Sentada numa mesa em uma cafeteria confortável e meiga, acompanhada de sua melhor amiga, Rita bebericava um chocolate quente com chantily e ouvia Alice, sua amiga escritora, contar as coisas da vida.
"Ah Ritinha, eu estou tão cansada sabe? Parece que o mundo se perdeu, entrou pelo ralo num redeimoinho indissóluvel sabe? Não é só lágrima e soluço. É a maldição da tristeza. As pessoas definham, engordam, explodem e tudo por conta dos sentimentos ocultos, da alma. E você acha que alguém vê? Que alguém se importa o mínimo que seja? Cada dia que passa a gente encontra menos almas para compartilhar os segredos da nossa, me entende? Eu, que escrevo para as mulheres solitárias, recebo sempre várias cartas contando lamúrias, é muito mais terrível...quando você não tem em quem acreditar. Estou sendo prolixa querida? Você sabe como eu sou quando falo dessas coisas..começo em um assunto e quando vejo, já fui parar em outro..e aí, de repente me vejo.."
Alice continuava falando. Mas Rita já não estava atenta. Ela pensava sobre quanto tempo ela passava na ioga, meditando, esvaziando a mente em busca de paz interior e contrapunha isso ao que a amiga falava incansavelmente: O ensaio da humanidade é o ensaio do egoísmo.( e a sua propria busca unicamente pela sua paz, era uma prova disso! E a paz alheia?)
As pessoas, quase todas, juravam coisas aleatórias, entupindo a todos de mentiras. Das mais infantis com coisas banais, do tipo "vou estar lá" e estar em outro lugar, até as mais profundas. Mas para ela, por experiência própria havia uma mentira imperdóavel: A mentira dos sentimentos. Aquela que era a prova maior de um ensaio sobre o egoísmo! Seja lá quem for, que diz que te ama e vai ficar para sempre, um amigo, um namorado, um padrasto, um avô, um vizinho..deveria pensar muito antes de quebrar este laço! Porque é como se levasse um braço quando vai embora, deixando lá exposto a falta do que já foi, da fé, da confiança de que tudo pode dar certo. Porque, como já dizia uma outra amiga sua, os sentimentos são o que nos move - e se eles nos falham, nos movemos tortos pelo mundo, meio sem fé, meio inflados de infelicidade, meio babacas sem rumo.
Ela lia os livros da amiga, ela ouvia as histórias das estágiarias do trabalho, dos amigos da academia, de todos os lados. Era tanta falsidade, que gerava tanta ilusão...
Ela então bruscamente interrompeu Alice, que ficou pasma. Rita era sempre tão calada! Viva tão absorta em seus próprios pensamentos.
- Ai Lica, simplesmente, se a nossa bússola apontasse os caminhos...mas as pessoas são assim, imprevísiveis, medrosas e instáveis- e esquecem de admitir isso. O que hoje nos convém, amanhã pode apenas lembrar o que queremos esquecer, o que hoje para nós é tudo, amanhã pode querer e cair melhor apenas na memória. Não acho justo o mundo das mentiras. Por isso não faço promessas eternas, e não acredito em quem as faz. Não acho just fazer quem te fez feliz, infeliz, num misto de vingança e safadeza. Mas você sabe, sou budista. E acredito nas oito leis...existe, inclusive, uma monja muito interessante, a monja Cohen, que propõe que estar desiludido é bom, porque significa que quebramos a ilusão e estamos livres do mundo imaginário que habitávamos. Em chinês, o mesmo símbolo de crise representa também a oportunidade. Será que não pode ser uma questão de ótica? Vamos brindar, aos que sabem enxergar sempre o caminho do meio, que sabem que prometer o que não vai se cumprir e buscam não machucar ninguém com seus tropeços? Mesmo que sejam raros, tem de ser comemorados! E vamos comemorar também aos amigos, que acolhem, ouvem, ouvem de novo e sentem o nosso queimor no fogo deles. Sem eles, já não haveríamos mais. Já teríamos desistido. De tudo. Pelos outros, que tentam nos fazer "meio-sonho" despejados a toa..sem sentido! Vamos?
E brindaram.
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