Quinta-feira, 29 de Março de 2007

Penso nos olhos teus

Teus olhos azuis, Gustavo

Tão isentos do pecado

Tão reflexo de Deus!

 

Quisera eu que bonito fosse o mundo

Para combinar com esse azul

Que tudo cura de norte a sul

Que é um azul bem fundo!

 

Aquele azul sereno

Nos teus olhos encontro paz

Solidão nunca mais...

...meu pequeno!

 

És razão da minha alegria

És divina pureza!

Coberto de toda leveza!

És vida que me contagia!

 

És intrumento de Deus

Refúgio do meu alento

Bonito por fora e por dentro

E tão dentro dos sonhos meus!

 

Impossível não te achar adjetivos

És amor, és amar

E que vontade de em seu olhar me afogar

E vencer a luta vã!

 

É minha vontade de ser melhor

Sorriso que me faz esquecer

A outrora ânsia de morrer

Foi suprida por você, que é maior.

 

Ah, olhos límpidos!

Esperlho puro da alma!

Reflexo incandescente de calma

Em todos os detalhes mínimos!

 

Ah, olhos de amor!

Encarregados do perdão

No anseio da reconciliação

Toda a cura da dor!

 

És meu menino

Luz branca, coisa pura

Iluminando a estrada por vezes escura

Para sempre meu mimo!

 

Olhos cor de mar

Ora trazem esperança

São sempre tempo de bonança

Lugar pra eu me abrigar

 

E tão pequeno que é

Preenche todo o meu coração

É a minha razão

De não perder a fé!

 

 

 

 

 

[Explicando: Eu fiz o poema com dezesseis anos quando meu irmãozinho nasceu.  Como dá pra ver pelo poema, antes dele as coisas não estavam muito fáceis. E sim, ele é lindo. E sim, ele tem esse olhão azul sim! E mais sim, tolerância com o poema aí, eu já não sou boa hoje em dia, imagina com dezesseis anos?]



publicado por Juliana Correia às 00:09 | link do post | comentar | ver comentários (9) | favorito

Domingo, 25 de Março de 2007

Nanda se olhava, ali, com a maquiagem toda borrada. As sandálias viradas de qualquer maneira no chão, o vestido lindo ajustado ao corpo, o cabelo secado durantes horas afim de parecer natural. Nada mais parecia encaixado. Tudo era fiapo, inclusive ela, que se arrastava na parede gelada procurando explicações. Para que tudo aquilo?De frente para o grande espelho na porta, ala já não sabia. Estava cansada. Cansada de suas falsas expectativas, de seus desejos irrealizaveis, das suas desilusões. Ela não entendia e pronto. Qual era o sentido de convida-la para ir ao baile - e ficar com outra? Porque os homens, ou pelo menos os homens que ela escolhia, faziam coisas que não pareciam ter lógica? Será que eles sabiam que desde que ela se entendia por gente, era ali, na frente daquele espelho, que ela chorava? Tirou o vestido. Para que ser a princesa, se os principes sempre preferem as mais fáceis? Encostou no chão e olhou bem para si. Não queria ter pena de si mesma e lembrou. Lembrou do seu primeiro amor, quatorze anos e sonhos. Ele foi embora para outro estado. Até hoje se falavam. Ela chorou muito abraçada ao seu urso na frente daquele espelho. Compreendendo que o amor correspondido nem sempre é a plenitude da manutenção - existem sempre os percalçõs do caminho. A cada fim de namoro ela se encerrava ali, de frente pro espelho, tentando encontrar, tentando enxergar nela os sinais, do último beijo, do último sorriso entre as lágrimas. Ela estava cansada de ver os meninos brincarem com seus sentimentos. Para que dizem "saudade" se não a sentem? Para que insinuam que gostam se tratam uma simples ligação fofa como uma algema de casamento? Ela não queria mais ficar se vendo daquele jeito no espelho, no seu espelho, no seu reflexo, dentro de si.  Levantou enérgica, ligou para as amigas, aquelas que sempre sabem o que dizer, que sempre tem os amigos mais legais e as maiores dicas de maquiagem. Se rearrumou, pegou com rapidez as sandalias e as calçou. Não pôde evitar o espelho.  Ele a acompanhou durante toda a sua trajetória de patinho feio, de inseguranças,medos e foras. Mas se olhando agora, ela se sentia viva, mulher e dona de si. Ela sabia o que queria - e o que não queria. (Nada mais de ser a outra, de ligações de última hora, de ser a segunda opção e de esperar mensagens que nunca chegavam). Ela olhou bem o reflexo, e pela primeira vez se enxergou inteira. Gostou do que viu. Se entendeu e se amou. Ela queria ser feliz - e seria. Pegou um cinzeiro e arremessou no espelho, quebrando-o em diversos pedacinhos com estrondo. Olhou os pedaços espalhados pelo quarto e se enxergou um pouco em cada um deles. Ali ela compreendeu tudo. Tudo fez sentido. Ela era a conjunção das suas experiências sim, e cada vidro no chão refletia isso, lembrava isso, mas, mais do que isso,ela era o que ela fazia com suas experiências. E ali, naquele momento,ela tinha escolhido ser feliz e deixar o passado para trás.  Era muito mais fácil encarar o espelho e a vida assim, em pedaços, do que aquela monstruosidade que parecia lhe engolir, que lhe mostrava detalhes que ela não precisava ver, de cara, na imensidão de relfexos assustados. Em um vidrinho, ela se viu sorrindo,e aquilo também era, afinal, parte dela.. Deixou todos os vidros lá, embaralhados pelo chão, formando o seu quebra cabeças pessoal. Fez um coque e saiu.

 

 

 

 

 

"Não sou aquilo que fizeram de mim

Sou aquilo que faço com o que fizeram de mim"

Sartre.



publicado por Juliana Correia às 04:52 | link do post | comentar | ver comentários (4) | favorito

Quinta-feira, 22 de Março de 2007

Crônica do amor - Arnaldo Jabour

"Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.

Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama este cara?

Não pergunte pra mim você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim.

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa. "

 

Que haja sempre no mundo quem faça valer a pena, quem faça acreditar, quem desperte sentimentos obliquos em situações inesperadas - num sorriso, numa conversa de msn, num despretensioso olhar - quem faça o coração curar das dores ao seu lado e que te dê vontade de viver.

Sabe como é né? Cansei de escrever as mesmas coisas, e Jabour é Jabour! Alguma hora eu coloco um conto novo!


música Coldplay - The hardest Part

publicado por Juliana Correia às 16:12 | link do post | comentar | ver comentários (5) | favorito

Terça-feira, 20 de Março de 2007
"-Ué, que nome é esse do seu blog Ju?
- Ah gente, é o nome da melhor música de Los Hermanos..a mais bonita, a mais triste..
- Jura? Nunca ouvi falar."
Então,aqui vai a música. (que tem o mesmo clima "melancólico" do blog!)
 
   CONVERSA DE BOTAS BATIDAS - LOS HERMANOS
 
"- Veja você onde é que o barco foi desaguar
- A gente só queria um amor
- Deus parece às vezes se esquecer
- Ai, não fala isso por favor
Esse é so o começo do fim da nossa vida
Deixa chegar o sonho
Prepara uma avenida
Que a gente vai passar

- Veja você, quando é que tudo foi desabar
- A gente corre pra se esconder
E se amar se amar até o fim
Sem saber que o fim já vai chegar

Refrão
Deixa o moço bater 
Que eu cansei da nossa fuga
Já não vejo motivos
Pra um amor de tantas rugas
Não ter o seu lugar

Abre a janela agora
Deixa que o sol te veja
É só lembrar que o amor é tão maior
Que estamos sós no céu
Abre as cortinas pra mim
Que eu não me escondo de ninguém
O amor já desvendou nosso lugar
E agora está de bem

Refrão

Diz quem é maior
Que o amor
Me abraça forte agora
Que é chegada a nossa hora
Vem vamos além
Vão dizer
Que a vida é passageira
Sem notar que a nossa estrela
Vai cair"


publicado por Juliana Correia às 16:48 | link do post | comentar | ver comentários (2) | favorito

Segunda-feira, 19 de Março de 2007

Salvador, 20/11/2002

Cara Ana,

É com sincero pesar que venho lhe dizer que eu sei de tudo. Que eu sempre soube, desde que você nasceu. Sim, eu sabia que seu pai ia falecer quando você fizesse quinze anos. Eu sabia que você não ia passar de primeira no vestibular. Desculpe não ter te avisado, eu não podia. E sim, eu tinha plena consciência que você estaria em frangalhos agora. Bem agora. Eu sempre soube, desde que ele chegou, que ele ia embora daquele jeito calhorda. Daquele jeito que você nunca esperou. Sei que agora os dias parecem tristes, frios e sem cor. Sei também que você anda se escondendo do mundo. Trocou as batinhas decotadas e alegres pelas camisetas, num misto de penitência e vergonha, como se doesse achar quem lhe admire- e saber que não é ele. Vi também as noites que você passou em claro, chorando, vomitando, se torturando, se culpando, se perguntando porque, como, aonde você errou. Posso garantir que enquanto você fazia isso, ele dançava e cantava nos ensaios de verão – acompanhado. Eu sabia que tudo seria assim. E nem assim tentei lhe impedir. Você precisava viver isso, viver um amor, viver a dor de perder um amor. Fui eu que escrevi assim. Mas tenha paciência, sabe Ana? Hoje os dias são escuros e você não tem fé ou vontade de levantar da cama, mas eu vejo (literalmente) o amanhã e sei que vai ser melhor. Lembre das dores e perdas pelas quais você já passou. Teve aquele cachorro quando você tinha cinco anos, teve aquela amiga que te roubou um namorado na sétima série, teve a partida do seu pai e a perda do vestibular. Você sabe que é mais forte. Mais forte que ele, que esconde os sentimentos atrás de uma máscara de força. Siga em frente, você tem amigas, família, valores. Aqui entre nós, ele nem era tudo isso. Você vai conseguir coisa melhor. Abra os olhos. Eu sei. Você merece. Não esqueça de aprender com os erros, para não repeti-los. Não deixe de ser humilde e verdadeira – nunca se traia, é sempre a pior traição. O sol vai brilhar e você vai ver, em qualquer esquina dessas você reencontra a felicidade! Eu sei.

 Atenciosamente,

 (seu) Destino.



publicado por Juliana Correia às 16:19 | link do post | comentar | ver comentários (4) | favorito

O que fazer com o vazio que ficou? De você que não ficou..
Coisas que vivemos juntos, agora jogadas ao vento
Em meio as nossas cartas, me perco sem alento
Tentando te achar no meio das lembranças.

A solidão é apenas algo que nos define...
Um retrato cinza do que fizemos com o nosso amor
Transformando o nosso sentimento
Em uma memória da felicidade que vivemos um dia.

Deitado em nossa cama, imaginando...
O que poderiamos ter sido, que caminho poderíamos ter tomado.
Eu nunca soube o que era... estar sozinho
E agora eu sei, que era tudo que eu não queria.

Eu levanto. Diviso a aurora. O que farei com meus planos e sonhos?
Tentar reerguer aquilo que tentamos construir.
Mas agora, sozinho, quero perceber uma chance no futuro.
Uma chance de poder encontrar a vida novamente.

O amor ainda está aqui, e não sei se quero deixá-lo ir.
Ainda posso te sentir no vento.
Eu rezo baixinho, pedindo que o nosso reencontro seja logo e que estejamos prontos.
Para nos amarmos e sermos felizes, nem que seja pela última vez.

.


Juliana Correia e Vinícius Silva

(A gente fez de brincadeira no msn né, mas enfim..ficou legal! Vini, sabe que admiro pra caaaaramba o talento que você tem né? =****)

 



publicado por Juliana Correia às 01:24 | link do post | comentar | ver comentários (3) | favorito

Sexta-feira, 16 de Março de 2007

"Você vai ser papai". Quatro meses atrás, Sandra achava que esta era a pior coisa que ela poderia dizer a Hugo. Como dizer a um jovem namorado, baterista de banda e cheio de sonhos, que ele teria que arcar com aquele pequeno bebê? Seu amor por Hugo era protetor, ela o via como um menino precisando de colo, carregaria o mundo nas costas para não precisar vê-lo submetido a fardos. Típico amor de mulher, típico amor de mãe. Ela chorara várias noites, sentiindo antônimos entre si - um amor enraizado enlaçando-se no ventre e um medo enorme da aparente reação alheia.

Em um ímpeto de coragem, deitada com ele na grama do jardim, descobrindo desenhos nas nuvens, ela lhe disse a tão temida frase. Entre lágrimas, soluços e bruscos silêncios. "Você vai ser papai, Hugo." Corria em suas veias o medo. E se ele sugerisse um aborto? Ela não estava disposta. E se ele fosse embora? Ela o amava. E se gritasse com ela? Mania típica dos homens. Hugo a surpreendera. Não com sorrisos doces ou palavras de amor e apoio, mas sim com o silêncio surpreendente de quem vive a alma alheia, conhecendo-lhe os segredos e as dores. Aquela dor - do aborto - ele não apoiava. Seguiram aos tropeços o caminho das descobertas ("olha, chutou!"), das confissões ("mãe, estou grávida"), dos medos ("será que está tudo bem com o neném?"), das alegrias ("é um menino!"), dos preconceitos ("olha, tão jovens...") e das mudanças. ("você já olhou meu corpo no espelho, Hugo?"). Agora, sentada no cemitério, ela revivia a dor e a delícia de cada momento. Já havia chorado muito, questionado Deus e amaldiçoado o mundo - porque aquilo estava acontecendo com ela? Porque depois de enfrentar tantos olhares de censura, de romper a relação com seu pai, passar noites em claro - ora deleitando-se com o crescer da barriga, deslizando e imaginando o rosto de seu filho, ora enjoada e triste, se sentindo sozinha em um mundo muito grande, aquilo estava acontecendo? Para quê, meu Deus, esperar por um João que vagava inerte e falecido? Para quê optar sempre pela vida e continuar tendo a morte imposta? Acariciava a barriga e sabia que ali havia tudo e ninguém. Morto. Seu filho, seu amor, morto. Dentro dela. Matando-lhe assim também as crenças, a fé e a coragem em tudo de bonito. Como compartilhar aquela dor que ninguém entenderia? Como poderiam imaginar? Ela era uma mulher, uma mãe, dezoito anos, que enterrava seu bebê. Ali, naquela lápice, naquele fim de tarde, ela entendeu que jamais seria a mesma. Estaria nela, eternamente, mais do que a morte e a dor, mas a desilusão do não acreditar. A perda de um amor que nem nasceu ia para sempre queimar-lhe o peito. "Você não vai ser papai, Hugo". Como dizer a um jovem pai, baterista de uma banda e cheio de sonhos, que seu filho não nasceria?

 

 

 

(é, algum dia eu acabo pegando o jeito com os contos...)



publicado por Juliana Correia às 03:37 | link do post | comentar | ver comentários (2) | favorito

Terça-feira, 13 de Março de 2007

Todo mundo, sem exceção, quer ser amado. Não um amor qualquer. Aquele amor de shakespeare, amor carinhoso, que protege nas horas dificies, que transofma o "tédio em melodia", que dá beijos em público com direito a cara de apaixonado, que tem desejo interminável - em todos os desdobramentos do sentido, que admire, que respeite, que compreenda, que estimule, que surpreenda, que seja eternamente fofo. Mas quem quer se doar a isso? Pouquissímas são as pessoas que admitem que erram e tentam mudar, que conhecem a dignidade do perdão, que abririam mão de noites de farra, esbórnia, amigos e bebida por causa de um(a) namorado(a) doente, de um(a) namorado(a) triste, de um(a) namorado(a) carente, que dariam todo o amor sem esperar nada em troca, nem um obrigada, nem um beijo, nem uma declaração, fazer apenas pelo sorriso do outro.

Felizmente me parece que o amor romântico como era proposto ficou para trás. Chega, chega de promessas impossíveis, de sacrifícios forçados, de ideais corrompidos tentando ser o que não se é, mas o que o outro anseia. Todo mundo quer ser amado - mas todo mundo quer ser livre. Todo mundo quer colo nas horas de angústia, aquela certeza de ter quem ouça sem julgar, que entenda e apoie de graça - mas todo mundo quer um barzinho com os amigos, um futebol no domingo, um tempo cuca-fresca para colocar a PRÓPRIA vida no lugar. Amor não é servidão. Não é prisão. Por mais que se diga que não, é sempre escolha. A escolha de abrir mão de algo em razão de outra coisa que acredita-se valer mais.

Não adianta cobrar, remoer, repassar - ninguém quer ser surpreendido mas ninguém domina o sentimento de ninguém. Ninguém pode fazer isso, por mais que tente cercar de todos os lados. Certamente a felicidade seria maior se ao invés de com cobranças e paranóis, o tempo fosse ocupado entre silêncios cúmplices e presenças sensíveis.

Alguém vai propor que isso é fácil? Nunca. Existe a exigência de vontade de dar certo, de experiências passadas que trouxeram vivência, compreensão, mudança e tolerância - consigo, com o outro, com o mundo. Ninguém escapa da decepção, da dor, do sofrimento. A questão é: alguém quer escapar de viver, de sentir, de acreditar? A mesma cara que se dá ao tapa, pode ganhar, de supetão, um beijo. E a esperança segue sendo a última que morre. (Poruqe renasce, ressurge, bailando como as borboletas do estômago, com o brilhinho dos olhos..quando a gente menos espera! Mas isso já são outras histórias....)


música Do you ever really loved a womam? (vale a pena escutar...)

publicado por Juliana Correia às 20:23 | link do post | comentar | ver comentários (2) | favorito

Segunda-feira, 12 de Março de 2007
Paloma olhou o apartamento. Em outro tempo ali viveram tantos sonhos – que ela julgava eternos – mas agora era só um apartamento vazio. Cada canto contava uma história de amor, mas naquele dia os cantos não diziam nada. Ela fixou o olhar num pedaço de papel de parede descascado pela infiltração e lembrou dele. Eles também tinham descascado. Se conheceram numa boate, ele amigo da amiga dela, lindo, perfumado, charmoso. Chegou nela com um sorriso e dançaram até cansar. O coração palpitava a cada olhar cruzado, cada palavra sussurada. Era ele, ela sabia. Dois meses depois estavam namorando. Gostam de futebol, vinho, jazz, Pablo Neruda e cinema europeu. Eram como uma engrenagem que ao se tocar funcionava perfeitamente. Seis meses atrás, ela pisara no apartamento pela primeira vez. Fizeram amor no balcão da cozinha. Penduraram uma placa de “bem-vindo ao lar” na porta. Escolheram o papel de parede juntos. Naquela sala receberam os amigos, fizeram founde, dançaram bolero. Até que naquela cama ficou faltando ele, que já não parava mais em casa. Ele alegava muito trabalho no fórum, ela questionava que trabalho duraria até dez da noite. Foi a primeira rachadura na parede. Mas ele não estava lá para consertar. A vida foi correndo e os risos não eram mais ouvidos no apartamento. O vinho de antes, era agora copo quebrado no chão. Ela, como fotógrafa que era, o avisou que ia viajar. Dessa vez, ele não a rodopiou no ar, nem a carregou até a cama numa chuva de beijos. Apenas assentiu, cabisbaixo. No domingo, ao chegar antes do previsto em casa, ela sorriu para a plaquinha, disposta a fazer dali um lar novamente. Girou a chave e viu. Viu aquilo que nenhuma mulher que ver. Um emaranhado de corpos nus e suados no sofá-cama. Seu filme francês favorito passando no dvd. Sua cabeça rodava, as coisas tremiam nas suas mãos. Seu homem, sua casa, seus sonhos – outra mulher. Eles levantaram apressados, num misto de surpresa e medo. Ele, se vestindo, falava coisas que ela nem ouvia mais. Ela entrou no quarto e trancou a porta. Chorou colocando as coisas dele na mala, chorou rasgando as fotos,chorou enterrando suas crenças. Ao sair com a mala dele, o encontrou chorando no sofá. Só havia silêncio. Ambos sabiam que não havia volta ou perdão, alguém havia se infiltrado entre eles, e ainda escorria nos dois corações. Depois, ele tentou voltar. Ela não quis. Foi despertada da lembrança pela campainha da porta. Era o corretor de imóveis com um casal jovem e sorridente. Ela deu um sorriso amargo, retirou a placa da porta e foi embora sem olhar pra trás. E esse é meu primeiro conto :)


publicado por Juliana Correia às 15:55 | link do post | comentar | ver comentários (3) | favorito

Sexta-feira, 9 de Março de 2007

Eu devia ter tatuado enormemente "ainda é cedo pra me envolver com qualquer pessoa, de qualquer forma."

Desmemória é dano patológico.



publicado por Juliana Correia às 21:51 | link do post | comentar | favorito

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