É a impressionante sucessão de dias felizes e tristes que faz a vida. É a impressionante sensação de buscar, conquistar, renegar, ir adiante, talvez voltas atrás, talvez ir bem pra frente. Essa é a arte de viver. Viver e se saber vivendo mesmo um não saber, como dizia Clarice. Um não saber conduzir esperanças, frustrações, desejos, medos. Um não saber dividir as coisas, com medo do que deve ser dito e do que deve ser silêncio. É um não saber o que se passa na mente alheia, se o que te foi bom também agradou. É um não saber o que fazer ou até como não saber. E enquanto vamos indo, não sabendo, simultaneamente, estamos indo e vivendo!
Não saber é bom e ruim. É lírico e angustiante. Cada passo que vamos dando pra frente, na ponta dos pés, com um medo absurdo de que nos empurrem de volta para trás, cada espaço do pé indo tocar o chão, achando uma posição, se encontrando...é uma delícia. É loucamente gostoso buscar segurança na insegurança - quando se está confiante. É um árduo serviço lembrar que o caminho se faz com um passo por vez, e que a partir do primeiro passo é que se saberá o ritmo dos próximos passos. Serão passos rápidos? Sozinhos? Pesados? Divididos? A que passo levarei a minha vida de incertezas?
Isso também é não saber.
E quando a gente já não sabe de mais nada e sente muito medo - da gente, dos outros, das nossas paranóias (ou não) e das coisas que a gente nem pode falar, aí a gente pega um livro gostoso e vai andando sentar embaixo de uma arvóre para ler. E acha um sorriso gostoso como que dizendo "ter fé e ver coragem", como que lembrando "que apesar de você amanhã há de ser outro dia" e segue misturando sensações e sentimentos tão discrepantes, tão antagônicos num mesmo texto.
Agora, deixa eu ir para a minha arvóre...
Me pega de jeito
E como me consome!
Me aperta o peito
Me rouba até a fome...
O estômago revira, insaciável sensação
As inúmeras (felizes e infelizes) possibilidades
se sobrepondo dentro da minha cabeça, estabelecendo uma confusão
Passando por cima de qualquer sombra de racionalidade!
E quem pode esperar?
Quem pode segurar o desejo do agora?
No que isso vai dar?
Quando é a nossa hora?
Ansiedade, ansiedade
Nada mais é do que o medo
de que o desejo não vire realidade
ou pelo menos não tão cedo...!
Ansiedade - inimiga da paz
vai cercando, consumindo, cada pedaço do coração
vil praga, devoradora voraz
de toda a minha inspiração.
(eu só quero - que você me queira)
Fernanda colocou um short jeans, pegou a bicicleta e saiu por aí. Rabo de cavalo e brisa do mar. Ela não precisava renegar nada - nem ela mesma! Tudo tinha se colocado nos devidos lugares das coisas bem resolvidas. O mar, a orla, as pessoas indo e vindo, o sol - tudo aquilo apenas refletia a paz interior. Ela tinha conseguido inclusive achar uns dois meninos bonitos no trajeto. Não que ela fosse investir, mas a liberdade de conseguir ter vontades tinha um incalculável absurdo valor! Era bom ter um coração livre, sem amarras de amargura ou sem prisões do passado. O que passou, já tinha ido embora e agora que o viesse, diria. Ela estava esperando para escutar.
Estacionou a bicicleta ao lado de um quiosque de coco e pediu uma água. Encostou-se para olhar o mar. Adorava as ondas! Eram uma metáfora tão clara do vai e vem da vida, e no fim, eram sempre ondas. Enchiam a praia, esvaziavam a praia, vinham pequenas, maiores, derrubavam castelos ou limpavam a areia - mas eram sempre ondas. Ela também era assim, as vezes meiga, as vezes implicante, as vezes sensível em demasia, as vezes mais simplista do que deveria, as vezes tempestade, em outras calmaria - mas sempre Fernanda.
Ficou vendo o sol descer sob o mar, encantada com a possibilidade de sorrir de novo perante pequenas coisas. As vezes no meio do ciclo não percebemos que há saída, mas os ciclos sempre acabam para que outros comecem.
E foi assim, que ao se virar para pegar a bicicleta, ela se bateu com um menino de sorriso tão bonito....
O desânimo não é bom companheiro
Nem mesmo minimamente inspirador
Para uma poesia, para um devaneio,
para um conto, uma idéia, uma história de amor...
O desânimo não faz rimas, não tem perspectivas
Não destrincha temas, não combina palavras
Apenas persiste desanimando o corajoso poeta, o dedicado ensaísta
Inimigo do lirismo, do sutil – ele manda o sublime ás favas.
O desânimo não deixa ir para a rua colher temáticas
Não deixa o cérebro maquinar histórias
Ele me faz ficar por aqui, deixando somente essas estrofes estáticas
E ele se vangloria de me ter vencido – sua glória.
(mas ele não imagina
que no fim inspirou assim
três estrofes de rima
sobre as consequências de ele ter se instalado em mim)
- Cadê o nosso cd de Metallica?
- Quando você diz nosso, se você disesse meu, implicaria na mesma coisa? Afinal, somos a mesma pessoa, no fim das contas.
- Que tipo de pergunta é essa? Não quero ser a mesma pessoa que você. Tenho vergonha de você. O que interessa é: cadê o cd?
- Não ouço mais Metallica. Me livrei do cd.
- O que você ouve agora? Não me diga que...
- Sim! Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil, Alceu Valença, Vínicius de Moraes, Maria Bethânia...
- Aquelas baboseiras que nossa mãe ouve?
- Não são baboseiras sabe? São coisas muito bonitas.
- Me dão vontade de dormir! Detesto andar de carro com ela ouvindo aquelas músicas de velho!
- O que você veio fazer aqui?
- Vim ver no que eu me tornei. Mas já tô quase arrependida! Um belo monte de vestidos?! Cds de Los Hermanos?! Estante com livros de psicologia?! Só falta você me dizer que agora você vai a missa todos os domingos...ou que você virou a maior vadia e está pegando geral. De ambas as suas considerações radicais eu vou sentir vergonha e humilhação.
- Se você veio aqui com essa resmunguisse para me ofender, está perdendo tempo. Eu simplesmente entendo que você tá só começando, que as coisas ainda não deram errado pra você, você nem começou a namorar, amar... Mas não, não vou a missas e não pego geral. Continuo levando muito a sério esse lance de sentimento. Ainda continuo essa menina que é você...Mas já não cabe andar com minhas roupas do rock, você concorda? Foi uma fase. Passou! Assim como cd de Metallica passou, aquela escrita cheia de X passou...
- Você virou uma velha!
- Eu fiz uma tatuagem.
- Sério? O quê? Eu quero muito escrever "nothing else matters" no meu pé. Eu vou entrar na igreja ao som dessa música!
- Eu fiz um símbolo hindu que transmite coisas boas. E você não vai entrar na igreja, porque eu não pretendo casar.
- Até a sua tatuagem é de velha! Não vou casar? Eu quero casar. Você sabe que sou uma romântica!
- Eu também.
E encostada na porta, com um sorriso terno e paciente, a Juliana de sessenta anos nos sorri, para as suas Julianas de treze e (quase) dezenove anos conversando na sala. Vejo nos seus olhos o saudosismo de suas "vidas passadas" e as certezas que ela encontrou no caminho.
- Venham, venham tomar um chá....Vocês ainda não sabem o que vão enfrentar nesta vida!
(GENTE, a idéia é um plágio deeeescarado do último texto de Antônio Prata na Capricho.)
Você foi único,
o primeiro,
o mais especial.
Você foi o fio de loucura na minha razão.
Você era verdade.
Você era o sentido,
e simultaneamente,
você era a única coisa que não precisava fazer sentido algum.
Você era o sentiRdo sem sentido, entende?
Você foi amor. Entrega total.
Hoje você é mais um, um qualquer.
Qualquer homem.
Qualquer homem de barba dirigindo um carro qualquer, ao som de uma música qualquer, numa via qualquer,
em qualquer vida.
Um qualquer...
E foi você quem quis assim!
O que é que tanto te incomoda na minha cara?
É o sorriso aonde deveria haver dor?
Ou o desapego aonde você queria ver saudade?
É a covinha, o cravo, a tez da idade?
É nas bochecas o claro efeito da gravidade?
O que é que tanto te incomoda na minha cara?
A paz, as caricaturas, a fala?
A impossibilidade de ler minha expressão?
Ou quem sabe a falta de coesão,
que faz com que ao ver minha cara, você faça sua interrogação!?
(ps. volta pra casa hoje no ônibus foi produtiva hein?)
Eu gosto
do alívio da desesperança.
é melhor carregar o peso da concretude - o que foi e o que é,
do que andar por aí com a esperança e suas possibilidades, que pesam tanto mais ao abraçarem os "se's".
Eu prefiro
andar com a solidão - certa -
ao invés de com o devaneio - incerto.
-
Na hora certa que é o agora, o hoje;
na minha vida.
é isso que eu quero - coisas certas.
Não estou com disposição para a melancolia
Eu só a deixo me deixando recados na caixa de voz, depois do bip.
Não quero reviver as lembranças do passado na memória
e ainda menos no coração.
Não tenho tempo.
E o tempo que tenho está todo encaminhado,
andando por aí enamorado
de braços dados, coração apaixonado
com a Felicidade.
Tudo passa de maneira interessante
Ao passo que redescobrimos as coisas
Que havíamos acomodado na estante
da vida, da alma, das moças...
Tudo passa, sem interrupção
Em ritmo tal que minha amargura hoje é esperança
De modo a TE dar novo endereço em meu coração
No inimaginável conforto que me encanta.
A vida se encarrega do futuro - acredite!
E por não poder fazer tudo, devemos fazer o nosso melhor
Para que o tempo nos traga as respostas, para saber não se ser triste.
Independem de nós as fases
Mas dentro de nós elas acontecem - pois que as vivamos então!
Com a delícia e a dor que couber - façamos as pazes!
Um maço de cigarros e essa folha de papel me acompanham. São três da manhã. Não, eu não acho nada disso racional, mas seria ainda mais fraco oprimir isso para me fazer de forte. Talvez a minha força seja a coragem aturdida de aceitar as coisas como são e o jeito que eu me sinto perante elas serem. Talvez não, você diria. Vejo você claramente resmungando sobre esse meu jeito hipotético e dúbio de ver o mundo. Tanto faz.
Tanto faz que eu já nem saiba para que digito tanto nesta máquina de escrever. Mentira óbvia : eu sei. Eu sei demais. Eu sei com aquele jeito que tanto te irrita, aquele meu jeito de sentir que você tanto repudia - com os olhos, com os pensamentos, com a pele, com as entranhas. Eu viro esse emaranhado arraigado de tanto sentir. Tudo, tudo que é meu sente você e como eu me sinto com relação a você agora. Drama. Tolice. Exagero. Eu quase posso ouvir a sua voz me dizendo estas coisas. Mas, é assim que se sucedem as coisas. Eu ando na rua procurando a placa do teu carro. Eu releio as tuas cartas. Eu sonho com você - nas raras noites que consigo dormir.
Minha vida não sucumbiu, não parou. Pelo contrário até. Nunca escrevi tantos roteiros como agora, nunca tive tantos compromissos ou tão boas companhias na jornada como hoje. Mas, nos intervalos da minha existência, eu simplesmente fico pensando em você, não grandes feitos nossos ou boas perspectivas do que eu diria se te encontrasse, eu realmente me concentro nesses detalhes tão teus que eu amo e odeio tão igualitariamente.
Engraçado, eu não sou como os outros apaixonados. Não imagino um grande futuro para nós - não tivemos esse grande passado que as vezes invade as minhas recordações. Nos amamos muito, eu sei - mas não como, de vez em quando, eu quero lembrar. Não eram só rosas ou só sorrisos, não era um arco íris de amor infindável. Não era. E talvez por isso tenha me marcado tanto - era um relacionamento de verdade. Com problemas, entraves, dilemas, alfinetadas, choros, palavrões, silêncios bruscos aonde deveriam haver palavras, medos e tudo o mais com um quê de vida real. Você não é fácil. Eu não sou fácil. E ainda assim eu te amo tanto, ainda hoje, acho que por isto, por a gente ter realmente acontecido e por eu ter intrisecamente vivido a gente.
Queria poder jurar que não te escreverei mais - e além - que não escreverei mais sobre você, para você, de você. Mas, juro solenemente que vou me esforçar para que a sua pacata vida não seja importunada pela minha presença, afinal, você optou por isso, não foi? Eu, com este meu jeito menino, ainda preciso aprender a levar as escolhas alheias mais a sério.
Acabei de fumar meu último cigarro. Já escrevi e reescrevi este último parágrafo incontáveis vezes, sem saber o que exatemente eu poderia dizer nele. Nada, nada do que eu disse ou do que eu poderia vir a dizer consertaria as coisas ou nos daria um novo tempo. Sou totalmente impotente frente a isso. E não me sinto tão desconfortável assim. Você é uma responsabilidade profunda demais para que eu assuma sozinho. Sou humano, falível e debilitado. Você, com esse seu jeito "absoluta" designado pelo zodíaco,tão signo teu, não me tolera. Essas minhas relativas verdades batem de cara com as suas absolutas certezas, esse meu jeito de querer novas chances é desprezado pelo seu orgulho de ambicionar estar sempre certa e pela sua impossibilidade de voltar atrás ou de começar de novo, mesmo - pois isso seria o mesmo que dizer que você se arrependeu do que você mesma lhe escolheu. Me despedir como?
Eu te amo. E sim, eu sei que isto não vale mais nada. Ou vale tão pouco quanto o pouco que poderíamos fazer com isso, caso lhe coubesse vontade.
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