de um dia estressante

de simplesmente não querer te consertar, apenas te ver errante

e ainda assim te amar, amar, amar.

 

será que sou capaz de...

um amor em sintonia

um sentimento além da rima, da prosa, da poesia

um amor de dia-a-dia

desses que se vive, sem maior euforia, sem grande agonia?

 

 

quero amor que se entenda livre

quero ser possível de um amor que não prive

quero conseguir amar defeitos, ideologias, UM SER HUMANO - completo, mundano

um amor que dê espaço

sei que estou dando passos

e em breve estarei no compasso.

 



publicado por Juliana Correia às 22:11 | link do post | comentar | ver comentários (5) | favorito

Terça-feira, 18 de Março de 2008

Eis que o surge a questão do mundo moderno

(tanto do cruel quanto do fraterno)

quantos paradigmas iremos quebrar?

sob que expectativas saberemos caminhar?

não, já não tem jeito

eis a era do sujeito

do sujeito objeto

banal e crucial - homem erectus

o sujeito objeto que modifica e é modificado

que chora a dor alheia ou que por ela é culpado

o sujeito que atinge e é atingido

em igual medida, talvez pra ter sentido

de se sujeitar a ser sujeito e só

pra quebrar certezas até só sobreviver a de que será um dia pó.

lá vem ele, homem banal

hedonista, narcisista, julgando-se especial

tudo pra hoje, tudo pra agora, tudo pra si

o que quero, o que preciso, o que posso conseguir

que danem-se os outros, que os outros corram

que cada um mereça o que tem ou que morram

indivualizante individualizado indivíduo?

é a geração umbigo.

ninguém sabe quem é

e ninguém pode pegar no pé

ninguém também quer descobrir

alguém ainda tem objetivo a prosseguir?

ligo a televisão, trabalho demais

aceito todas regras, para poder descansar em paz

o que eu não quero é ter tempo de me questionar

de com as minhas frustrações, incertezas, inquietações ter de me encontrar.

ó homem da contemporaneidade

Deus supremo da era da vaidade

vendeu-se, perdeu-se, e nem percebeu

só conjuga na primeira pessoa - tudo eu, eu, eu.

...mas por outro lado, se sente sozinho e frágil

procura mais o analista, tem mais patologia e menos presságio

é o preço que se paga pela escolha

por ignorar a árvore e se vangloriar folha

por querer ser o tudo que não se auto-conhece pra ser

por já não buscar o que não sabe entender

passa tempo, tempo passa

passam as modas, caem as carcaças (e carapaças)

quem não sabe sê-lo, não pode fazê-lo

e o mundo moderno não tem zelo

ele exige - homem máquina, mulher bonita

trabalho, lucro, beleza, prazer - conquista.

se você não anseia por isso? pirou de vez.

vai ser excluído, julgado - vezes uma, duas, três.

 

eu me pergunto: de que adianta ser sujeito-alguém- o tal

se já não se lida, se trabalha, para ir além do banal?

de que adianta tantas coisas a serem maturadas em si

se não existe a coragem de se descobrir?

calce seu nike, vá para a festa, beije as meninas

para viver esta realidade? só da alma fechando as cortinas.

 

 

 


música Lenine - Ecos do ão

publicado por Juliana Correia às 21:23 | link do post | comentar | ver comentários (6) | favorito

Segunda-feira, 17 de Março de 2008

Calma, minha alma

O instante pode até ser triste

...mas o amanhã ainda existe!


música CMNT - Fique a vontade meu bem

publicado por Juliana Correia às 23:06 | link do post | comentar | ver comentários (1) | favorito

Sexta-feira, 14 de Março de 2008

cansei de me proibir
de chorar, de entender, de sentir
resolvi me permitir

de tudo um pouco constituo o viver.

tudo quero e quero tanto
sorriso, benção, carinho, pranto
intensamente, sempre, muito, quanto
aprender, esquecer, acontecer -


vou aceitando o que pintar
maleável, flexível, (ir)regular
se eu tô na pista é pra dançar
-
flui a música e a vida ;
e eu na batida, deixando rolar.


música O círculo - Sua mulher

publicado por Juliana Correia às 17:29 | link do post | comentar | ver comentários (4) | favorito

Terça-feira, 11 de Março de 2008

sabe aquela minha gargalhada enorme?

aos poucos vai voltando a se sorrir

em breve você vai podê-la ouvir

vivendo no ar, por aí.

 

sabe os sonhos que eu carregava?

hoje não pesam mais do que a alma leve de criança

entrelaçam os braços com a esperança

rodeiam-me numa doce ciranda.

 

nada mais te peço.

(porque?)

porque não mais me apresso

eu ainda tropeço;

mas não tenho mais medo

e de mim mesma... recomeço.


música Lulu Santos - Um certo alguém

publicado por Juliana Correia às 20:07 | link do post | comentar | ver comentários (4) | favorito

Domingo, 9 de Março de 2008

No momento

sou como a lagarta no casulo

escuro

sozinha comigo mesma

buscando compreender minha natureza

esperando o tempo, temporão

que me fará borboleta

ganhando vida e asas pra amplidão.


música O círculo - Muito romântico

publicado por Juliana Correia às 17:21 | link do post | comentar | ver comentários (7) | favorito

O dia da mulher passou e foi inevitável me questionar sobre esta mulher que habita em mim. Inevitável também foi vir escrever este texto, mas com dificuldade, porque ao falar de mulher ( e de nós mesmas) há margem de clichê é de 97% - e eu não anseio o clichê, na verdade hoje aqui, não anseio nem a generalização.

Essa mulher que habita em mim e que sou eu, portanto, tem medo de muitas coisas - mas certamente não tem receio de reinventar-se. Se é preciso derrubar muros interiores, construir novas paredes, mudar a pintura, remoldurar - sem problemas, eu aguento os trancos da reforma - se a reforma for escolhida por mim. Alardeio os meus defeitos, não engano ninguém e ninguém embarca na minha barca furada sem saber aonde está pisando - sou exigente, cabeça dura, transparente demais, sarcástica e seca, tenho fantasminhas que falam asneiras e muitas outras peculiaridades sim. Tenho consciência de que tudo isso atrai e simultaneamente assusta. As pessoas vêm por isso, e vão por isso. Já assimilei. Essa dualidade já é minha amiga de tempos - com a dor, por exemplo, estreito laços ao limite, não a deixo passar (mesmo que passada) porque sem ela não escrevo - e ao mesmo tempo, sobre ela, debruço piadas inimagináveis nas piores situações. Ao contar minhas histórias tristes, arranco gargalhadas dos ouvintes. E é assim que eu sei ser e vou sendo.

Comigo acontecem as coisas mais improváveis, as maiores voltas da vida e também pequenezas que me fazem diferente. Certa vez, uma amiga se apaixonou por um colega de corredor. Decidimos que ela deveria paquerá-lo por cartas, mas ela não gostava de escrever. Rabisquei muitas e muitas cartas líricas ao rapaz, como sendo ela - e não deixavam de ser dela, afinal. Não deu em nada, mas foi divertido. Já escrevi músicas, roteiros, enredos, poesias para o jornal, discursos na época do colégio. Já fiquei prostrada na cama só querendo entender o sentido da vida - ainda sento, por vontade própria, uma vez por semana no divã do analista, pagando o preço pra saber quem eu sou - e mais ainda, para saber se é possível ser quem eu quero ser. Ainda quero viver com arte, publicar um livro, ser professora, clinicar com Gestalt. Ainda queria me redimir das humilhações as quais me submeti, ainda queria que algumas pessoas me vissem agora.  

 

-

 

Mas, e a mulher? Diz meu querido Vinícius de Moraes que ela foi feita para ser só amor e só perdão. Será? Não sei o que ele pensaria dessa reversão de paradigma. Na década de 70, sucedeu-se a revolução sexual, a liberação sexual. O casamento estável e comum foi trocado pela liberdade de escolha do parceiro, da parceiros, dos parceiros e parceiras, desmarginalizamos o sexo. Hoje em dia a proporção é eloquente. O sexo É o todo. Vivemos na busca do hedonismo eterno - não choraremos, não nos apegaremos, não nada; vivemos o narcisismo coletivo, uma estética individualista que intitula-se pelo "eu mereço". E sempre merecemos coisas que nos dão prazer. Viramos pedaços vistos e analisados. Bundas, seios, barrigas e coxas. Quase um açougue humano na incessável busca pelo prazer, que virou praticamente sinônimo de felicidade.

Trocamos o amor pelo sexo, mesmo. Somos quase obrigados ao prazer. Senão, somos caretas perdidos na Highway. Perdemos a sutileza, viramos robôs feitos para o consumo do desejo alheio - mesmo que este não seja o nosso desejo. O que interessa é o prazer - não importa se ele passa por cima de laços, sentimentos, crenças - quem se importa com a lágrima alheia diante de uma vontade dilacerante do gozo? Quem quer compreender inseguranças perante a possibilidade de ver atrizes se exibindo na TV? O prazer é prioridade absoluta. O desejo é tão obrigatório, tão necessário que se vende em bulas de farmácia. Se você é jovem e não tem tesão no momento, compre Viagra e vivencie o sexo. Simples assim. Tão maquinificado quando "Tempos Modernos", de Chaplin. Estamos virando robôs do nosso próprio anseio - anseio este, que compramos na TV - que digerimos assitindo, que assimilamos que queremos.

Aonde entra a mulher nisso? É ela quem vai ao trabalho se equiparar ao homem, é ela quem cuida dos filhos, é ela quem tem de estar sempre linda desejante e merecendo ser desejada, é ela que vive todos os paradigmas simultaneamente. Como sua avó, tem de estar em casa, corrigir o dever das crianças, levá-las ao médico e comparecer a suas festas infantis. Mas também é ela, totalmente século 21, que tem que trabalhar dois turnos para ter sua independência, para melhorar sua condição de vida, para não se relacionar por "funcionalidades". É ela também que segue a mídia - tem de estar bonita (mesmo depois de toda essa jornada), tem de estar sempre depilada, de unhas pintadas, cabelos bem tratados, com ânimo para um cinema e disposição para o sexo. Aonde fica o nosso desejo? Aonde reprimimos o nosso verdadeiro eu? Aonde vamos parar? No divã da terapia, ou iremos ainda mais além?

Dia da mulher pode ser dia do clichê sim. Mas há de ser o dia que olhemos para as mulheres e as felicitemos. Só elas sabem quantas "milágrimas" custam o milagre, como já dizia Alice Ruiz.


música Incubus - Echo

publicado por Juliana Correia às 12:55 | link do post | comentar | ver comentários (3) | favorito

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